A vida após “Adão Negro”: O novo plano da DC no cinema é não ter um plano – 20/10/2022 – Zonatti Apps

A vida após “Adão Negro”: O novo plano da DC no cinema é não ter um plano – 20/10/2022

O acontecimento mais espalhafatoso da DC nessa temporada certamente é a estreia de “Adão Negro”, com Dwayne Johnson tomando as rédeas de um canto desse universo de super-heróis no cinema. Não é, contudo, o evento mais importante.

Nos corredores da Warner, o produtor Walter Hamada discretamente esvazia seu escritório, entregando as chaves do reino e encerrando sua passagem como guia do universo DC no cinema. De “Aquaman” ao próprio “Adão Negro”, o executivo tentou conferir alguma unidade ao super-heróis do estúdio. Merece aplausos.

Hamada entrou em cena em 2018, basicamente como faxineiro depois do desastre comercial de criativo de “Liga da Justiça”. Como chefe da DC no cinema, contudo, ele viu seu poder esvaziado com as mudanças corporativas na empresa após sua aquisição pela Discovery. O engavetamento de “Batgirl” sem nenhuma consulta prévia foi o último prego no caixão.

‘O Homem de Aço’, com Henry Cavill, pode finalmente ganhar uma continuação

Imagem: Warner

O vácuo no poder abriu espaço para um jogo de cena que tem agitado Hollywood. A ideia óbvia era buscar um executivo que pudesse fazer com as propriedades intelectuais da DC o mesmo que Kevin Feige fez com a Marvel: traçar um plano, definir prioridades e escolher as equipes para tocar cada projeto, supervisionando a gestação de um universo unificado.

Essa procura mostrou-se infrutífera quando o produtor Dan Lin, escolhido a dedo pelo presidente da Warner Bros. Discovery, David Zaslav, decidiu não aceitar o trampo. Sem uma cabeça, o universo DC, composto por alguns dos personagens mais conhecidos do planeta, foi fatiado em um punhado de feudos. Trocando em miúdos, cada líder toca seu pedaço como achar melhor.

Um deles obviamente é Dwayne Johnson. “Adão Negro”, projeto há quinze anos em desenvolvimento, recuperou diversos elementos dos filmes orquestrados por Zack Snyder. Além de trazer Viola Davis de volta como Amanda Waller, “chefe” desse balaio de supers, o filme deixa claro que seu próximo capítulo trará o anti-herói interpretado por Johnson batendo cabeça com um certo homem de aço.

A volta de Henry Cavill como Superman é um “segredo” tão mal guardado que o próprio Johnson não fez questão de esconder sua presença em toda entrevista que deu. Ele quer Adão Negro enfrentando o Superman. O que The Rock quer, The Rock consegue.

Essa volta do snyderverso, bizarramente sem o próprio Zack Snyder, terá o Superman como estrela principal. David Zaslav foi um dos defensores fervorosos da volta de Cavill como o herói, e o projeto que seria basicamente um “O Homem de Aço 2” está nas mãos do produtor Charles Roven, atualmente em busca de um roteirista para desenhar a história.

O retorno praticamente confirmado de Henry Cavill ao jogo desacelerou, mas não inviabilizou, outros projetos envolvendo o herói. J.J. Abrams ainda está sob contrato para produzir o roteiro assinado por Ta-Nehisi Coates, que apresentaria um Superman negro no cinema. Mas esse filme seria ambientado fora da cronologia mais ou menos estabelecida nos últimos anos, correndo por fora como “Coringa” ou o novo “Batman”.

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Robert Pattinson em ‘Batman’

Imagem: Warner

Nesse canto do universo DC as coisas começam a ficar interessantes. Todd Philips está preparando seu “Joker: Folie à Deux”, que terá Joaquin Phoenix reprisando o papel do Coringa e Lady Gaga como uma personagem ainda indefinida – provavelmente uma outra versão da Arlequina. A estreia em outubro de 2024 está cravada.

Ainda em Gotham City, Matt Reeves lentamente vai traçando a continuação de “Batman”, que rendeu US$ 771 milhões com Robert Pattinson como o Homem-Morcego. Como ninguém se contenta mais com um único filme, Reeves quer um universo (!) de filmes com batvilões consagrados, como o Espantalho e o Cara de Barro.

Além disso, Colin Farrell se prepara para usar mais uma vez a maquiagem que o transforma no Pinguim para uma série em streaming concentrada em seu personagem. Outra série, com foco no departamento de polícia de Gotham, segue em desenvolvimento. Nenhum desses projetos, porém, dialoga com “Adão Negro”, Henry Cavill ou o universo estendido da DC.

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James Gunn com Margot Robbie no set de ‘O Esquadrão Suicida’

Imagem: Warner

O clima de conquista do Oeste não para aí. James Gunn deve voltar para a DC, onde ele fez “O Esquadrão Suicida” e a série “Pacificador”, assim que cumprir suas obrigações com “Guardiões da Galáxia Vol. 3”. O projeto (ou projetos) que ele assumiria ainda é incerto.

Quando conversamos durante o lançamento de “O Esquadrão Suicida” ano passado, Gunn mostrou interesse pelo humor satírico da série em quadrinhos “Liga da Justiça Internacional”. Por outro lado, “O Homem de Aço 2” poderia usar sua mistura de ação e leveza – o Superman precisa ser a luz em um universo que já lida com a escuridão do Batman.

O agito na DC continua. Patty Jenkins deve estregar o primeiro roteiro de “Mulher-Maravilha 3” ainda este ano. O estúdio também tem na manga um script prontinho para uma continuação de “The Flash” – caso o filme funcione e caso seu astro Ezra Miller, não esteja na cadeia quando chegar a hora. Na agulha para 2023 também estão “Shazam! Fúrias dos Deuses” |(agendado para março), “Besouro Azul” (agosto) e “Aquaman e o Reino Perdido” (dezembro).

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‘The Flash’ estreia em junho de 2023… assim esperamos

Imagem: Warner

É curioso que, mesmo depois de expressar seu desejo de seguir a fórmula de universo conectado da Marvel, David Zaslav esteja fazendo exatamente o contrário. Não é uma estratégia ruim. Nos quadrinhos da própria DC a cronologia tradicional divide espaço nas bancas com histórias isoladas, criadas por artistas que querem trabalhar sem a amarra de décadas de continuidade estabelecida.

Dwayne Johnson já deixou claro seu desejo em ajudar, em ser um conselheiro. Fã de gibis da DC, ele está disposto a usar seu poder considerável em Hollywood para atrair mais pessoas de talento, na frente e atrás das câmeras, para desenhar os melhores filmes, mesmo que eles não façam parte do mesmo universo.

Nos corredores da divisão cinematográfica da DC, manter esse norte é tarefa difícil, como Walter Hamada pode atestar. Ao menos agora os super-heróis parecem estar nas mãos de quem os admira e os entende. Não corremos o risco, pelo menos até segunda ordem, de ver no cinema um projeto que transformava Jack Black em um Lanterna Verde engraçadinho, vendido pelos executivos como “o Máskara, só que com um anel”. Queria estar brincando. Não estou.

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