Há uma longa lista de produtos que empresas e influenciadores afirmam proporcionar perda de peso rápida e drástica, assim como o Ozempic. De gomas cheias de extrato de frutas, chás verdes e até mesmo potes de aveia e arroz embebidos em água de limão, a novidade da vez vem em formato de pílula e foi lançada pela Lemme, empresa de suplementos de Kourtney Kardashian.
Truques para perda de peso existem há décadas. Mas eles ganharam vida nova na era Ozempic, perseguindo o sucesso de medicamentos e prometendo alternativas “naturais” ou “sem efeitos colaterais”.
Essas imitações do Ozempic, como são chamadas online, agora são “um centavo a dúzia”, diz Joe Schwarcz, diretor do Escritório de Ciência e Sociedade da Universidade McGill, no Canadá.
Mas ele e outros especialistas dizem ainda que não há evidências que sugiram que qualquer um desses produtos possa igualar, ou mesmo chegar perto disso, dos resultados que os pacientes obtêm por meio de medicamentos prescritos para perda de peso.
“Eles pegam pequenas informações científicas e as exageram”, afirma McGill.
O Ozempic se tornou tão popular que boa parte do público agora está muito mais familiarizado com a linguagem científica da perda de peso, e muitos desses produtos capitalizaram isso.
Eles usam frases como “saúde metabólica” e “esvaziamento gástrico” e frequentemente mencionam GLP-1, o hormônio intestinal que ajuda você a se sentir satisfeito e que medicamentos como Ozempic simulam para suprimir o apetite. O novo suplemento da Lemme é chamado GLP-1 Daily, e seu site explica como funciona no corpo.
“Eu não sabia o que era GLP-1 até, tipo, o terceiro ano da faculdade de medicina”, diz Scott Hagan, professor assistente de medicina na Universidade de Washington que estuda obesidade. Usar esse tipo de linguagem técnica, normalmente reservada para médicos e fabricantes de medicamentos, pode dar a esses produtos um “brilho de ciência”, afirma Adrienne Bitar, palestrante em estudos americanos na Universidade Cornell que é autora de um livro sobre cultura da dieta.
“Eles estão comercializando uma cápsula como se fosse um medicamento prescrito que foi bem estudado e é bem regulado”, explica Bitar. Ela observou que os comentários nas postagens do Instagram da Lemme anunciando sua linha GLP-1 já estavam cheios de perguntas sobre se as pessoas poderiam mudar de um medicamento de marca para os suplementos.
Em seu site, a Lemme aponta quatro estudos que sugerem que alguns de seus ingredientes, incluindo vários extratos de plantas, podem aumentar os níveis de GLP-1, suprimir desejos e levar a uma pequena perda de peso. Mas especialistas alertaram que esses testes são muito pequenos e só olham para ingredientes individuais, não para as pílulas em si. “Eles não são estudos confiáveis”, diz Pieter Cohen, professor associado da Harvard Medical School que estuda suplementos.
Mesmo que as pílulas promovam a produção de GLP-1, isso por si só não significa necessariamente uma perda de peso significativa ou sustentada —afinal, comer também estimula o hormônio.
Cohen afirma que nenhum suplemento atualmente no mercado pode levar a uma perda de peso significativa. “Simplesmente não existe”, completa. “Se existisse, se também fosse seguro, seria amplamente usado e comprado.”
Os médicos dizem que temem que esses suplementos encontrem um grande público, principalmente entre aqueles que não podem acessar ou pagar pelos medicamentos de marca, que podem custar cerca de US$ 1.000 (cerca de R$ 5.400) por mês sem seguro.
“Tenho certeza de que agora meus pacientes virão e dirão: ‘Estou no estilo Kardashian'”, diz Melanie Jay, diretora do Programa Abrangente sobre Obesidade Langone da Universidade de Nova York.
Isso preocupa os especialistas por várias razões. A FDA (Food and Drug Administration) não verifica se os suplementos são seguros ou eficazes antes de chegarem ao mercado, diz Cohen. Isso significa que os consumidores não têm garantia de que qualquer pílula que tomem funcione ou que ela contenha o que é anunciado no rótulo, o que muitos pacientes podem não perceber que é um risco.
E esses produtos podem ser caros: um suprimento mensal de cápsulas de GLP-1 da Lemme está atualmente à venda por US$ 72, cerca de R$ 390.
“Você quer acreditar que as coisas são fáceis e vão ajudar, e, ei, talvez elas não façam mal”, afirma Jay. “Mas faz mal se você vive de salário em salário, e agora está gastando US$ 70 por mês.”
Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.