“Triângulo da Tristeza” é um drama dirigido e roteirizado por Ruben Östlund. A história aborda diversos temas de grande relevância para a sociedade em uma narrativa aleatória sobre superficialidade. Com teor político dramático, a trama apresenta figuras específicas em um cruzeiro de luxo.
O enredo inicia com o casal Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), inseridos no mundo da moda eles precisam driblar os preceitos existentes para viver um verdadeiro romance. A forma não convencional de suas vidas, os leva para um cruzeiro de luxo, em que os acontecimentos começam a provar os valores de justiça e privilégios de cada integrante presente ali.
O longa de 2022 foi um grande marco na indústria cinematográfica, por ter ganhado o Prêmio Palma de Ouro no Festival Cannes. Por consequência disso, a obra foi indicada em três categorias no Oscar de 2023: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original.
Ao ver um título sendo notado dessa forma pela Academia de Cinema, espera-se que ele seja excelente em sua execução. E de fato, o longa conquista grandes reflexões e uma perspectiva misteriosa, que dificilmente entrega suas principais percepções de cara. A história leva o telespectador a pensar profundamente sobre as críticas feitas intrinsecamente.
Dividido em três principais atos com planos diferentes, os fatores se explicam ao longo dos acontecimentos, mas ao mesmo tempo deixam um grande questionamento. Essa didática do roteiro consegue levar uma atenção redobrada do público na história, que ao mesmo tempo se choca com os momentos de tensão. Esse é um dos fatores positivos do filme, que consegue exercer um bom destaque nas quase duas horas e meia de tempo na tela.
A direção do filme se dá de forma impecável e de fato, explica a tamanha repercussão da produção. No entanto, ao olhar detalhadamente para alguns temas como desigualdade social e feminismo, percebe-se que o longa apresenta de forma batida tais discussões sociais. Isso porque existe uma dualidade entre momentos muito bons e diretamente alguns muito forçados.
Por exemplo, da mesma forma que o longa exala uma grande crítica sem escancarar os elementos e os agentes sociais, ele segue com algumas cenas clichês, como representações do machismo ou longas cenas de um casal que não está conversando por alguém estar no celular. De forma batida, o longa mostra a superficialidade da crítica de influencers digitais e os privilégios vindo deles. Pela proposta mais cult, esperava-se que nesse ponto o longa conseguisse manter o teor das outras críticas.
A crítica política é a mais satisfatória em “Triângulo da Tristeza”
Com tantas informações contidas em cada ato, a obra pode ser interpretada de diversas maneiras e há muitas considerações que podem ser recortadas ao olhar o filme como um todo. Com uma dinâmica forte sobre política, percebe-se que a crítica é enraizada e mostrada da teoria até a prática. Há um momento específico em que frases de pensadores conhecidos, revelam o início de uma inserção do pensamento capitalista e socialista em conflito.
O navio de luxo contém pessoas ricas que falam abertamente sobre seus apreços sobre o socialismo, mesmo fomentando fortemente o sistema capitalista. E dessa forma o filme se dá com um desfecho em que os bens materiais não possuem mais importância alguma. Eles conseguem trazer a prática da discussão teórica que é vista em algumas cenas do longa. Isso porque em uma ilha deserta, em que a sobrevivência é a maior moeda de troca, os personagens se veem distante da civilização ou da importância de seus bens e precisam lutar com novos ideais.
O papel das figuras na sociedade são questionados através de certas inversões de poder. Em um ambiente propício para uma história de romance policial de Agatha Chrsitie, Ruben Östlund constrói um enredo dramático, crítico e misterioso. Só que em vez de desvendar um assassinato, o filme revela os pequenos crimes que vão destruindo a sociedade aos poucos.
“Triângulo da Tristeza” tem o seu charme em levar o telespectador em um mix de sensações, dentre elas um horror, nojo, indignação e certas risadas. Com a construção de uma boa história, o longa é bem satisfatório ao se adequar a sua proposta original, expressa uma crítica saudável sobre a tristeza da superficialidade, mas reforça alguns estigmas batidos que se esperaria de um simples blockbuster.