Quem é o homem que reimagina os clássicos da Disney e transforma animação em live-action – Entretenimento – Zonatti Apps

Quem é o homem que reimagina os clássicos da Disney e transforma animação em live-action – Entretenimento




Há mais de uma década, Sean Bailey dirige a fábrica de “reimaginação” dos filmes de animação dos estúdios Disney com eficiência silenciosa e resultados dignos de um super-herói. Seu live-action Aladdin arrecadou US$ 1,1 bilhão nas bilheterias, enquanto o fotorrealista O Rei Leão faturou US$ 1,7 bilhão e o live-action de A Bela e a Fera, US$ 1,3 bilhão.





A Disney gosta do resultado. Também vê a operação de Bailey como crucial para permanecer relevante. Os clássicos de animação do estúdio são muito apreciados pelos fãs, mas a maioria apresenta ideias de outra época, especialmente no que se refere a papéis de gênero: sejam bonitas, meninas, e as coisas podem dar certo.


As reimaginações, como Bailey se refere a seus remakes, encontram maneiras de tornar as histórias da Disney menos retrógradas. Suas heroínas são empoderadas e seu elenco enfatiza a diversidade.


O live-action de Branca de Neve, com lançamento previsto para o ano que vem, é protagonizado pela atriz latina Rachel Zegler como a princesa conhecida como “a mais bela de todas”. Yara Shahidi interpretou a Sininho no recente Peter Pan e Wendy, tornando-se a primeira mulher negra a interpretar a personagem na tela. “Queremos refletir o mundo como ele é”, disse Bailey.


Mas essa visão de mundo – e estratégia empresarial – tem colocado cada vez mais a Disney e Bailey, executivo discreto e modesto, no meio de uma briga cultural barulhenta e pouco polida. Para cada pessoa que aplaude a empresa, parece haver uma contraparte que se queixa de ser forçada a aceitar a “wokeness” (a atitude de estar alerta ao preconceito e à discriminação racial).


Muitas empresas se veem nessa situação – Target, Anheuser-Busch, Nike –, mas a Disney, que tem um impacto poderoso sobre as crianças, pois estão formando suas crenças de vida, tem sido desafiada de forma única. Neste momento político extremamente divisivo, ambos os lados procuram ter a Disney como aliada, e os filmes de Bailey funcionam como exemplos principais.





Consideremos o remake de A Pequena Sereia, que chegou aos cinemas há duas semanas e custou cerca de US$ 375 milhões em produção e comercialização. A nova versão eliminou as letras problemáticas do original de 1989 (“Sabe quem é a mais querida? / A garota retraída / E só as bem quietinhas vão casar!”).


Na maior mudança, Halle Bailey, que é negra, interpreta Ariel, a sereia. A Disney há muito tempo retrata a personagem como branca, inclusive em seus parques temáticos.


O apoio a Bailey, principalmente de pessoas negras e críticos cinematográficos, foi compensado por uma enxurrada de comentários racistas nas redes sociais e nos sites de fãs de cinema. Outros criticaram A Pequena Sereia por não reconhecer os horrores da escravidão no Caribe. Algumas pessoas LGBTQ criticaram a Disney por contratar um maquiador hétero para a vilã Úrsula, cujo visual na animação foi inspirado em uma drag queen.


A Disney há muito tempo considera esse tipo de polêmica nas redes sociais como tempestade em copo d’água: uma tendência hoje, substituída por uma nova queixa amanhã. Em 2017, por exemplo, um cinema no Alabama se recusou a exibir o live-action A Bela e a Fera porque continha uma cena de três segundos de dois homens dançando juntos. O caso virou notícia global. No fim das contas, a questão parece não ter tido nenhum impacto na venda de ingressos.


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O resultado? A Disney esperava que A Pequena Sereia gerasse até US$ 1 bilhão no mundo inteiro, com o furor se dissipando assim que o filme chegasse aos cinemas. As opiniões nas sessões de teste foram muito positivas, assim como as primeiras críticas. “Alan Menken acabou de me dizer que acha que esse filme é melhor do que a animação”, disse Robert Iger, CEO da Disney, na estreia do filme no mês passado, referindo-se ao compositor vencedor do Oscar.


Em vez disso, A Pequena Sereia chegará perto de US$ 600 milhões, segundo analistas de bilheteria na semana passada, em grande parte porque a produção não foi bem no exterior, onde foi atacada por trolls on-line, que inundaram sites de cinema com críticas racistas e notas baixas.





O filme teve um bom desempenho na América do Norte, superando Aladdin e recebendo nota A dos compradores de ingressos nas pesquisas pós-exibição do CinemaScore, embora o comparecimento de espectadores brancos tenha sido fraco em algumas partes dos Estados Unidos, de acordo com analistas. O apoio do público negro e latino tem compensado a perda.


Bailey se recusou a comentar as respostas racistas ao filme. “Embora o lançamento internacional tenha sido mais suave do que gostaríamos, o filme está indo excepcionalmente bem, o que acreditamos que nos prepara para uma longa exibição”, afirmou no fim de semana.


Bailey, de 53 anos, sobreviveu a fracassos de bilheteria muito piores, incluindo erros como O Cavaleiro Solitário. Quanto menos se falar de seu live-action Mulan, melhor. Mas a Disney sempre o apoiou. “Tive alguns grandes acertos e outros grandes fracassos. Sou grato à liderança da empresa, porque ela entende que isso é parte de qualquer negócio criativo.”


Bailey é presidente da Walt Disney Studios Motion Picture Production há 13 anos – uma eternidade em Hollywood, onde os líderes são frequentemente descartados a cada poucos anos. Durante esse tempo, a Disney foi abalada por demissões de executivos, vários esforços de reestruturação e mudanças nas estratégias de distribuição de filmes.


A mão firme de Bailey, que é popular entre as estrelas e seus agentes, ajudou a garantir estabilidade. “Ele é um cara legal, decente, respeitoso e justo, que faz seu trabalho tranquilamente, sem alarde. Mas isso não significa que seja passivo. Muito pelo contrário. Ele põe a mão na massa. Se um acordo não está funcionando, ele vai lá e encontra uma maneira de fazer funcionar”, disse Kevin Huvane, copresidente da Creative Artists Agency.


O próximo filme da divisão de Bailey, Mansão Mal-Assombrada, chega aos cinemas em 28 de julho e é estrelado por LaKeith Stanfield (indicado ao Oscar por Judas e o Messias Negro), Rosario Dawson, Owen Wilson e Tiffany Haddish.


Mansão Mal-Assombrada foi dirigido por Justin Simien, criador de Cara Gente Branca, e inspirado em um parque temático da Disney. “Senti que tínhamos a oportunidade de tentar criar um filme muito legal, apropriado para a Disney, para maiores de 13 anos, que tem alguns sustos reais, mas que também encanta e delicia”, contou Bailey.


Bailey, que assistiu a A Pequena Sereia 18 vezes durante o processo de produção da Disney, tem mais de 50 filmes em vários estágios de desenvolvimento e produção, incluindo versões live-action de Moana, Hércules e Lilo & Stitch.


E, sim, Abracadabra 3 está sendo feito. (Sua divisão produz dois ou três filmes com grande orçamento anualmente para lançamento nos cinemas e três com orçamento modesto para o canal Disney+).


Um dos senões a Bailey é o fato de não ter criado uma nova franquia; quase nenhuma de suas apostas em filmes originais foi para a frente. O drama Togo, feito para o Disney+ em 2019, foi um sucesso de crítica, mas não de público. Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada É Impossível, fantasia ambiciosa de 2015, falhou.


Os estúdios não podem reciclar infinitamente coisas antigas. Uma cópia de uma cópia de uma cópia acaba como uma página em branco. “É muito difícil garantir uma vitória original e extremamente comercial, mas vamos continuar tentando”, comentou ele.


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c. 2023 The New York Times Company

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