Eficiente, ainda que derivativo, o roteiro deste terceiro “O Protetor” é um alicerce sobre o qual Fuqua desenha o que é seu filme graficamente mais violento. “A violência conta uma história, que é a coisa que eu amo”, explica, direto de seu escritório em Los Angeles. “Então cada pedaço de ação violenta é para nós uma cena de diálogo. E normalmente eles são rápidos e brutais.”
“O Protetor: Capítulo Final” é também o quinto filme em que Fuqua conta com Denzel Washington à frente das câmeras – além da série com Robert McCall, eles trabalharam na refilmagem de “Sete Homens e Um Destino” e, antes disso, em “Dia de Treinamento”, que rendeu a seu astro o Oscar de melhor ator. “Naquele primeiro momento fizemos um acordo para sempre experimentar coisas novas”, recorda. “Nossa relação é de total respeito e confiança.”
No caso da trilogia “O Protetor”, é também questão de testar os limites. Na superfície os filmes são sobre vingança e justiça, mas Fuqua sempre estimulou seu protagonista a buscar algo mais profundo. “As cenas violentas estão te dizendo mais sobre McCall do que sobre os vilões”, teoriza. “Eu o vejo como uma pessoa boa consumida por um dilema moral com a violência.” O diretor procura não julgar o personagem: “A gente tem que manter a visão de que ele está fazendo o que acredita ser necessário”.
Essa área cinzenta era matéria-prima justamente de “Dia de Treinamento”. No drama de 2001, Denzel fazia o detetive veterano que passa 24 horas com outro policial, interpretado por Ethan Hawke, em avaliação para sua promoção. Ao longo do dia, o personagem de Washington revela sua face de corrupção e extrema violência, traços que ele acha essenciais para sobreviver na selva urbana – e que antecipam a brutalidade de seu fim.
“Acredito que ‘Dia de Treinamento’ equilibre a balança com ‘O Protetor'”, continua Fuqua. “Ambos trazem a fantasia e também a realidade feroz das coisas, retratando uma violência que não é 100 por cento real mas que também nos afeta.” Quando pergunto se seria mais difícil fazer “Dia de Treinamento” hoje, ele não hesita: “Não tenha dúvida. Porque hoje nós vimos policiais matando possoas em vídeo, e antes havia surpresa que um policial fosse tão diabólico”.