Os serviços globais de vacinação atingiram 4 milhões de crianças a mais, no ano passado, em comparação com 2021. Os dados foram publicados, nesta terça-feira, pela Organização Mundial da Saúde, OMS e pelo Fundo da ONU para Infância, Unicef.
O levantamento das agências da ONU aponta uma melhora na distribuição de doses à medida que os países intensificam esforços para enfrentar o retrocesso na imunização causado pela pandemia de Covid-19.
Recuperação da imunização
No ano passado, 20,5 milhões de crianças deixaram de receber uma ou mais vacinas de rotina, em comparação com 24,4 milhões de menores em 2021.
Apesar dessa melhora, o levantamento revela que o número permanece maior do que os 18,4 milhões de crianças sem ser vacinadas em 2019, antes da pandemia. O quadro aponta para a urgência de esforços contínuos de atualização, recuperação e fortalecimento do sistema.
Segundo as agências da ONU, a imunização contra difteria, tétano e coqueluche é utilizada como marcador global de cobertura vacinal.
Em 2022, entre 20,5 milhões de crianças que não puderam tomar uma ou mais doses de vacinas contra essas doenças, aproximadamente 14,3 milhões não receberam nenhum imunizante.
O número representa uma melhora em relação aos 18,1 milhões que não tiveram acesso às vacinas em 2021, mas permanece superior aos 12,9 milhões de crianças em 2019.
Desigualdade
OMS e Unicef afirmam que os estágios iniciais de recuperação da imunização global não ocorreram uniformes, com a melhora concentrada em poucos países.
O progresso em nações com mais recursos e grandes populações infantis, como Índia e Indonésia, mascara uma recuperação mais lenta ou mesmo declínios contínuos na maioria dos países de baixa renda, especialmente para a vacinação contra o sarampo.
Das 73 nações com quedas acentuadas de cobertura, durante a pandemia, 15 recuperaram os níveis pré-pandêmicos, 24 estão a caminho de se reerguer e, o mais preocupante, 34 estagnaram ou continuaram em declínio.
Para a OMS e o Unicef, os países precisam garantir a rapidez nos esforços de recuperação e fortalecimento para alcançar todas as crianças.
Sarampo
Outro ponto do estudo é a vacinação contra o sarampo, que não se recuperou tão bem como outras vacinas, colocando mais 35,2 milhões de crianças em risco de contrair a doença.
A cobertura da primeira dose subiu para 83% em 2022, de 81% em 2021, mas permaneceu abaixo dos 86% alcançados em 2019.
No ano passado, 21,9 milhões de crianças perderam a vacinação de rotina contra o sarampo no primeiro ano de vida, 2,7 milhões a mais do que em 2019.
Outros 13,3 milhões ficaram sem a segunda dose, colocando crianças em comunidades com baixa vacinação em risco de surtos.
Avanços regionais
Países com cobertura estável e sustentada nos anos anteriores à pandemia conseguiram estabilizar melhor os serviços.
O Sul da Ásia, que relatou aumentos graduais e contínuos na cobertura na década anterior à pandemia, demonstrou uma recuperação mais rápida e robusta do que regiões que sofreram quedas de longa data, como a América Latina e o Caribe.
A África, atrasada em sua recuperação, enfrenta um desafio extra. Com uma população infantil crescente, os países devem ampliar os serviços de imunização de rotina todos os anos para manter os níveis de cobertura.
HPV
A boa notícia é a cobertura vacinal contra o HPV, que pela primeira vez, superou os níveis pré-pandêmicos. Os programas de vacinação contra o vírus que começaram antes da pandemia atingiram o mesmo número de meninas em 2022 do que em 2019.
No entanto, a cobertura em 2019 não bateu a meta de 90%, o que se repetiu em 2022, com coberturas médias em programas de HPV atingindo 67% em países de alta renda e 55% em países de baixa e média renda.
Recomendações
No início deste ano, a OMS e o Unicef, com Gavi, a Fundação Bill & Melinda Gates e outros parceiros lançaram uma iniciativa pedindo aos governos que atuem para reverter a situação de crianças que perderam as vacinas na pandemia.
Para as entidades, as autoridades nacionais devem reforçar o compromisso de aumentar o financiamento para imunização e buscar mais recursos, incluindo fundos da Covid-19, restaurando serviços interrompidos e sobrecarregados e implementando esforços de recuperação.
Elas ainda recomendam novas políticas que levem os imunizantes às crianças nascidas pouco antes ou durante a pandemia e que já passaram da idade de receber a imunização de rotina.
Além disso, fortalecer os serviços de vacinação e atenção primária à saúde deve seguir sendo uma das prioridades. Outro ponto de atenção é manter a confiança e aceitação da vacina por meio do envolvimento com comunidades e profissionais de saúde.