Com mais de 400 mil seguidores no TikTok, a influencer Barbra Marcondes fidelizou um público que acompanha na sua rede os relatos de mulheres sobre homens com pênis muito grande ou muito pequeno. Ela as separou em dois grupos: “Tropa do arranca DIU” e “Tropa do Mindinho”, respectivamente.
Em um dos vídeos, Barbra lê o relato de uma “arranca DIU” contando que o pênis do parceiro era tão volumoso que ela pulou o basculante do banheiro para fugir da relação sexual. Em outro, uma seguidora diz que dormiu durante a relação com um “mindinho”, e o constrangimento pode ser o motivo que levou ele a bater o carro na saída do motel.
O tamanho médio do pênis varia de acordo com a população e fica entre 13 e 14 cm no Brasil, conforme dados da Sociedade Brasileira de Urologia. Mas, apesar das inúmeras discussões — e preocupações masculinas — sobre o tamanho peniano, ele não é o grande responsável pelo prazer na hora do sexo, segundo ginecologistas e sexólogos.
A questão é mais cultural do que biológica, diz o médico Eduardo Siqueira, membro da comissão especializada em sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
“O homem acredita que o tamanho do pênis está diretamente ligado às sensações de prazer que terá durante a relação sexual e tem uma ideia generalizada de que esse tamanho está relacionado a confiança e poder. A mulher vai acreditar que um pênis maior seria mais adequado para satisfazê-la. Mas há, na verdade, pouca relação entre tamanho de pênis e satisfação sexual”, diz Siqueira.
Anatomicamente, explica a ginecologista Nathalie Raibolt, a mulher tem o clitóris como principal fonte do prazer genital, que não precisa de penetração para ser estimulado. “A gente vê que algumas mulheres, na verdade, nem sentem tanto prazer com penetração. O que há é uma cultura focada no prazer masculino que fica se baseando no tamanho de pênis”, diz a especialista em sexualidade.
Segundo Raibolt, os estudos apontam em geral que mulheres hetero e bissexuais têm preferência por pênis medianos e não muito grandes. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Universidade do Novo México, publicado em 2015, mostrou que as mulheres preferem o pênis “ligeiramente acima da média”, com cerca de 16 centímetros.
Não existe, porém, um tamanho ideal para oferecer prazer às mulheres, dizem os especialistas. “O prazer sexual feminino é multifacetado e se percebe que vai muito além das expectativas que as pessoas têm de uma troca física naquele momento, vai entrar em dimensões psicológicas e até sociais”, diz Débora Britto, médica sexóloga da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, unidade da Universidade Federal do Ceará administrada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.
“A gente não tem uma forma fechada de sentir prazer. Se começarmos a olhar o sexo de forma mais abrangente, pensando no prazer que cada um está sentindo, veremos que o sexo não é só penetração. Mesmo que você goste de penetração, você consegue ter prazer de diversas formas”, afirma Raibolt.
Clinicamente, um pênis muito pequeno seria um pênis de um homem adulto menor do que 7 a 8 centímetros em estado de ereção. Mas isso não é motivo para a mulher dormir no meio da relação sexual, como relatou a seguidora da “tropa do mindinho”, no TikTok.
“Investir em preliminares e realizar um sexo oral de qualidade e, mesmo durante a penetração, estimular de forma combinada o clitóris seriam ótimas formas para se estimular um prazer e gerar mais confiança tanto em homens que acreditam ter pênis pequeno quanto em mulheres que acreditam que o pênis do seu parceiro também seja pequeno”, diz Siqueira. As sexólogas reforçam que a penetração também pode ser feita com dedos ou vibradores.
Em relação ao pênis considerado grande, a partir dos 18 centímetros, o ginecologista da Febrasgo afirma que o homem deve ter habilidade para não machucar a parceira. A vagina tem em média 10 centímetros, mas aumenta de comprimento e largura de acordo com a excitação — atingindo até 15 centímetros de comprimento.
“Esse aumento vai se relacionar com a qualidade das sensações que as pessoas estão vivenciando e o prazer que a mulher está sentindo no momento”, diz Débora Brito. Ela acrescenta que a excitação e o conforto podem ser ajustados também com a posição durante o sexo, além de outras práticas sexuais.
“Todo sexo com penetração se é feito de forma inadequada, sem que a mulher esteja lubrificada, pode machucar —mas anatomicamente a vagina é capaz de se estender a espessuras muito grandes”, diz Raibolt.
Entre os diversos tamanhos de pênis, explorar outras zonas erógenas pode resolver a preocupação de homens e mulheres. Além de vagina, seios e ânus, todo o corpo pode ser fonte de prazer, dizem os sexólogos. “Uma técnica da terapia sexual é estimular as pessoas a descobrirem áreas mais sensíveis ao toque. Quanto mais você usa seus sentidos de toque, cheiro e gosto, mais prazer você vai sentir”, afirma Raibolt.
Os especialistas ressaltam ainda que o reforço de estigmas e estereótipos pode ser negativo para a vivência da sexualidade, tanto individual quanto conjugal. “O binarismo entre pequeno e grande oprime também as mulheres quando somos julgadas pelo nosso peso ou pelo tamanho das nossas mamas”, diz Brito.
Raibolt ressalta que os estereótipos podem prejudicar também a vida sexual de pessoas com deficiência. “Temos que pensar que sentem prazer e não usam necessariamente a genitália para isso”, diz Raibolt.
Um prazer completo vai ser obtido quando ambas as parcerias, no momento do sexo, conseguem compartilhar seus desejos e praticar suas vontades, afirma o médico da Febrasgo. “A ideia de que um pênis menor pode dar tanto prazer quanto um pênis maior é verdade, porque o que vai importar é a interação durante o sexo e a performance sexual, que prevalecem para a obtenção do prazer, independente do tamanho desse pênis.”
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis