Cidades na região do Campo das Vertentes, no interior de Minas Gerais, têm retomado medidas de higienização aplicadas durante a pandemia da Covid-19 desde a morte de três crianças por suspeita de infecção bacteriana em São João del Rei (a 190 km de Belo Horizonte).
Ao menos cinco cidades vizinhas suspenderam aulas até o momento: Tiradentes, Santa Cruz de Minas, Ritápolis e Conceição da Barra de Minas, na região do Campo das Vertentes, e Felício dos Santos, a 320 km de Belo Horizonte. As prefeituras usam os canais oficiais para divulgar medidas como desinfecção de escolas, praças e parquinhos. Isolamento de pessoas sintomáticas, uso de máscaras simples e álcool para higienização das mãos também fazem parte das recomendações.
Apesar de a causa da morte das crianças permanecer indeterminada, as autoridades sanitárias investigam duas possibilidades: Streptococcus pyogenes e Streptococcus sp. alfa-hemolítico.
A bactéria estreptococo tem transmissão por via respiratória e geralmente é encontrada na garganta, diz a infectologista e pediatra Anne Layse Galastri, o que permite a semelhança com os protocolos adotados contra o coronavírus.
“A diferença é que ninguém tem o vírus da Covid e não tem infecção. Já a bactéria pode colonizar nossa cavidade oral e nasal e não evoluir com sintomas”, diz Galastri, membro do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. A médica diz ainda que a bactéria não tem o mesmo poder de transmissão que o coronavírus, descartando uma nova epidemia.
Um surto da doença — aumento de casos em uma área ou população específica durante determinado período de tempo —, porém, é provável, dizem especialistas.
“Infecções por Streptococcus pyogenes e outros estreptococos podem levar a surtos, especialmente em ambientes fechados e comunitários. A rápida identificação e tratamento dos casos, juntamente com medidas preventivas, são essenciais para controlar a disseminação”, diz o médico Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas (SES-MG) afirmou, em nota, que não há surto ou risco à saúde da população de São João del Rei, bem como nenhuma evidência epidemiológica que justifique a alteração na rotina das atividades da população.
Lavagem de mão, desinfecção de superfícies e uso de máscaras durante um tempo são medidas necessárias para evitar uma maior disseminação da doença, diz o pediatra e infectologista Renato Kfouri. Isso deve ser associado ao tratamento dos infectados e de pessoas próximas a eles, afirma.
Nem todas as escolas, porém, precisam suspender as aulas, diz o médico. “Cada situação é uma. Se você tiver vários casos numa escola, sim [é bom fechá-la]. Mas depende de quantos casos tem, qual é o tamanho da escola, se são casos relacionados ou não.”
O médico infectologista Renato Grinbaum afirma que as aulas podem ser suspensas em caso de surtos mais intensos. Mas, inicialmente, diz que a criança com a doença deve ficar isolada, fora da escola, até 24 horas após o início do tratamento.
Como não há vacina contra a bactéria, que pode provocar amigdalite, faringite e até pneumonia, os especialistas recomendam as seguintes medidas:
- Higienização regular das mãos
- Evitar contato próximo com pessoas infectadas
- Cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar
- Evitar compartilhar objetos pessoais
- Desinfetar superfícies frequentemente tocadas
Em ambientes escolares, diz Weissmann, é importante manter uma boa ventilação e considerar a desinfecção regular das instalações. Além disso, a identificação e tratamento precoces das pessoas infectadas podem evitar a disseminação da doença, afirma.