Ou passavam fácil das três horas, como os dois filmes amarelos do ano: o vietnamita “Dentro do Casulo Amarelo”, premiado em Cannes; e “A Longa Viagem do Ônibus Amarelo”, de Julio Bressane, de fato a viagem mais longa desta Mostra, com sete horas e 12 minutos. Outros filmes longuíssimos foram o turco “Ervas Secas” (197 minutos), o espanhol “Fechar Os Olhos” (165 minutos) e as cópias restauradas do francês “Amor Louco” (252 minutos) e do português “Vale Abraão” (203 minutos).
Os novinhos descobrem os velhos – Eu digo e repito todo ano: não tem prazer maior para um cinéfilo que entrar numa sessão como a de “O Sangue”, um filme português, em preto e branco e antigo (de 1989) e ver a sala lotada, com a maior parte do público formada por jovens de menos de 25 anos. OK, todos provavelmente estudantes de cinema da USP ou da FAAP, mas ainda assim dá um quentinho no coração.
Cinemateca em festa – Depois de anos de descaso no governo Bolsonaro que resultou até num incêndio em um de seus galpões que comprometeu parte de seu acervo, a Cinemateca Brasileira vem renascendo desde o início do ano com uma vasta programação. A Mostra foi o auge dessa retomada, sediando o Fórum de Ideias Audiovisuais, vários debates e lindas sessões na área externa.
O mau tempo às vezes deu uma atrapalhada, com o vento balançando a tela e a chuva atingindo quem sentava nas extremidades. Mas o espaço da Vila Mariana, antigo matadouro municipal, se mostrou uma boa opção para a carência de novos espaços de exibição da cidade — ainda que o local não fique exatamente perto de uma estação de metrô.
Os gringos em São Paulo – Um dos pontos fortes da Mostra é trazer diretores estrangeiros para conhecer São Paulo e os diretores brasileiros. Em anos anteriores, grandes nomes como o grego Theo Angelopoulos e o malaio Tsai Ming-Liang até chegaram a filmar curtas na cidade.
Quentin Tarantino segue como o nome mais famoso a ter passado pelo festival — ainda nos anos 1990, quando tinha acabado de lançar seu primeiro longa, “Cães de Aluguel”. O sérvio Emir Kusturica cancelou a vinda em cima da hora, mas tivemos o irlandês Lenny Abrahamson, do filme “O Quarto de Jack” e da série “Normal People”; a italiana Enrica Antonioni, viúva do diretor que ganhou retrospectiva; e muitos outros.
O aplicativo – A cada ano que passa, o aplicativo da Mostra fica um pouco melhor e mais cômodo, tanto para os credenciados quanto para o público que compra ingressos avulsos. Como sempre, os filmes mais disputados continuam esgotando seus ingressos em questão de minutos, o que não tem muito jeito.