A Câmara dos Deputados aprovou nesta semana um projeto de lei que prevê assegurar fisioterapia no SUS (Sistema Único de Saúde) às pessoas que fizeram cirurgias para tratar câncer de mama.
O PL, que segue para aprovação no Senado, garante fisioterapia para reabilitação e prevenção de complicações no pós-operatório se houver indicação médica —tanto para mulheres quanto para homens.
A demanda é grande e nem sempre é suprida por equipes especializadas, diz o mastologista Henrique Lima Couto, doutor em saúde da mulher e membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologistas e Obstetras).
Segundo ele, além da mastectomia e da reconstrução mamária, cirurgias nas axilas decorrentes do câncer de mama exigem fisioterapia por causa da alta taxa de linfedema, ou seja, o acúmulo de líquido, no pós-operatório. A principal é a linfadenectomia radical, também conhecida como esvaziamento das axilas, afirma.
O linfedema surge por causa da retir ada dos linfonodos da axila duranteo procedimento. Isso pode provocar um distúrbio do sistema linfático que para de absorver completamente as linfas, líquido presente em todo o corpo —o que causa o inchaço excessivo do membro, faz com que ele fique pesado e provoca dificuldade na amplitude de movimentos.
“A fisioterapia dos membros superiores com tratamento do linfedema e sua profilaxia é fundamental já no pós-operatório imediato, no mesmo dia que a paciente é operada, e no dia seguinte, devendo ser continuado no período subsequente à cirurgia, para evitar sequelas que podem restringir os movimentos”, afirma o médico.
Quando se tem um diagnóstico precoce é possível fazer cirurgias conservadoras, com muito menos mutilação, diz o oncologista Ricardo Caponero, diretor científico do Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama).
“Hoje, quando temos um exame de ultrassom mostrando que não há comprometimento dos linfonodos axilares, temos até a opção de nem retirar mais o linfonodo sentinela. Infelizmente, na medida que a doença avança, o tratamento é mais mutilador, com maior dano funcional. Quanto maior a disfunção causada, maior a necessidade da fisioterapia”, afirma.
A publicitária Paula Dultra, 43, fez uma cirurgia para combater o câncer de mama em 2011. O procedimento foi a quadrantectomia, quando se retira uma parte do tecido mamário com reconstrução imediata, aliado ao esvaziamento de axilas. Desde então, ela não parou de fazer fisioterapia.
“Na época, só indicaram fazer fisioterapia pelo menos 30 dias depois. Como estava sem os gânglios da axila, o líquido não circulava, então sentia muita dor e incômodo. Só começou a melhorar mesmo com a fisioterapia intensa que passei a fazer”, diz Dultra, que hoje faz fortalecimento dos músculos do braço no pilates, também junto a uma fisioterapeuta.
Ainda assim, ela ficou com u ma sequela da cirurgia, chamada “monoparesia”, uma redução de força do membro superior. “Julgo ser leve por conta desse trabalho [de fisioterapia] que fiz e faço”, diz.
A fisioterapia também pode ajudar mulheres que fizeram mastectomia e reconstrução da mama na recuperação dos movimentos e da amplitude dos membros superiores, além de auxiliar na redução da dor das pacientes, afirma o mastologista membro da Febrasgo. Segundo ele, isso é necessário porque muitas vezes as próteses são colocadas atrás dos músculos ou com interferência no compartimento muscular.
O projeto aprovado na Câmara altera uma lei de 1999, que garante o direito à cirurgia plástica reparadora da mama pelo SUS nos casos de mutilação decorrentes do tratamento de câncer. Caso seja implementado, essas mulheres teriam direito também à fisioterapia em todos os casos de complicações decorrentes de tratamento para o câncer de mama.
O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima 74 mil novos casos por ano de câncer de mama no Brasil entre 2023 e 2025.
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