A vacina contra a chikungunya desenvolvida pelo Instituto Butantan e pela empresa franco-austríaca Valneva produziu anticorpos neutralizantes em 98,8% dos adolescentes que participam do ensaio clínico realizado no Brasil, afirma a instituição paulista.
O estudo, celebrado por pesquisadores que o acompanham, ainda identificou que o imunizante é seguro, não apresenta pontos de preocupação e tem reações adversas que variam de leves a moderadas, como sensibilidade no local da injeção, dor de cabeça, febre e fadiga.
“Os dados são excelentes e mostram que estamos no caminho certo. É uma vacina segura e com alta capacidade de induzir anticorposprotetores”, afirma o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás.
“Estamos otimistas que, respeitando todas as etapas de estudos e validação pelos órgãos reguladores, poderemos oferecer essa vacina para proteger as pessoas desta doença que infelizmente acomete o país”, diz ainda.
O vírus que causa a chikungunya é transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito transmissor da dengue e da zika. Febre, manchas avermelhadas, dores nas articulações e na cabeça são alguns dos sintomas da doença. A dor dura alguns dias, mas pode persistir durante meses, até anos.
Para a FDA (agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA), responsável por aprovar o uso do imunizante no país norte-americano, a chikungunya “é uma ameaça emergente para a saúde mundial, com pelo menos cinco milhões de casos de infecção” pelo vírus registrados durante os últimos 15 anos.
Aprovada na semana passada nos EUA para uso em adultos, a vacina é estudada pela primeira vez em um país em que a doença é considerada endêmica. Ao todo, 750 adolescentes participam da fase três do ensaio clínico brasileiro.
O Instituto Butantan quer submeter os resultados obtidos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no primeiro semestre de 2024, a fim de pedir autorização para que o produto possa ser usado no Brasil. Os achados também serão compartilhados com a agência reguladora europeia.
A vacina da Valneva consiste em uma dose injetável e contém uma versão atenuada do vírus chikungunya, uma técnica de imunização usada com frequência. O imunizante é o primeiro do mundo a ser aprovado para combater o vírus.
No Brasil, o ensaio clínico liderado pelo Butantan reúne jovens de 12 a 17 anos que vivem em áreas endêmicas das cidades de São Paulo, São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR).
Dos 750 que se voluntariaram para o estudo, 500 receberam uma dose da vacina, enquanto outros 250 tomaram placebo. A análise da resposta imune, feita 29 dias após a aplicação, mostrou que 98,8% dos que nunca tinham sido infectados com o vírus da chikungunya desenvolveram anticorpos protetores, ante um índice de 100% entre os que já haviam se contaminado anteriormente.
A indução de resposta imune identificada pelo Butantan se assemelha aos achados pelos estudos realizados nos EUA com a população adulta: 98,9% dos que receberam a vacina desenvolveram anticorpos.
A parceria entre o Butantan e a Valneva foi fechada em 2020. Se o imunizante for aprovado, afirma o instituto, será possível produzi-lo e disponibilizá-lo o imunizante no Brasil pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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