'Dá um Google' está com os dias contados? Entenda por que jovens preferem o TikTok na hora fazer pesquisas – Zonatti Apps

'Dá um Google' está com os dias contados? Entenda por que jovens preferem o TikTok na hora fazer pesquisas

Vídeos curtos, sem propaganda no meio e a autenticidade do conteúdo fazem com que jovens e adolescentes entrem primeiro na ‘ex-rede das dancinhas’ para tirar dúvidas gerais. Jovens estão trocando o Google pelo TikTok na hora fazer pesquisas
“Qualquer coisa que eu quero saber, eu não abro o Google. Eu busco no TikTok e sempre tem respostas sobre coisas específicas”. Essa é a experiência da estudante de pedagogia Elisa Bestetti, de 25 anos, usando o TikTok como buscador. Mas ela não está sozinha.
Em seu perfil na plataforma, Elisa postou um vídeo com o título “TikTok é o novo Google?” em que aborda esse tema. Nos comentários, muitos concordam e relatam suas experiências. “Eu também sempre pesquiso aqui primeiro 😂”, respondeu uma pessoa. “Aprendi matéria da faculdade pelo tiktok KKKKKKKK”, disse outra.
“O melhor é quando você tem alguma dúvida vendo um vídeo e a resposta está na barra de pesquisa”, respondeu um usuário. Isso acontece porque a rede social recomenda outros vídeos relacionados na aba “Procurar” dentro do campo de comentários.
Especialistas ouvidas pelo g1 dizem que essa tendência, de fato, existe, e a forma como o TikTok exibe as respostas explica esse comportamento (entenda abaixo). O g1 conversou com três jovens que listaram alguns motivos que os fazem escolher a “ex-rede das dancinhas🕺” para procurar coisas:
🔎 mesmo que o tema seja muito específico, as entrevistadas dizem que é mais fácil encontrar uma informação ou curiosidade no TikTok;
🗣️ elas dizem que sempre tem um especialista/profissional em determinado assunto que produz e compartilha várias dicas. A constância do conteúdo no perfil passa mais segura, segundo elas (ainda assim, é preciso conhecer bem esse criador para não cair em fake news);
✅ autenticidade: os jovens alegam que sempre tem pessoas reais que visitam lugares e testam produtos verdadeiros e, em algumas ocasiões, fazem análises sinceras;
🤚 ao contrário do YouTube, alguns usuários dizem preferir o TikTok para pesquisa porque os vídeos são curtos e não têm propaganda no meio;
🔗para Lu Cunha, que é professora de literatura do Objetivo, “o Google é muito bom só que, dependendo do que você busca, ele apresenta muitas páginas sobre aquele assunto e aí fica difícil de você selecionar exatamente aquela que vai te atender”.
“No TikTok, tem sempre alguém dando uma dica e ensinando outras pessoas. Às vezes, é coisa simples, tipo: ‘como tirar mancha de caneta da roupa sem estragar ela'”, diz Elisa Bestetti, ao g1.
Já a dentista Ana Luiza Rocha, de 23 anos, classifica a busca da plataforma como “surreal”. Ela diz que, ao inserir algumas palavras, sem precisar do contexto geral do assunto, a rede social consegue entregar o que ela quer saber.
“Se eu quero encontrar uma manicure na minha cidade, no Google e no Instagram só vai aparecer salão de beleza. No TikTok, qualquer manicure que utilize a localização que eu estou buscando e coloca #unhas vai aparecer o vídeo dela e eu consigo ver o trabalho e até a história dessa profissional”, afirma Ana Luiza.
A auxiliar de pedagogia Larissa Figueiredo, de 19 anos, conta ao g1 que começou a usar o TikTok como Google um pouco depois da pandemia de Covid-19 e nunca mais parou.
“Sempre que quero saber a opinião das pessoas sobre alguma marca, receita de comida que não conheço, dicas para facilitar a vida ou até questões sobre beleza, eu pesquiso primeiro lá”, conta.
Procurada, a ByteDance, dona do TikTok, não deu muitos detalhes da tecnologia por trás da busca da rede social. “Não acredito que seja uma questão de algoritmo”, diz ao g1 Daniela Okuma, diretora geral de negócios do TikTok no Brasil.
“O que acontece é que, de maneira geral, o TikTok se diferencia pela autenticidade e criatividade dos conteúdos. Em relação à ferramenta de busca, quando uma pessoa faz uma pesquisa, vai encontrar vídeos autênticos que lhe vão ser úteis”, completa.
E como ficam os conteúdos problemáticos? 🔎
Seja em redes sociais ou até mesmo nos buscadores, como Google e Bing, o usuário não pode acreditar em tudo o que é mostrado ali, alerta Kelli Angelini, advogada especializada em educação digital e autora do livro “Segredos da internet que crianças e adolescentes ainda não sabem”.
“Muitos vídeos são legais e realmente ajudam, como a própria Elisa Bestetti mostra na publicação dela, mas existe uma grande quantidade de conteúdos que são inverídicos, temos as fake news e coisas problemáticas”, diz a especialista.
“Claro que nem sempre eu acho muito confiável pesquisar lá. Em comparação com o Google, eu acho mais fácil de alguém mal-intencionado passar informações erradas. Mesmo assim, as respostas no TikTok, quando verdadeiras, são mais detalhadas e mais esclarecedoras que no Google”, acredita Larissa Figueiredo.
Recentemente, a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023 revelou que 40% das crianças e adolescentes de 11 a 17 anos dizem concordar que o primeiro resultado de uma pesquisa na internet é sempre a melhor fonte de informação.
Para Kelli Angelini, a pesquisa mostra a importância de se trabalhar a checagem de fonte e o senso crítico desse público. “As plataformas não fazem uma verificação séria desses conteúdos”, completa.
Lu Cunha não vê problema em usar as redes sociais para estudar e ela acredita que as plataformas aceleram a informação. Mas faz um alerta:
“Temos que aceitar esses novos métodos. Mas o aluno tem que observar a fonte. Pegar o nome daquela pessoa que está ensinando algo e pesquisar para ver se ela é especialista. Outra opção, ainda melhor, é procurar o professor da escola para consultar se aquilo apresentado está adequado”.
Em sua central de ajuda, o TikTok explica que “remove conteúdo ou contas que violem suas diretrizes antes de serem visualizados ou compartilhados por outras pessoas. O conteúdo passa primeiro por uma tecnologia que o analisa de acordo com nossas diretrizes. Se for identificado como uma potencial violação, ele será removido automaticamente ou marcado para análise adicional por nossa equipe de confiança e segurança”.
Google (até o Instagram) admitem que ‘rede vizinha’ é uma ameaça ⚠️
A Alphabet (dona do Google) e até mesmo a Meta, dona do Instagram, do Facebook e do WhatsApp, sabem que o TikTok é um concorrente difícil.
“As pessoas têm muitas escolhas sobre como querem gastar seu tempo, e apps como o TikTok estão crescendo muito rapidamente. E é por isso que o nosso foco no Instagram Reels é tão importante no longo prazo”, disse Mark Zuckerberg, presidente-executivo da Meta, em 2022.
O Reels permite a gravação de vídeos curtos com efeitos especiais e trilhas sonoras. O formato de edição é bastante parecido com o do TikTok.
Em uma conferência de tecnologia também no ano passado, o vice-presidente sênior do Google, Prabhakar Raghavan, comentou sobre esse movimento, segundo o jornal The New York Times.
“Em nossos estudos internos, algo como quase 40% dos jovens, quando estão procurando um lugar para almoçar, eles não vão ao Google Maps ou à Pesquisa. Eles vão para o TikTok ou Instagram”, disse Raghavan.
Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, acredita que o TikTok é uma ameaça ao Google. Segundo ele, as redes sociais avançaram em cima desse espaço que até então era apenas dos buscadores.
Enquanto rola essa “migração de buscador” pelos mais jovens, o Google vem aperfeiçoando sua pesquisa com inteligência artificial. Ainda em ambiente de teste, a gigante começou a liberar no Brasil o recurso que faz a busca exibir respostas em texto (não apenas links), criado com IA.
“O YouTube também se tornou uma ferramenta importante na descoberta e na avaliação. Agora, vemos essa mudança no Instagram e, principalmente, no TikTok”, diz.
Mas não são só as mídias sociais, lembra o especialista. “Por exemplo, no caso dos Estados Unidos, já têm alguns anos que o site da Amazon supera o Google na busca não só por produtos, mas pela comparação de preços e pela análise das características dos produtos em razão dos reviews (análises) de quem já comprou”, diz Igreja.
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