O atual surto de Covid-19 no Ceará aumenta a preocupação dos médicos com a hesitação vacinal no país. A cobertura com a dose bivalente em território cearense é de 18,79%, concentrada em sua maioria nos idosos; no Brasil, a taxa é de 17,26%, e estados como Mato Grosso e Tocantins não chegam a 10%, segundo o Ministério da Saúde.
Para Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a população perdeu a percepção do risco que a Covid-19 ainda representa e o surto observado no Ceará pode ocorrer em outros lugares do país se não houver aumento da cobertura vacinal.
“O fim da emergência em saúde pública não significa o fim da pandemia”, lembrou. “O SARS-CoV-2 vai continuar circulando por anos e anos e anos, portanto, é necessário continuar com as medidas de prevenção, principalmente a vacinação”.
O tema foi abordado nesta quinta-feira (7), em evento promovido pela Pfizer em São Paulo para divulgar possíveis motivos de a população não completar o esquema vacinal contra o vírus SARS-CoV-2. Confira aqui como verificar se a carteirinha está completa.
Barbosa destacou que a Covid-19 é a quinta pandemia mais mortal da história da humanidade —atrás da varíola, peste negra, gripe espanhola e HIV— e continua, agora em outro patamar, a causar hospitalizações e óbitos. Entre os dias 26 de novembro e 2 de dezembro, foram 232 mortes relacionadas à doença no país. Ao todo, foram 708.021 vidas perdidas no Brasil, mais de 14 mil delas em 2023.
“Quando estávamos com uma taxa de óbito muito grande, a percepção individual de risco da população, ou seja, o medo de contrair Covid-19, evoluir para hospitalização, para óbito, era altíssima e as pessoas se vacinavam. Após as vacinas conseguirem êxito em diminuir as taxas de hospitalização e óbito, a população acabou perdendo essa percepção de risco”, comentou o infectologista.
Na pesquisa realizada pelo Ipec a pedido da Pfizer, foram ouvidos 1.840 adultos de 18 a 59 anos com esquema vacinal incompleto e 45% deles afirmaram ter consciência de que não estavam totalmente protegidos.
Além disso, 13% disseram que, “como a pandemia acabou, deixaram de se preocupar com isso”, contou a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro.
Outro aspecto que continua afastando as pessoas da imunização é a propagação de informações falsas. “Duas a cada três pessoas entrevistadas acreditam em pelo menos uma das fake news mais comuns sobre o tema”, afirmou Ribeiro.
A primeira no ranking da desinformação é a crença de que as vacinas contra o coronavírus não passaram por todas as fases de testes, ignorando o histórico das pesquisas que culminaram nos imunizantes. Em seguida, vem que “vacinas contra a Covid-19 causam casos graves de miocardite, trombose, fibromialgia e Alzheimer”, contrariando os reais dados de farmacovigilância.
Um em cada quatro entrevistados (25%) afirmou ainda que “um eventual retorno da pandemia ou aumento de casos” seria o principal estímulo para completar a carteirinha —e aí o problema cresce, já que a própria hesitação favorece novas ondas da doença.
“Aquelas pessoas que não foram completamente vacinadas, ou seja, não receberam o reforço com a vacina bivalente, têm cinco vezes mais riscos de serem internadas ou de evoluírem para óbito do que uma pessoa com status vacinal completo, principalmente se forem os grupos de risco”, disse Barbosa.
Ademais, a vacinação diminui os riscos das condições pós-Covid (Covid longa), tema de uma nota técnica que deverá ser divulgada nos próximos dias pelo ministério.