Desde os primórdios da ficção científica, a cena recorrente de alguém do futuro consumindo uma pequena pílula e obtendo uma refeição completa de forma instantânea tem fascinado o imaginário coletivo.
Essa visão tão emblemática tem suas raízes no final do século XIX, no contexto do movimento feminista.
A feminista Mary Elizabeth Lease, em 1893, previu um futuro que teria alimentos sintéticos, fato que libertaria as mulheres do laborioso trabalho na cozinha.
No entanto, essa previsão ganhou contornos cômicos e antifeministas, conforme podemos ver em obras como ‘A República do Futuro’ (1887), de Anna Dodd.
Pílulas de comida podem se tornar reais?
Ao longo das décadas, a promessa das pílulas de comida persistiu, alimentada pela tecnoutopia e pela era espacial dos anos 1960.
Naquela época, as pílulas alimentares eram consideradas o próximo passo evolutivo dos alimentos, simbolizando a eficiência máxima e o triunfo da humanidade sobre a natureza.
A ideia de condensar refeições inteiras em uma pílula foi uma previsão de futuro que não se concretizou – Imagem: Getty Images/Reprodução
A realidade, no entanto, mostrou-se diferente. A impossibilidade de criar pílulas com refeições completas tornou-se evidente, levando à ridicularização dessa ideia na cultura popular das décadas de 1960 e 1970.
A visão tecnocrática das pílulas de comida, tão popular nos anos 1920 e 1930, deu lugar a uma perspectiva mais realista e crítica nos anos 1960.
Desenhos animados como ‘Os Jetsons’ e filmes como ‘O Dorminhoco’ (1973) refrescaram as expectativas, satirizando os visionários do passado.
Na prática, a produção de pílulas de comida realistas é um desafio, pois não conseguem fornecer calorias suficientes para substituir refeições convencionais.
Mesmo em eventos promocionais, como um jantar ‘do ano 2000’, as pílulas provaram ser insuficientes, e as pessoas buscaram alimentos tradicionais para satisfazer suas necessidades nutricionais e emocionais.
A ilusão das pílulas de comida persiste como uma fantasia difícil de engolir na realidade.
Enquanto a tecnologia avança em várias frentes, a ideia romântica de uma refeição em uma pílula permanece uma visão utópica, contrastando com os desafios práticos e nutricionais que essa proposta enfrenta.