A inspiração de “Segredos de Um Escândalo” veio da professora Mary Kay Letourneau. Em 1997, aos 34 anos, ela se envolveu com um aluno de 12 anos e foi presa, acusada de estupro. O caso parou nas páginas dos jornais sensacionalistas, com a atenção redobrada com a continuação do relacionamento quando o garoto atingiu a maioridade. Como é comum na crônica policial americana, a história foi transformada em filme para TV em 2000.
O filme de Todd Haynes usa o caso como ponto de partida, mas não procura ser uma biografia – especialmente com a adição da personagem de Natalie Portman. Sua dinâmica com Julianne Moore revela a imensa área cinzenta que nubla os limites entre fato e ficção. É nessa entrelinha que o diretor constrói a tensão entre as personagens, que passa da simpatia e do deslumbre à intrusão – tudo amaciado por uma relação passivo agressiva em que ninguém verbaliza suas verdadeiras intenções.
O elenco brilhante conduz o tom novelesco nas cenas iniciais até torcer as expectativas em seu terceiro ato, quando a leveza se esfarela em tintas de terror. No papel de Elizabeth, Natalie Portman revela um lado ardiloso e calculista, em que a fachada da artista empática se confunde com a profissional metódica e inescrupulosa, o que a atriz nunca deixa transparecer por trás de seu sorriso angelical.
Julianne Moore, por sua vez, constrói Gracie à primeira vista como uma mulher vulnerável, mas que esconde uma personalidade narcisista e manipuladora, incapaz de compreender a dimensão do crime que cometera. É um trabalho corajoso e profundamente perturbador, iluminado por uma atriz igualmente disposta a dar um passo além.
A grande revelação em “Segredos de Um Escândalo”, entretanto, é mesmo Charles Melton, que empresta maturidade dramática a Joe, um homem profundamente frágil e imaturo, acuado por trás da fachada de adulto responsável e pai de família que ele se obrigou a erguer.
Não existe, por fim, humor na tragédia desenhada despudoradamente por Todd Haynes. Existe uma história desconfortável e fascinante, encapsulada em um filme que finge ser um drama barato e, assim, ganha liberdade para se aprofundar no desprezível teatro da vida. Uma história que deixou como vítima alguém que jamais terá uma vida longe da sombra do escândalo que o definiu.