Escrevi aqui que dados —fatos que o mundo pós-internet aprendeu a coletar e compilar de montão— são informação, mas informação só vira conhecimento quando serve para alguma coisa: quando resolve algum problema. Os chatos de plantão vieram me corrigir, alegando que “ciência básica também é importante”. Sim, meus amores, exatamente porque ciência básica é conhecimento, e do tipo mais fundamental: informação que serve para alguma coisa que é, neste caso, responder perguntas sobre a essência do mundo. Por que o código genético é o mesmo há 3 bilhões de anos? O que faz uma proteína se dobrar assim, e não assado? Isso é conhecimento. Uma base de dados que cataloga todas as proteínas de uma célula é apenas informação.
Donde minha excitação em ter a oportunidade de vir a Chennai (antiga Madras), no sul da Índia, visitar o Brain Centre, tinindo de novo, do Instituto Indiano de Tecnologia deles. Poucos anos atrás, o então assessor do ministério de ciência e tecnologia recebeu do IIT a proposta de concentrar recursos para gerar tecnologia para mapear o cérebro humano em alta resolução, e decretou: “é estupidamente ousado e tem tudo para dar errado, mas se der certo, será espetacular”. E recomendou o financiamento inaugural, logo acrescido da doação de um ex-aluno do IIT, hoje bilionário fundador —claro— de uma empresa de tecnologia. Dentro da Índia, por sinal, parece que não há melhor do que o IIT-Madras em termos do assunto.
Meu entusiasmo passou a crescer exponencialmente quando descobri que este centro não quer ser apenas gerador de informações, na forma de atlas completos de cérebros humanos adultos e em gestação. A segunda parte, por si só, já seria motivo de alegria na comunidade científica, pois são —ainda bem!— raríssimas as oportunidades de estudo do cérebro humano em formação, que dependem de abortos naturais por razões não-neurológicas e em condições adequadas de coleta do espécime para pesquisa.
Mas não: os idealizadores do centro querem ir além e mostrar ao mundo que a Índia não só tem expertise tecnológica como pode se tornar uma potência científica, também, geradora não apenas de informação para os países ricos —a matéria-prima exportada na modernidade— mas também de conhecimento.
Não há experts em neuroanatomia? Trazem-se colaboradores de fora, tratados a pão-de-ló, para gerar interesse em usar os dados que eles coletam para responder perguntas. Isso se faz com aulas, seminários, conversas e discussões conjuntas movidas a perguntas. Nesta idade, é verdade mesmo que já nasceram todos os neurônios? O que faz partes do cérebro se tornarem diferentes, se elas vêm de porções vizinhas?
E os alunos… ah, os alunos. Ansiosos por conhecimento, ávidos por perguntas e oportunidades para usar seus próprios cérebros e transformar suas capacidades em habilidades. Comparado aos alunos estadunidenses empoderados, que delícia é dar aula na Índia. Colaborar com eles e ajudar em sua formação, ainda que do outro lado do mundo, será um prazer.
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