Crítica: O show de uma mulher só: Sofia Vergara – Zonatti Apps

Crítica: O show de uma mulher só: Sofia Vergara

E depois da série Narcos protagonizada por Wagner Moura e também em outros anos por Pedro Pascal, a Netflix olha para outra personalidade no mundinho do Cartel de Medellín e entrega mais uma série estrelada por um artista latino de Hollywood.

E com Griselda, fica claro que a atração se mostra ser um show de uma mulher só: Sofia Vergara. O que temos com a minissérie protagonizada pela conhecida atriz, é Vergara interpretando a traficante Griselda Blanco e por mostrar um lado que não era tão conhecido do grande público. E

felizmente, dá para dizer que Vergara mata com pau em Griselda e realmente se mostra uma atriz muito facetada e não só presa num tom só. Conhecida pelo seu lado cômico de anos na comédia Modern Family, Vergara cai de cabeça no drama, se desprende de toda a vaidade e entrega um trabalho, e um estudo de personagem, muito interessante de se assistir. 

Sofia Vergara em cena de Griselda. Foto: Cr. Courtesy of Netflix © 2023

Griselda é o show de uma mulher só e realmente é o que nos faz ficarmos presos e viciados, perdão pelo trocadilho, nessa história do submundo do crime e do tráfico de drogas. Griselda segue a cartilha de Narcos, tem produção de Eric Newman o showrunner da antiga atração e também direção de Andrés Baiz, mas aqui entrega tudo com jeitão próprio e que se destaca da famosa produção da Netflix e seus spin-offs. Os seriados não tem conexão nenhuma, não tem participação de nenhum outro personagem, ou ator das outras produções e o que temos de referência talvez seja apenas que logo no início somos apresentados para uma frase de Pablo Escobar dizendo que o único homem que ele temeu sua vida toda foi Griselda Blanco. 

Assim, o card de abertura é o ponto de partida para a atração de 6 episódios que realmente funciona como se fosse um grande filme de mais de 6 horas. A atração segue a estrutura tradicional desse tipo de história, mostra as origens, de onde veio e como Griselda foi parar nos EUA com os três filhos fugindo do marido e do cunhado, membros do cartel do tráfico de drogas.

É a típica série que conhecemos o como, os porquês, dessa jornada e claro tudo com um toque de dramático para colocarmos Griselda no posto de anti-heroína, a La Madrina, como era chamada, e que trabalha na humanização dessa figura tão polêmica dentro do contexto da ascensão dos cartéis latinos de drogas nos EUA nos anos 60, 70 e 80, mas não glamorizar ou celebrar os feitos mais violentos.

E se o texto segue o textbook tradicional dessas histórias, o resto da atração compensa em outras frentes que podemos chamar de uma trama um pouco mais novelesca e um pouco já batida. Primeiro pela caracterização de Vergara como Griselda que é muito do motivo para fazer essa atração dar certo. A imagem mais conhecida de Griselda Blanco, uma das poucas que circulam da traficante, que a mostram como uma senhora de cabelos brancos, é deixada de lado, onde na série Vergara a interpreta alguns anos mais jovem.

E por mais que a atriz esteja completamente diferente do habitual, ainda dá para ver que é Vergara no papel. O que temos não é apenas Vergara em uma peruca, e sim uma combinação visual que impressiona com um trabalho que usa próteses no nariz, na boca, e uma pesada maquiagem. 

Dá certo e cria uma bela ilusão, onde Vergara não desaparece completamente e em Griselda ela consegue dar sua marca para a protagonista. E se Vergara dá seu show toda vez que está em cena, outro acerto de Griselda muito se dá também pelo fato de toda a ambientação que a atriz e os colegas são colocados ajudam para essa história ser contada. A série é impecável na recriação da Miami de época, com os figurinos, os cabelos, e as locações.

E assim, a jornada de Griselda num ambiente extremamente violento e masculino é apresentada quando a vemos sozinha, depois de fugir da Colômbia com uma quantidade razoável de drogas, com os filhos, e uma mão na frente e outra atrás, partir para tentar entrar meio do submundo do crime em Miami que é comandada por alguns homens e seus capangas. 

O mais interessante é ver como Griselda, com sua inteligência e astúcia, conseguiu se infiltrar na operação do tráfico em Miami e construir o seu Império. E que como todos, nasceu, cresceu e floresceu, e caiu. Boa parte dos episódios mostram Griselda por recrutar o seu time de aliados, seja Chuco (Fredy Yate), o funcionário de um restaurante que ela conheceu em uma das primeiras semanas nos EUA, Carmen (Vanessa Ferlito), uma amiga de longa data que lhe acolheu no país e que oferece um trabalho em uma companhia de viagem, e os outros parceiros na operação como Arturo (Christian Tappan ), Panesso (Diego Trujillo ) e até mesmo Dario (Alberto Guerra) o capanga que trabalhava para o cunhado dela na Colômbia que depois se junta para a operação e se torna parceiro amoroso da traficante.

Assim, a atração trabalha a história em blocos. Os episódios 1×01 – A chegada em Miami e 1×02 – Brancos e Ricos mostram as facetas diferenças facetas de Griselda (uma mulher tentando se restabelecer depois de um evento traumático), a relação com os filhos (Orlando Pineda, Martin Fajardo e  Jose Velazquez), e as tentativas com acertos e erros para tentar adentrar a operação em Miami.

A série tem vida e um sentimento de empolgação ali para vermos como a lábia da traficante vai a levar para entrar no mundinho do crime pela porta da frente. É quando vemos a personagem usando seu charme, e inteligência que Griselda empolga. Seja contra o líder do tráfico Amilcar (Diego Trujillo, excelente), por tirar vantagem quando vê que ninguém a leva a sério por ser mulher, principalmente Papo (Maximiliano Hernández ) que vai dar dor de cabeça para ela, e até mesmo quando vemos a personagem colocar em prática as ideias para fazer a operação decolar, entre uma delas, uma que envolve as colegas prostitutas embarcando para os EUA com as drogas no sutiã. 

Camilo Jimenez Varon, Alberto Guerra, Sofia Vergara e Diego Trujillo em cena de Griselda. Foto: Cr. Courtesy of Netflix © 2023

Mas Griselda quer mais, a atuação de Vergara só cresce com a personagem e sua sede de poder. O combo 1×03 – The Munity e 1×04 – Média Gestão já estabelecem Griselda no auge e realmente são a personagem tentando manter o que conquistou na medida que também a polícia de Miami começa a desvendar a operação da traficante. 

E o que poderia ser um contraponto interessante para a narrativa, igual foi com Narcos, onde o trabalho da polícia na atração tinha um certo peso na história, aqui, seja pelo foco estar quase todo em Griselda, e pelo fato que não temos figuras conhecidas do outro lado, a investigação fica em 3º plano. 

Claro, é interessante vermos o paralelo da história de Griselda com a personagem da detetive June (Juliana Aidén Martinez), e vermos a policial galgar também o seu espaço na polícia num ambiente extremamente masculino, e basicamente fazer todo o trabalho do detetive, homem e branco, Martin (Micha McNeil), mas a sua trama não chega a ser tão poderosa ou interessante quanto o de Griselda.

Nem mesmo quando o Detetive Diaz (Gabriel Sloyer) chega e uma força tarefa é criada para tentar desvendar as pistas sobre a operação de drogas na cidade. Martinez faz um bom trabalho, mas talvez se tivéssemos uma atriz de um calibre um pouco maior, e um espaço na narrativa para isso, talvez esse arco se sobressaísse. E isso fica claro quando temos as duas personagens contracenando nos episódios finais que são a derrocada de Griselda e a queda do seu império. 

E a mudança de tempo, tão busca entre os episódios 4 e 5, afetam um pouco o ritmo da série. É como se 1×05 – Paraíso Perdido e 6 – Adiós, Miami fossem corridos para condensar a história para finalizar tudo. É a festa de aniversário de Dario, é o início do vício de Griselda em crack, é o sentimento de paranóia contra os rivais, as matanças descontroladas, e claro, o cerco que os rivais, a polícia e a unidade especial de combate às drogas que apertam a investigação contra a traficante. 

Narrativamente a série tem seus picos com altos e baixos, mas como falamos, é a presença extremamente forte e magnética de Vergara no papel e a composição dessa personagem complexa que explora as diversas facetas que Blanco foi, de mãe, esposa, também empresária e La Madrina que dão o tom para a atração.

No final, são 6 boas horas passadas com Vergara e companhia, onde Griselda realmente faz uma produção extremamente maratonavel e viciante de querer ver todos os episódios de uma vez e em uma tacada só. Perdão pelo trocadilho.

Griselda disponível na Netflix.

Deixe um comentário