A importância em reduzir a emissão de gases de efeito estufa, em preservar a floresta, os efeitos da mudança climática e inequidades são temas discutidos no mundo de forma recorrente.
Apesar da incerteza inerente à produção do conhecimento científico, se sabe que é preciso agir de forma rápida para evitar os efeitos adversos de cada um desses temas. Aqui, a ação rápida precisa incluir dois aspectos.
Por um lado, é preciso implementar medidas de adaptação para o enfrentamento e mitigação do que já se observa agora. Por outro lado, é necessário que haja um compromisso de mudança para evitar catástrofes ainda piores no longo prazo. O que há de comum é a necessidade da participação conjunta de vários setores do governo nessas ações.
O problema é que, em grande parte dos países, essas ações são implementadas de forma reativa e nem sempre de forma intersetorial. Além disso, a política pública carece, e muito, de uma visão de longo prazo. Uma visão de mudança que dure mais do que 4 ou 8 anos de mandato. Ou seja, um contínuo compromisso independentemente de partido político.
Há vários exemplos no Brasil que se encaixam nessa discussão. Uma pesquisa liderada por cientistas do Brasil e publicada este mês na revista Nature mostra que, até 2050 (em 26 anos!), de 10% a 40% da floresta Amazônica podem sofrer transições críticas no ecossistema que não só comprometem a resiliência da floresta como potencializam a mudança climática.
Para evitar esse cenário são necessários esforços locais para coibir o desmatamento e a degradação, além da expansão do reflorestamento de áreas degradadas. É preciso, ainda, que haja comprometimento global em reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.
Entre 2018 e 2022 esses esforços não pautavam a política pública no Brasil. Desmatamento, queimadas e garimpo ilegal avançaram criando um retrocesso ambiental, social e de saúde pública.
A crise humanitária na terra Yanomami é um exemplo que ganhou visibilidade graças aos esforços incansáveis da plataforma de jornalismo Sumaúma. A crise deixou evidente como a questão ambiental potencializou deficiências que já existiam na saúde indígena, levando a uma situação totalmente evitável se houvesse visão de longo prazo.
O plano de ação de aperfeiçoamento da saúde indígena, enviado recentemente ao Supremo Tribunal Federal, evidencia a alta rotatividade e falta de profissionais capacitados para atuar na atenção à saúde indígena, além de fragilidades na coleta de dados, planejamento e monitoramento de ações e ameaças ambientais.
Apesar de uma detalhada discussão sobre questões de saneamento básico e ambiental, não há menção explícita sobre a necessidade de monitorar a presença de mercúrio na água e em alimentos consumidos pelos indígenas.
Esses problemas não são recentes. É preciso que haja uma crise humanitária para que sejam resolvidos?
Outro exemplo é a precária infraestrutura das cidades. Resultados do Censo de 2022 mostram que, apesar de progressos desde 2010, cerca de 10 milhões de pessoas não tem acesso a água encanada dentro de casa, 18 milhões não possuem coleta de lixo e 49 milhões não tem acesso adequado a rede de esgoto.
Esse cenário contribui para a progressão das arboviroses no país há décadas (dentre outras questões de saúde pública). Na ausência de infraestrutura, ações de limpeza, contratação de agentes, educação em saúde e conscientização social não podem ser apenas emergenciais em resposta a epidemias, mas rotineiras para que se previna essas epidemias.
Política pública de longo prazo é um investimento. O custo de não o fazer cresce a cada dia.
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