Na tarde desta terça-feira (27), o Hospital Israelita Albert Einsten divulgou em nota que o apresentador Fausto Silva, 73, passou por um novo procedimento cirúrgico de transplante. Desta vez, o órgão foi um rim. Há seis meses, Faustão já havia transplantado o coração.
Segundo especialistas, a necessidade de um novo rim é comum em pacientes que já transplantaram algum órgão antes, como é o caso do apresentador.
Apesar de semelhante ao primeiro procedimento, o transplante renal exige cuidados, preparação e pós-operatório diferentes.
Entenda como é a cirurgia de transplante em rim e em quais casos é necessária.
Quem precisa do transplante renal?
O transplante de rim é indicado para pacientes com doença renal crônica, uma condição irreversível, em estágio avançado, ou seja, quando só 10% do órgão tem a capacidade de filtrar o sangue do corpo.
“Não existe nenhum tratamento que funcione em um paciente que tem menos de 9% de função renal”, explica Lúcio Requião, médico e secretário-geral da SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia).
Além disso, alguns critérios legais precisam ser preenchidos para que um paciente tenha o direito a entrar no cadastro técnico do Ministério da Saúde, pasta que regula todo o programa de transplante brasileiro.
No caso de menores de idade e pessoas diabéticas que não fazem diálise, entram para a lista também aqueles em que o rim tem capacidade de filtragem menor que 15%.
As principais causas de doença renal crônica no Brasil são hipertensão e diabetes não controladas. Existem outros processos que vão agredindo o rim cronicamente, como o uso de algumas medicações para doenças autoimunes e ainda imunossupressores utilizados por quem já é transplantado, além de algumas condições genéticas.
Coordenador médico do programa de transplantes do Hospital Israelita Albert Einsten, onde Faustão passou pelo procedimento, José Eduardo Afonso Júnior explica que pacientes que usam medicamentos pós-transplante, que são necessários para evitar a rejeição no novo órgão, que tenha alguma toxidade contra o rim, podem desencadear um quadro que evolua para um novo transplante.
“Por conta da toxidade de alguns medicamentos para transplantados, a insuficiência renal crônica é muito mais presente nessa população”, informa.
Quem tem prioridade no processo?
Tanto para rins, quanto para transplantes de fígado, o doador pode ser um paciente vivo ou que teve morte cerebral. No caso de transplante renal de um doador falecido, alguns critérios, definidos em legislação, priorizam casos mais graves. Um deles é o HLA, sigla em inglês que traduzida resume a compatibilidade genética.
“Então, a partir deste critério, é gerada uma nova fila para cada doador”, explica Requião. Após essa compatibilidade, gera-se um ranking, do primeiro ao décimo quinto.
Nesta lista, é definido como mais grave o paciente que não tem mais acesso venoso para a diálise, em alguns casos, porque todas as veias estão obstruídas, impossibilitando o fluxo sanguíneo. “Quando isso ocorre, se não é feito o transplante, o paciente morre”, diz Requião.
No estado de São Paulo, especificamente, existem outras duas regras que permitem a priorização do transplante renal: pacientes que já doaram um dos rins e, por qualquer motivo após o procedimento, perderam a função do outro rim —o que especialistas afirmam ser raros—, e pacientes já transplantados, como é o caso de Faustão, que era o 13º na fila.
No caso da legislação estadual, no último ano foram realizados 1.933 transplantes de rim e 34 foram elegíveis para prioridade, segundo Requião.
O médico informa ainda que, em casos de doadores falecidos, duas pessoas da lista recebem rins.
Como é o procedimento?
O processo cirúrgico muda de acordo com a condição do doador. Se o órgão vier de uma pessoa falecida, procedimento costuma ser um pouco mais demorado.
Agora quando é doado por uma pessoa viva, o transplante tende a ser rápido. “São cerca de três ou quatro horas para o procedimento completo”, diz Requião.
O médico informa ainda que o órgão consegue ser utilizado para transplante mesmo se continuar até 36 horas fora do corpo, diferente, por exemplo, do coração, que aguenta até quatro horas.
Durante a maior parte das cirurgias, segundo José Eduardo Afonso Jr., o rim antigo, que já não funciona mais, é mantido dentro do paciente, facilitando o processo cirúrgico porque não é necessária a remoção.
“Não é preciso perder tempo retirando o velho, você implanta o rim novo e ele funciona sem precisar tirar o antigo”, explica.
Quando posso receber o órgão doado por um familiar vivo?
A legislação brasileira também regula a doação de rim entre familiares. O transplante com doador vivo só pode ser realizado por parentes de até quarto grau.
“Só é possível fazer um transplante com doador não parente se a situação for avaliada por um comitê de ética do hospital onde será realizado o procedimento e desde que haja uma autorização judicial”, explica Requião.
No Brasil, 85% dos transplantes são feitos por doadores falecidos, segundo o médico, e nos 15% em que o doador é vivo, a maioria é familiar do receptor.
Como é a recuperação de quem passou por um transplante?
Após o procedimento, os pacientes costumam ficar dois dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), segundo Afonso Jr. “Assim que recebe o órgão, é necessário aguardar o rim começar a funcionar, o que acontece em cerca de três dias. Para a liberação, o paciente costuma levar de uma a três semanas”, explica o médico.
Ao voltar para casa, o transplantado precisa seguir a risca a medicação indicada, que geralmente precisa ser tomadas por toda a vida.
“Os imunossupressores são fundamentais para o sistema imunológico não atacar o novo órgão”, informa o coordenador do Albert Einsten.
Qual a taxa de sucesso?
Segundo os especialistas, esse número é medido de acordo com a probabilidade de o paciente transplantado estar com o rim funcionando dentro de um ano sem a necessidade de diálise.
“Esse número costuma ser de 95% para os casos em que o doador é falecido e 99% quando o receptor tem o rim doado por uma pessoa viva, como um familiar”, informa Requião.
Para o médico, o procedimento tem uma taxa de sucesso alta se comparado a outros transplantes.
Em casos de rejeição, é necessário um segundo transplante?
A rejeição do novo órgão costuma ser mais comum nos primeiros meses após o transplante, segundo Afonso Jr. “Isso pode acontecer se o paciente não tomar corretamente os imunossupressores, por exemplo”.
Segundo o especialista, existem alguns tipos de rejeição e isso não é incomum. Nos casos de confirmação, é indicado tratamento, que costuma ter sucesso.
Casos de retransplante, inclusive, também podem ocorrer, e é importante estar atento para entender que isso, não necessariamente, compromete a vida do paciente. “É difícil o transplantado morrer porque perdeu o rim, ele pode voltar a fazer a diálise até receber um novo órgão”, explica o médico.