Com as novas tecnologias e procedimentos estéticos, é possível mudar praticamente tudo em nosso corpo, até mesmo a cor dos olhos. No entanto, nem todo tipo de modificação é indicada por médicos, ainda mais quando estamos falando de práticas invasivas.
Nas últimas semanas, circularam vídeos na internet de uma modelo brasileira que se submeteu a uma técnica cirúrgica chamada de ceratopigmentação, ou tatuagem da córnea, para ficar com os olhos azuis. Esse método é conhecido no meio oftalmológico para tratar esteticamente lesões na córnea de pacientes que não enxergam, para melhor a aparência ocular alterando a pigmentação da íris.
“Quando falamos em ceratopigmentação, existem algumas técnicas. A mais consagrada, que é mais utilizada aqui no Brasil, é a ceratopigmentação natural, que funciona como uma tatuagem na córnea. E como qualquer procedimento na córnea, quando você faz a tatuagem, você faz micro machucados que podem trazer dor, inflamação, além de ser uma porta de entrada para bactérias e fungos. O maior risco é a infecção mesmo, sendo a principal complicação”, explica Emerson Fernandes e Castro, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês.
O especialista pontua que uma infecção na córnea pode ser muito grave, pois é uma região que não possui vasos sanguíneos, o que faz o sistema imunológico ser limitado, sendo mais vulnerável a contaminações. Dependendo da infecção, o paciente pode até perder a visão.
Leonardo Marculino, oftalmologista do Hospital Cema, que já realizou a ceratopigmentação utilizada no Brasil, esclarece que há também outra forma de realizar o procedimento, que envolve a aplicação de laser na íris para mudar a cor dos olhos.
“Esse procedimento não é feito em São Paulo, existem estudos pensando em passar a realizá-lo aqui, mas ainda não existe um método seguro para isso”, pontua Marculino.
O médico cita que essa cirurgia pode acarretar diversos problemas oculares, incluindo o desenvolvimento de glaucoma, descompensação da córnea e até mesmo a necessidade de um transplante de córnea. Os riscos associados a essa técnica são consideráveis e podem resultar em complicações sérias para a saúde ocular.
“Depende do pigmento que você colocou, pode até ter restrição para fazer ressonância nuclear magnética. Tem algumas tintas que têm metais pesados como ferro, mesmo em algumas tatuagens, que podem trazer alterações no campo magnético e distorcer a imagem de quando você vai fazer uma ressonância”, completa Emerson Fernandes e Castro.
Nova técnica francesa de cirurgia refrativa
O método de modificar a cor dos olhos que viralizou nas redes sociais é o utilizado pela clínica oftalmológica francesa New Vision, a única que realiza esse tipo de cirurgia na França. Segundo o site deles, lá é utilizado a técnica a laser FLAAK, que permite a ceratopigmentação para mudança de cor dos olhos e é compatível com cirurgias refrativas para correção da visão, como LASIK, PKR, implantes intraoculares, entre outros.
“Essa técnica FLAAK nada mais é do uma pigmentação assistida por laser, o mesmo utilizado para fazer cirurgia de miopia, que é muito sofisticada. Mas usar esse método para colorir o olho e a córnea, eu acho que tem muito problema”, conta o o oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês.
“Quando você tem um problema no fundo do olho, para o médico enxergar o fundo do olho, é preciso dilatar a pupila. Mas no caso desses pacientes, terá uma dificuldade em acessar esse fundo do olho, então se tiver algum problema, isso dificulta a análise. É muito complicado pigmentar a córnea, porque a gente não sabe no médio e longo prazo o que vai acontecer, então eu vejo isso com preocupação”, explica
Em um recente estudo sobre esse método, realizado pelo departamento de oftalmologia do Boston Medical Center, avaliou a segurança e satisfação de pacientes submetidos ao laser para mudança de cor dos olhos. A maioria dos deles experimentou sintomas leves e transitórios após a cirurgia, que se resolveram completamente sem complicações graves.
Embora o FLAAK pareça ser uma opção segura e eficaz, segundo a análise, os pesquisadores deixam a ressalva de que é necessário estudos futuros com amostras maiores para uma avaliação mais abrangente de sua segurança e eficácia.
Especialistas brasileiros não recomendam tal procedimento para modificar a cor dos olhos saudáveis, já que pode trazer muitos problemas para a visão. O CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) recomenda a realização apenas em casos em que a córnea está comprometida. O CFM (Conselho Federal de Medicina) não autoriza o uso do método para fins estéticos em pacientes com a visão sadia.