Entrevista para orgulhar os corintianos. ‘Como venci a Libertadores e um tumor no cérebro.’ Leandro Castán – Prisma – Zonatti Apps

Entrevista para orgulhar os corintianos. ‘Como venci a Libertadores e um tumor no cérebro.’ Leandro Castán – Prisma






A vida de Leandro Castán daria um filme inverossímil, com direito a inesperadas reviravoltas.

Zagueiro dos mais talentosos dos anos 2000, só começou a atuar na posição, quando o pai foi demitido das categorias de base. Seu treinador, ele o queria como meia esquerda.


Depois de uma negociação mal amarrada do Atlético para o Cruzeiro, o destino o levou para a desventura na Suécia. Sentiu o quanto empresários, comprometidos só com o dinheiro, fazem com jovens brasileiros pelo mundo.


O destino reservava o Grêmio Barueri. E o começo de uma revolução incrível, dentro do campo.

Canhoto, habilidoso, excelente para dar início às jogadas, sem chutões, atraiu o Corinthians. Foi para o Parque São Jorge ao lado de Ralf.


Dono de muita personalidade, vendo que o jovem reserva iria tomar sua posição, o capitão Willian resolveu se aposentar.


A direção do Corinthians queria a contratação de um zagueiro experiente para suprir a sentida saída. Mas Tite foi firme. ‘Ele me chamou e foi direto. ‘Você tem um Paulista para me provar que merece ser meu titular.’





Leandro Castán colocou a alma em campo. E virou o titular absoluto do Paulista de 2012. E se preparou para a Libertadores da América. ‘Eu sentia o quanto esse torneio era desejado e, ao mesmo tempo, temido pelo Corinthians. Foram várias decepções. A pressão era imensa. Muita gente acreditava que o clube não iria vencer nunca a Libertadores’, relembra.


‘Mas houve uma sintonia tão grande entre os veteranos e os jovens jogadores. Nós passamos a atuar com sangue nos olhos em todos os jogos. Sabíamos do nosso potencial como time. E a decisão, para nós, seria contra o Vasco da Gama. Eles tinham um time muito talentoso.’


O ex-zagueiro revela que havia um grande medo silencioso entre os jogadores. ‘Ninguém queria ser o culpado pela eliminação da Libertadores. Sabíamos que muitos atletas já haviam passado por isso. E no jogo contra o Vasco, no Pacaembu, o Alessandro perde a bola para o Diego Souza na intermediária, com nosso time todo no ataque. Foi desesperador ver o Diego diante do Cássio. Eu pensei ‘coitado do Alessandro. Vai ficar marcado. Se sair o gol, não vamos conseguir recuperar.’ Aí, o Cássio fez uma defesa espetacular. Não foi o Diego Souza que errou. O Cássio foi um gigante. Naquele momento, sabíamos que iríamos ganhar a Libertadores. O gol de cabeça do Paulinho foi consequência.’


Castán confessa que não havia preocupação com o Santos, mesmo com Neymar, na semifinal. ‘Sabe por quê? Porque o Santos era excelente, o Neymar, maravilhoso, mas defensivamente eles tinham problema. Era uma equipe desequilibrada. Colocamos dois jogadores no Neymar, com direito à sobra. E passamos sem susto para a decisão.’


Aí veio o Boca Juniors.


‘Ninguém tiraria a Libertadores da gente. Já tínhamos feito história com a chegada inédita à final. O plano era segurar o Boca na Bombonera. Estávamos bem, até tomarmos um gol. A situação estava complicada. E nós, titulares, tomamos um susto quando o Tite colocou o Romarinho na partida, vindo do banco. Ele era um garoto que tinha vindo do Bragantino, não era cascudo. Eu pensei. ‘Não era possível. O Tite errou.’ Até que o Romarinho me faz o gol de empate, com direito à cavadinha diante do goleiro Orion. Aos 40 minutos do segundo tempo. A gente vibrou muito. E tenho certeza que o moleque nem tinha noção do que havia feito. A coisa é tão louca que na final, no Pacaembu, o Romarinho não entrou nem um minuto no jogo.’


Castán lembra que no ônibus indo para o estádio, para a decisão, todos os atletas sentiam que venceriam. ‘Ninguém tiraria aquele título, repito. Nosso time era mais do que especial. Tinha talento, personalidade, raça. Era uma sensação de família.’


Em campo, para ele, antes dos gols de Emerson Sheik, uma entrada para se impor no jogador mais forte fisicamente do Boca Juniors, Santiago Silva. ‘Ele se assustou. Percebeu que ninguém iria se atrever a tirar a Libertadores. Ela era nossa, do Corinthians.’


Depois, a difícil escolha. Seguir para disputar o Mundial ou aceitar uma proposta milionária para jogar na Roma. ‘Foi duro, mas pesou também o sonho de disputar a Copa do Mundo. Mano Menezes era o treinador e ele já estava convocando jogadores do Corinthians. Senti que ele não levaria tantos assim, para não ser rotulado como um treinador que protegia um clube. Sabia, pelo que estava jogando, que se fosse para a Roma, seria convocado. Foi o que aconteceu.’

Castán viu o Corinthians ser campeão do mundo.


E Mano Menezes cair da Seleção. Enquanto era um dos melhores zagueiros da Europa, com interesse real do Manchester United, Mano demitido. E Felipão cometeu uma inacreditável injustiça. Convocou Dante. Veio o 7 a 1…


Quando Castán estava se preparando para atuar na Premier League veio a maior prova que teve na vida. Um tumor no cérebro. Desistência do Manchester United.


‘Foi terrível. A operação era delicadíssima. Mas entendi porque Deus me levou para Roma e não fiquei no Corinthians para ser campeão do mundo. Em Roma estava o melhor cirurgião de cérebros do mundo. Fiquei com muito medo. Sonhava que estava em um caixão. A operação foi perfeita. Mas tive de aprender a controlar o meu corpo. A andar. Me disseram que nunca mais jogaria futebol. Teria o risco de morrer cabeceando uma bola, tendo um choque de cabeça com adversários. Mas decidi voltar a jogar.’


Castán, que foi um caso de sucesso exemplar, em operações cerebrais, voltou a atuar. ‘Não tinha mais o mesmo nível. Meu corpo demorou muito a reagir. Mas a Roma foi espetacular. Renovou meu contrato duas vezes, mesmo assim.’


Ele revela saber que influenciou muitas pessoas. ‘Recebi várias mensagens de pessoas que ganharam coragem de operar o cérebro ao ver como me restabeleci. Foi uma missão que eu tive, hoje eu entendo. E agradeço a Deus.’


No futebol, Castán depois de ser emprestado à Sampdoria, ao Torino, sentiu que era hora de voltar ao futebol. ‘Recebi três convites do Corinthians. E fiz questão de não retornar. Porque sabia que não era o mesmo Leandro Castán com futebol excelente, campeão da Libertadores. Quis preservar minha imagem por respeito, amor ao Corinthians.’


Quem insistiu foi o Vasco da Gama. ‘Vou deixar bem claro. Mesmo não sendo o jogador de 2012, em 2018 até 2021, joguei em alto nível para o futebol brasileiro. Dei, de novo, minha alma tentando fazer com que o clube não fosse rebaixado. Mas faltava infraestrutura, dinheiro, foi muito duro. Fiz tudo que pude. O clube me devendo salários. E ainda sai como vilão. Mas futebol é assim mesmo.’


Castán, ainda foi convencido a jogar no Guarani. ‘Só que senti que não poderia mais ajudar o clube como merecia. E decidi encerrar a carreira.’ Com grande poder de comunicação, aos 37 anos, ele começará o seu canal de entrevistas, neste mês de março.


Além disso, ele está cada vez mais empenhado em se aprofundar na religião. ‘Sou um homem feliz, com a família que tenho, com o que conquistei no futebol, por estar vivo, com saúde. Preciso retribuir a Deus, tudo que recebi.”

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