Uma cepa de gripe aviária que matou milhões de aves nos últimos anos foi detectada em vacas leiteiras em vários estados americanos, gerando alertas sobre a segurança do suprimento de laticínios dos Estados Unidos.
Agências do governo de saúde e agricultura divulgaram um comunicado na semana passada enfatizando que “não há preocupação” com a segurança do suprimento comercial de leite, enquanto afirmavam que continuam monitorando a situação à medida que ela evolui.
Os cientistas sabem que a gripe aviária pode se espalhar para os humanos quando entram em contato com animais infectados, incluindo mortos, sem usar equipamento protetor, o que parece ter sido o caso de uma pessoa recentemente infectada no Texas. Até agora, não há evidências de que os humanos possam contrair gripe aviária ao consumir alimentos que foram pasteurizados ou cozidos, diz Benjamin Chapman, professor e especialista em segurança alimentar na Universidade Estadual da Carolina do Norte.
“Isso não quer dizer que não possa acontecer”, disse ele. “É apenas que temos uma história bastante robusta de isso não acontecer. E isso é uma boa notícia.”
No entanto, há alguns pontos-chave que os pesquisadores ainda estão trabalhando para entender, afirma ele e outros especialistas, como a extensão da atual epidemia em vacas, ou exatamente como o vírus se espalhou para elas. As agências de segurança pública afirmam que não está claro quais riscos cercam os produtos não pasteurizados.
“No campo do conhecido versus desconhecido, há muito mais na parte desconhecida”, explica Gail Hansen, especialista em saúde pública veterinária e consultora independente em saúde pública.
O que sabemos sobre a gripe aviária e produtos lácteos?
A gripe aviária foi detectada em amostras de leite não pasteurizado de vacas doentes no mês passado, mas a FDA (agência que regulamenta drogas e alimentos nos EUA) disse que o suprimento comercial de leite pasteurizado continua seguro e que “atualmente não há alertas” com queijos pasteurizados. O leite de vacas doentes está sendo desviado ou destruído para que não chegue às prateleiras das lojas.
O processo de pasteurização, que funciona aquecendo o leite para destruir patógenos, é responsável por matar o vírus influenza, diz Matthew Moore, professor assistente no departamento de ciência dos alimentos da Universidade de Massachusetts, em Amherst.
O leite cru ou não pasteurizado, que se tornou cada vez mais acessível nos EUA ao longo da última década, já coloca as pessoas em maior risco de germes prejudiciais. “Agora há uma nova camada de preocupação”, afirma Darin Detwiler, especialista em segurança alimentar e professor na Faculdade de Estudos Profissionais da Universidade Northeastern. “Não acho que se possa dizer que não devemos nos preocupar em beber leite cru nesta era.”
A FDA disse que ainda não sabe se as pessoas podem contrair gripe aviária ao consumir leite cru e queijos feitos a partir de vacas infectadas. A agência recomendou que os fabricantes evitem fazer leite cru ou queijo de leite cru de vacas que apresentem sintomas.
E a carne?
Os casos confirmados até agora foram em vacas leiteiras, não naquelas usadas para carne, e o Departamento de Agricultura dos EUA disse estar “confiante de que o suprimento de carne é seguro”. A indústria agrícola tem salvaguardas para identificar e isolar animais doentes para que não acabem no suprimento de alimentos ou laticínios. Os cientistas ainda estão tentando descobrir se as vacas eliminam o vírus antes de apresentarem sintomas; se o fizerem, isso poderia levantar novas preocupações.
Mas o cozimento adequado tornaria o vírus inofensivo, diz Aljoša Trmčić, especialista em segurança de laticínios na Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida da Universidade Cornell.
As mesmas precauções que evitam que as pessoas fiquem doentes de patógenos como a salmonela podem ajudar a prevenir a contaminação pelo vírus, afirma Chapman.
O departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) recomenda quatro passos simples: limpar frequentemente as mãos e as superfícies que você usa para preparar alimentos com água e sabão; manter a carne crua, aves, peixes e sucos separados de outros alimentos; usar um termômetro de alimentos para garantir que você cozinhou o alimento na temperatura certa; e não deixar alimentos em temperatura ambiente por mais de duas horas, ou por mais de uma hora quando a temperatura estiver acima de 32 ºC.
“Todas as precauções que você normalmente tomaria para o manuseio sensato de carne crua devem ser boas o suficiente”, afirma Moore.
Os ovos são seguros para consumo?
A Cal-Maine Foods, um importante produtor de ovos nos EUA, anunciou esta semana que detectou gripe aviária em uma instalação no Texas e sacrificou mais de 1 milhão de aves. Galinhas infectadas provavelmente colocarão ovos que também estão infectados com o vírus, diz Trmčić, mas ele acrescentou que é muito improvável que um ovo contaminado chegue ao mercado com os controles da indústria em vigor.
Produtos de ovos —como claras de ovo líquidas— são pasteurizados. Mas a maioria dos ovos inteiros vendidos em caixas não são pasteurizados por dentro, afirma Trmčić. Uma recomendação é cozinhá-los adequadamente para matar patógenos como a gripe aviária, mas também germes mais comuns como a salmonela. Isso inclui garantir que tanto as gemas quanto as claras estejam firmes, não líquidas.
Pode também ser recomendado evitar massa, molhos, bebidas ou outros itens que usem ovos crus ou mal cozidos, afirma Detwiler.
“Não estou dizendo para evitar comer ovos ou evitar beber leite”, diz Detwiler. “Apenas vá em frente com cautela e pense em como algumas práticas podem ter mais risco do que outras.”
Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times.