Conhecidos como canetas emagrecedoras, novos medicamentos de aplicação subcutânea para o tratamento da obesidade têm chamado atenção do público em geral com promessas de resultados eficientes de perda de peso. Entretanto, os estudos científicos mostram que esses novos fármacos só garantem efeito enquanto estiverem sendo utilizados.
No final do ano passado, um estudo publicado na revista científica Journal of the American Medical Association mostrou a necessidade de uso continuado do Mounjaro (tirzepatida). No total, 670 participantes receberam por nove meses as doses máximas seguras do medicamento, e tiveram perda média de 20% do peso corporal.
Após esse período, alguns voluntários tiveram sua medicação substituída por placebo. Entre esse grupo houve, nos três meses seguintes, um reganho de 14% do peso, enquanto aqueles que continuaram o tratamento com o remédio tiveram uma perda adicional de 5% da massa corporal inicial.
Em 2021, foram publicados na mesma revista os resultados de um estudo clínico com a semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy. Nessa pesquisa foram 800 participantes que, por cinco meses, receberam o remédio. A perda de peso médio correspondeu a 10% do peso corporal inicial.
Nos 11 meses seguintes, os voluntários também foram divididos entre aqueles que continuaram o tratamento e os que passaram a receber placebo. Enquanto o primeiro grupo continuou a emagrecer, com perda de mais 8% da massa corporal, o segundo grupo ganhou cerca de 7% de peso.
Lenita Zajdenverg, nutróloga do Hospital Universitário da UFRJ, explica que, na idade adulta, cada um de nós tem um peso corporal ao qual o corpo tende a retornar. O uso de remédios como o Ozempic aumenta a sensação de saciedade e inibe o nosso impulso de comer, ajudando no emagrecimento. Mas ao suspender a medicação, a fome volta. É uma forma de o organismo garantir que a gente chegue no peso que ele considera ideal.
“O uso desses medicamentos deve ser crônico, porque a obesidade é uma doença crônica”, acrescenta Zajdenverg, “e assim como outras doenças crônicas, como hipertensão arterial ou diabetes, o tratamento é para a vida toda”. Além do uso continuado, a nutróloga ressalta a importância de ter acompanhamento médico durante o processo. Segundo ela, um especialista é capaz de amenizar os sintomas colaterais e regular as doses, quando necessário.
Embora sejam relativamente seguros, alguns pacientes podem experimentar efeitos adversos. Enjoos, desconforto gastrointestinal e vômitos são os mais comuns. Em alguns casos esses sintomas podem ser controlados, mas em outros é preciso interromper o seu uso. Um estudo recente aponta que a melhor alternativa para amenizar os efeitos do reganho de peso é combinar o tratamento com a prática de atividades físicas.
Pesquisadores dinamarqueses conduziram um estudo clínico com cerca de 100 voluntários divididos em quatro grupos diferentes submetidos por um ano ao tratamento ou com liraglutida (princípio ativo do Saxenda) ou com exercício físico ou com o remédio e atividade física combinados ou placebo. Terminado esse período, passaram por mais um ano de acompanhamento.
Os resultados finais mostram que, além de promover resultados mais significativos durante o tratamento, a combinação dos exercícios com atividade física também garantiu uma retenção mais prolongada da perda de peso. Mais voluntários desse grupo mantiveram uma redução de no mínimo 10% do peso inicial se comparado aos que receberam placebo ou liraglutida.
“Uma coisa que protege contra a falência do tratamento contra a obesidade é a prática de exercício”, diz Zajdenverg. Por isso, para os especialistas, o advento das novas drogas não elimina nem substitui os métodos mais tradicionais de combate à obesidade, principalmente a busca por um estilo de vida menos sedentário.