Principalmente a possibilidade de não só iluminar cada caminho individual, mas abrir o espaço para a colaboração. A minha trajetória, por exemplo, é fruto de muitas alianças, de muitas amizades com outras mulheres. Gabriela Carneiro da Cunha
Colaboração em dois caminhos
Há sete anos, a dupla encontrou o xamã Davi Kopenawa com a ideia de transformar “A Queda do Céu” em filme. “Ele abraçou demais a ideia porque sempre quis que mais pessoas soubessem dessa história”. Desde então, eles mergulharam em pesquisas e textos para botar o projeto em pé. Até que o sogro de Davi, uma pessoa muito importante na vida do xamã, acabou falecendo e Gabriela e Eryk foram convidados a gravar o Reahu, ritual funerário e mais importante celebração yanomami que dura semanas.
Da “cidade”, a produtora levou uma equipe enxuta, apenas 5 pessoas, incluindo a Gabriela. Mas, no local, contou com o apoio e o conhecimento de profissionais indígenas. “Já que não queríamos trazer apenas o nosso olhar sobre o povo Yanomami, mas principalmente o olhar deles sobre a gente”- Aconteceu, assim, um intercâmbio de conhecimento: “Enquanto eles nos ajudavam a fazer o documentário, também produzimos curtas-metragens deles”. Um dos produtos dessa parceria foi o curta-metragem “Mãri hi – A Árvore do Sonho (2023)”, de Morzaniel Iramari, que foi premiado no festival “É Tudo Verdade” do ano passado.
Para Gabriela, é importante falarmos da perspectiva dos povos originários sobre a terra, principalmente em um momento em que as mudanças climáticas estão ficando cada vez mais evidentes. “O Davi fala uma coisa muito profunda sobre a gente: que somos um povo que dorme muito, mas que sempre sonha apenas com nós mesmos”, pontua a cineasta.
Além de “A Queda do Céu”, Gabriela continua seu trabalho com a escuta dos rios amazônicos. Para isso, conta com o apoio e orientação de mulheres ativistas para contar histórias que, muitas vezes, homens não veem com atenção. “Atualmente estou trabalhando com os Tapajós sobre a contaminação das águas pelo mercúrio do garimpo ilegal”. Este é um aspecto que atinge principalmente as mulheres indígenas gestantes, já que o problema “contamina” seus úteros e leite materno. “É uma parceria de muita mulheridade para trazer à tona essas vozes que costumam ser silenciadas. É uma luta pelo território, pelos filhos e pelo útero das tapajós”.