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Quando vemos homens realizando trabalhos socialmente tidos como “de mulheres”, raramente alguém os questiona. No entanto, quando ocorre o inverso, há indagações. Isso, infelizmente, ainda é natural, já que vivemos em uma sociedade patriarcal.
Mulheres incomodam, não importa onde estejam. O estudo Mulheres no Mercado de Trabalho, realizado em 2023 pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), revelou dados significativos sobre a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro.
As mulheres costumam estudar por mais tempo do que os homens, destacando-se na qualificação educacional. Porém, apesar desse avanço educacional, elas ainda enfrentam barreiras substanciais no mercado de trabalho, com menos de 40% das mulheres ocupando cargos de liderança no país.
Já um estudo da McKinsey & Company apontou que a presença feminina em setores industriais é ainda menor, refletindo uma sub-representação significativa em áreas tradicionalmente dominadas por homens.
As brasileiras recebem, em média, 19,4% a menos que os homens. Em cargos de dirigentes e gerentes, essa diferença de remuneração é ainda maior, chegando a 25,2%. Esses dados foram revelados por um levantamento realizado pelo Governo Federal, baseado em informações de quase 50 mil estabelecimentos comerciais.
Segundo o estudo A Presença Feminina nos Filmes Brasileiros, realizado pela Ancine e pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), apenas 25% dos filmes lançados no Brasil entre 2017 e 2019 tinham mulheres como diretoras, 19% contavam com roteiristas e 35% na produção executiva.
A participação feminina nas telas também é desigual, com mulheres representando apenas 37,1% dos personagens com falas. Em 25% dos filmes analisados, as mulheres não desempenhavam nenhum papel importante, e em 33% dos casos, elas não tinham falas ou sequer eram creditadas.
Há um grande abismo no cinema, principalmente quando estamos falando de oportunidades para mulheres. Para falar sobre o tema, entrevistei , que é cineasta, professora e produtora. Ela comanda o Selo ELAS, que oferece consultorias para mulheres que desejam atuar no audiovisual.
Ela diz que “é frustrante lidar com tanto preconceito, mas estou feliz por estar nesta posição de impulsionar outras mulheres”. Sturm afirmou também que seu maior desejo era que esse projeto não existisse mais, porque teríamos, enfim, diminuído a desigualdade neste âmbito.
Pensando nisso, esta semana escrevi um texto de opinião em que refleti como seria o filme “Furiosa: Uma Saga Mad Max” se fosse dirigido por uma mulher. A obra do diretor George Miller apresenta uma história centrada em um universo pós-apocalíptico completamente dominado por homens e protagonizada por uma mulher –mas falta aprofundamento nessa personagem. Talvez, se o filme fosse levado às telas por uma mulher, o resultado seria diferente
Afinal, claro que homens podem continuar fazendo histórias sobre mulheres com o viés deles, mas nós já estamos em 2024 –até quando eles vão continuar ocupando nossos espaços?
Em Hollywood, especificamente, as mulheres representaram 22% de todos os diretores, roteiristas, produtores, produtores executivos, editores e diretores de fotografia que trabalharam nos 250 filmes de maior bilheteria em 2023. Isso representa uma queda de 2 pontos percentuais em relação aos 24% em 2022, dizem os dados do The Center for the Study of Women in Television and Film (Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão) no relatório anual Celluloid Ceiling.
Os números fortalecem o questionamento, mas não preenchem espaços.
Li por aqui
Falando mais um pouco sobre mulheres, nesta semana, na Folha, Juliana Matias escreveu sobre a sexualização dos uniformes que as atletas usam em competições esportivas. Os trajes femininos da equipe de atletismo dos EUA para as Olimpíadas de Paris, feitos pela Nike, foram criticados por serem cavados e sexistas.
As atletas alegam que os trajes priorizam a aparência sobre a funcionalidade e conforto, refletindo uma comercialização da imagem feminina. Katia Rubio, da USP Universidade de São Paulo), destaca a necessidade de priorizar o bem-estar das atletas, enquanto Lauren Fleshman aponta a objetificação das mulheres e afirma que homens não usariam uniformes similares se não fossem benéficos para a performance.
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Para continuar na temática feminina e encerrar o ciclo de maio, no começo deste mês assisti à jornada romântica de Kristen Stewart no suspense alegórico “Love Lies Bleeding: O Amor Sangra”.
Dirigido pela britânica Rose Glass, o filme subverte papéis de gênero e mostra que o poder feminino pode, e deve, ganhar novas narrativas, com 100% de aproveitamento no quesito representatividade e diversidade.
Além da mulher na direção, temos Glass e Weronika Tofilska no roteiro, e presenças femininas em design de produção, direção de arte, efeitos visuais, mixagem de sons, produção e mais.
“Love Lies Bleeding: O Amor Sangra” está em cartaz nos cinemas brasileiros.
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