A capital paulista concentra 96,3% dos casos de coqueluche do estado. De 1º de janeiro a 5 de junho, o CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica), ligado a Secretaria Estadual da Saúde, confirmou 109 ocorrências da doença. Destas, 105 estão na cidade de São Paulo.
“Nem todos os locais fazem a investigação como deveria. Segundo, é a maior concentração populacional do estado de São Paulo —teoricamente já era para ter maior número de casos mesmo. O terceiro fator é a disseminação do processo. Se você tem um bebezinho com coqueluche na creche e não faz a investigação adequada, a doença passa para os demais”, afirma o pediatra e infectologista pediátrico Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Embora os casos de coqueluche tenham diminuído com a vacinação, a doença nunca deixou de circular. E, com a piora da cobertura vacinal, voltaram a aumentar.
A coqueluche é transmitida pela bactéria Bordetella pertussis, principalmente através de gotículas de secreções da orofaringe eliminadas pela fala, tosse e pelo espirro.
“Na fase inicial é uma tosse comum, um quadro gripal que dura, em média, duas, três semanas. E depois começa a tosse paroxística. É a tosse em guinchos. A criança tosse até ter falta de ar. Nessa fase, que dura cerca de quatro semanas, costumamos ter as maiores complicações da coqueluche. Depois vem a terceira fase, que é de recuperação. Leva de três a quatro semanas”, diz Otsuka.
“A doença se caracteriza por um comprometimento respiratório, principalmente em crianças pequenas, em bebês que não foram vacinados ou que ainda não têm todas as doses da vacina.”
Segundo Igor Maia Marinho, médico assistente da enfermaria de infectologia do Hospital das Clínicas de São Paulo e infectologista da clínica Sartor, além da tosse, o doente pode apresentar mal-estar, prostração, coriza e febre baixa. Quando a tosse passa de seca a descontrolada, compromete o sono, a respiração, o hábito de se alimentar e causa vômitos. Neste momento, é necessário internar.
Nos casos graves, a coqueluche pode comprometer o sistema nervoso central e levar à insuficiência respiratória, encefalite e alterações pulmonares, como por exemplo, pneumotórax (colapso do pulmão), enfisema, ruptura do diafragma.
“Qualquer criança que tenha uma tosse que não melhore, por mais de quatro ou cinco dias, que esteja atrapalhando a criança nos hábitos diários, a se alimentar, deixando-a mais sonolenta e com dificuldade respiratória, deve ser levada a um serviço hospitalar para que seja investigada a possibilidade de coqueluche ou de outro quadro respiratório”, diz Marinho.
A coqueluche é mais comum em bebês abaixo de um ano, que não foram vacinados ou não completaram o esquema. Dados da capital paulista de janeiro a 1º de junho de 2024 mostram que a faixa etária com mais casos (64) é a de 10 a 14 anos. Em menores de um ano há cinco casos.
Em 2024, na cidade de são Paulo, as semanas epidemiológicas 18 (28/04 a 04/05) e 20 (12 a 18/05) foram as que tiveram mais confirmações da doença —15 em cada.
O avanço da coqueluche fez com que a Secretaria Municipal da Saúde emitisse um alerta aos serviços de saúde públicos e privados da capital para atualizar o cenário epidemiológico da doença e sensibilizar os profissionais em relação aos sintomas respiratórios com tosse persistentes por mais de 14 dias.
A pasta também recomenda manter a vacinação atualizada. A pentavalente (DTP/HB/Hib) —vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis, hepatite B (recombinante) e Haemophilus influenzae B (conjugada)— é aplicada aos 2, 4 e 6 meses de idade, com intervalo de 60 dias entre as doses. O imunizante previne contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pela bactéria H. influenzae tipo B.
A cobertura vacinal da pentavalente no estado, de janeiro a abril de 2024, foi de 76,3%. No município, até fevereiro deste ano, chegou a 93,85%.
O Ministério da Saúde oferta a vacina DTP na rotina do Calendário Nacional de Vacinação, como dose de reforço (aos 15 meses e 4 anos), em continuidade ao esquema primário realizado com a pentavalente.
Para profissionais de saúde e gestantes é indicada a vacina acelular do tipo adulto (dTpa). Nos caso das grávidas, o imunizante deve ser administrado a cada gestação, a partir da 20ª semana. “Quando a gestante é vacinada, o bebê já nasce com uma carga de anticorpo maior e fica mais protegido para esses quadros”, afirma Otsuka.
São medidas de prevenção cobrir a boca ao tossir, a higiene das mãos e o uso de máscaras pelos doentes.