Sabonete líquido, máscara facial e capilar, esfoliante e hidratante corporal. Esses são alguns dos produtos que protagonizam os chamados “banhos premium”, tendência nas redes sociais que incentiva uma rotina prolongada de cuidados com a pele.
No TikTok, entre o público majoritariamente feminino, são comuns os vídeos em que mulheres compartilham a seleção de cosméticos, enfatizando a variedade e mostrando os procedimentos, que podem incluir também os banhos de lua (processos de clareamento de pelo com água oxigenada) e a depilação com lâmina. São mais de 21 mil publicações com a hashtag “#banhopremium” na plataforma.
Neste nicho, não apenas são oferecidas indicações de produtos, aconselhamentos sobre ordem de uso ou diferentes técnicas, mas também é destacado um discurso sobre a importância desta rotina como fonte de autocuidado.
A tendência, inclusive, já é prato cheio para anúncios de marcas de cosméticos e perfumaria. No Google, as pesquisas pelo termo mais do que dobraram desde 2022, atingindo seu pico em maio de 2024.
A influenciadora Anna Luiza Teixeira Santos, 25, é uma das adeptas do banho premium e sua rotina de cuidados está presente em seus vídeos. “As mulheres sempre tiveram o hábito de separar um momento na semana ou a cada 15 dias para fazer uma rotina de cuidados com os cabelos e com a pele. Isso já se chamou ‘spa day’ e agora surge com um novo nome: o banho premium”, diz.
Ela afirma que considera esse tipo de banho aprimorado como uma oportunidade para se conectar consigo mesma. “Não é terapia, mas é terapêutico.”
A avaliação está correta, na visão da psicóloga especializada em terapia cognitivo-comportamental Amanda Carretero. “O banho morno, em especial, é algo relaxante, que libera serotonina [neurotransmissor que gera a sensação de bem-estar] e pode acalmar, trazendo as pessoas para o presente. Tornar isso divertido é um adicional”, diz.
Mas ela alerta para o que percebe como uma armadilha: vincular o autocuidado a apenas uma questão estética. “Muitas vezes uma pessoa toma um banho premium, vai ao salão, faz as unhas, mas isso é fruto de uma pressão estética e uma necessidade de pertencimento, especialmente no que diz respeito às mulheres.”
Praticar autocuidado, para a psicóloga, tem a ver com identificar o que está em falta na sua vida, analisar hábitos que não são saudáveis, como vícios, e agir para equilibrar essa relação. “É preciso individualizar o autocuidado”, diz a psicóloga. Entre os vídeos, há quem defenda, por exemplo, a utilização de apenas um produto favorito que, por si só, já garante a sensação de um banho mais revigorante.
Márcia Linhares, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, considera o banho premium como uma forma interessante de autocuidado e bem-estar. Ela também destaca o banho como algo intrínseco à cultura brasileira. “Isso pode ser atribuído ao clima quente e úmido de grande parte do país, que faz com que as pessoas transpirem mais e se sintam mais confortáveis e higienizadas tomando banhos frequentes. Além disso, é visto como um momento de relaxamento e renovação.”
Do ponto de vista dermatológico, ela tem ressalvas. “É importante lembrar que o uso excessivo de produtos, especialmente em um único dia, pode sobrecarregar a pele e o cabelo, levando a irritações e outros problemas”, diz. Entre as complicações, ela cita ressecamento, alergias, dermatites de contato e até mesmo a desregulação da barreira cutânea, que pode levar a infecções.
“Vamos pensar que uma pessoa vai tomar um banho premium e usou um sabonete líquido, que já tem uma função de desengordurar a pele; logo em seguida, irá esfoliar a pele, o que tira a camada córnea [a mais exterior, de proteção] e o manto lipídico [barreira de proteção, que previne doenças e ressecamentos]”, diz a dermatologista Nicolly Machado, conhecida nas redes sociais como Dra. Sem Rugas.
Seguir esses procedimentos com o clareamento de pelos e depilação com lâmina seria ainda mais agressivo, afirma. “Não é que exista uma frequência adequada [para o banho premium], o ideal é que esses processos não sejam feitos juntos.”
A influenciadora Anna Luiza, que também é formada em medicina, concorda. “É importante consultar um dermatologista e fazer o uso individualizado de cada produto. Tudo em excesso pode fazer mal. Se você tem dermatite, por exemplo, é melhor evitar a esfoliação.”
O que seria, então, um banho ideal? De acordo com Machado, ele precisa ser morno, quase frio; rápido, de no máximo dez minutos e com uso de sabonete hidratante. Ela indica sabonetes feitos à base de glicerina, com vitamina E e também os que possuem óleos naturais, como de amêndoas ou de coco, ou extratos de plantas, como babosa, camomila, lavanda ou calêndula.
“Vale ficar atento ao rótulo para ver se o produto tem álcool, parabenos, corantes artificiais, fragrâncias sintéticas. Os sulfatos são agentes de limpeza que vão produzir a espuma, mas eles podem ser muito agressivos”, afirma.
A frequência de um banho por dia também é defendida por Linhares. “Em um banho comum, o ideal é utilizar produtos suaves e adequados para o seu tipo de pele. Um sabonete neutro, um xampu e condicionador adequados para seu tipo de cabelo e, se necessário, um hidratante após o banho. A frequência de banhos varia conforme o clima e o estilo de vida, mas para a maioria das pessoas, um banho diário é suficiente. É importante não exagerar.”