Um vídeo que circula nas redes sociais desinforma ao dizer que pessoas com HIV (vírus da imunodeficiência humana) injetam sangue em rolos de papel higiênico de banheiros públicos. A gravação mostra um homem agachado no chão da cabine de um banheiro aplicando, com o uso de uma seringa, um líquido vermelho em rolos de papel. Essas pessoas seriam chamadas de “carimbadoras”, por supostamente estarem carimbando os rolos com o intuito de transmitir o vírus propositadamente.
Trata-se de uma simulação, como o perfil que publicou o conteúdo alarmista informa em sua descrição: “Vídeo de fake dramatização com situações que podem acontecer e se prevenir”. Mas houve muita gente que acreditou no post, visualizado mais de 10,2 milhões de vezes no TikTok até 4 de julho. “Por que tem gente que faz isso?” e “O que eles ganham em troca, afinal?” são alguns dos comentários.
A Folha tentou contato com o autor do vídeo, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
Segundo especialistas consultados pela reportagem, a infecção pelo HIV após contato com um papel higiênico sujo de sangue é teoricamente possível, mas improvável. O médico infectologista Rodrigo Santana, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, afirma que a chance de transmissão é de 0,1% em caso de contato do vírus no sangue com a mucosa, que é uma camada fina da pele encontrada na boca e nas regiões genitais, por exemplo. “De todas as linhas de transmissão do HIV, essa seria algo muito pouco provável, mas existe o risco teórico”, diz.
Opinião semelhante tem o médico Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) na unidade de Guarujá (SP). Após assistir ao vídeo, ele afirmou não haver motivo para alarme, “mas vale o alerta para manter boas práticas de higiene”.
Weissmann também alertou para a necessidade de se buscar informações com fontes confiáveis. “É essencial utilizar informações científicas ao abordar questões de saúde, evitando a disseminação de boatos e desinformação que podem gerar pânico desnecessário.”
Sobre o contato do vírus com regiões de mucosa, o infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que a hepatite B é cem vezes mais transmissível que o HIV.
Barbosa destaca que pessoas que vivem com HIV e estão em tratamento alcançam uma condição chamada “carga viral do HIV indetectável”, quando o vírus não é detectado no sangue e nos fluidos sexuais e, por isso, não há risco de transmissão.
De acordo com o Ministério da Saúde, as principais vias de transmissão do HIV são por relações sexuais desprotegidas, por contato sanguíneo, como pelo compartilhamento de seringas contaminadas, ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, se não forem tomadas as devidas medidas de prevenção.
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