Eu estreei “Fuzuê” com quase 100 capítulos escritos, o que fez a novela se tornar uma obra semiaberta. A ideia era começar com 60 capítulos escritos, mas, com a pandemia, eu não parei de escrever. A novela dialoga muito com a realidade. A gente tem mundo pré-pandemia e pós-pandemia e as diferenças são gigantes. Algumas ideias que estavam estabelecidas pré-pandemia sofreram modificações. “Fuzuê” já tinha intenção de ser uma novela escapista, para as pessoas não pensarem em tristeza, mas como ela já não foi exibida logo na sequência da pandemia, essa proposta talvez não fizesse mais sentido para parte do público. Apesar disso, Fuzuê foi uma das novelas que mais vendeu no horário das sete nos últimos tempos. Tivemos mais de 13 contratos na novela.
Qual o desafio de fazer novela numa época em que todo mundo consome conteúdo rápido nas redes sociais e também tem o costume de ver TV com o celular na mão?
Como autor, nosso desafio é saber como essa história longa, que é a novela, vai dialogar com essas pílulas de redes sociais. Os criadores têm que atentar que a novela tem que dialogar com as redes sociais de alguma maneira. Quem vê um não abre mão do outro. O desafio é achar as melhores formas de agregar e fisgar esse público das redes sociais. Se ficar na ideia de que é preciso fazer a novela uma obra de consumo rápido, vai haver um ruído, pois novela não é um formato para se para aprofundar. Trabalhar a expectativa do público é parte da novela.
Como você enxerga a teledramaturgia atual?
De modo geral, vejo uma boa vontade da Globo de querer novas histórias e existe um trabalho de renovação com autores com os colaboradores tendo oportunidade de apresentar projetos autorais. Eu adoraria que o SBT voltasse a fazer novelas como fazia antigamente, como “Éramos Seis” e “Fascinação”. A própria Record, que faz novelas bíblicas aclamadas no mundo inteiro, poderia ampliar mais o leque de produções. Está rolando uma onda de remakes e não sou contra isso. Existe uma geração que não acompanhou as histórias e se elas são potentes, por que não refazer? Uma boa história merece ser contada independentemente se ela já foi contada. Eu adoraria fazer [o remake] de “Roque Santeiro”. Por mais que essa novela seja uma entidade, a história de “Roque Santeiro” dialoga com a sociedade atual e os temas continuam vivos.
Muito se fala numa crise das novelas brasileiras. Nesse cenário, vemos as novelas turcas fazendo muito sucesso mundo afora. O que podemos aprender com os turcos?