A avalanche de novos produtos roubou o verniz de novidade que acompanhava os lançamentos Marvel. Entre filmes e séries na plataforma Disney+, o estúdio desovou 22 novas produções em três anos. Mesmo cravando sucessos inquestionáveis – “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre”, “Guardiões da Galáxia Vol. 3” -, os super-heróis pareciam criativamente inertes.
A situação complicou quando o ator Jonathan Majors, intérprete do vilão Kang (de “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”) e supostamente a âncora da Saga do Multiverso, planejada para expandir ainda mais os horizontes da marca, foi condenado no final do ano passado por agressão e violência doméstica. A Marvel encerrou o contrato com o ator, e o personagem aparentemente foi deixado de lado. O quarto filme dos Vingadores, anunciado como “A Dinastia Kang”, ficou no limbo.
A cultura pop conta com a percepção popular como um de seus alicerces, e embora o estúdio não experimentasse revés financeiro severo, apesar das bilheterias decepcionantes de “Quantumania” e também de “As Marvels”, a confiança do fã ficou estremecida. A turbulência nos bastidores, causada por uma dança de cadeiras de cineastas em projetos na linha de montagem, e a ineficiência em emplacar um produto que furasse a bolha, poderia indicar o começo do fim desse universo. Medidas drásticas, portanto, precisavam ser tomadas.
Foi com surpresa, entretanto, que o público presente fim de semana passado na Comic-Con de San Diego, evento pop mais importante do planeta, viu Downey tomar o palco, anunciando sua volta à Marvel. Não como Tony Stark, e sim como Victor Von Doom, o Doutor Destino, centro da nova saga a ser concluída em dois filmes dirigidos pelos irmãos Russo: “Avengers: Doomsday”, agendado para maio de 2026, e “Avengers: Secret Wars”, que chega aos cinemas um ano depois.
É compreensível que, nesse momento de incerteza, a Marvel tenha apostado no certo em vez de se aventurar pelo duvidoso. Mas apelar para os cineastas que lhes deram seus maiores sucessos – a dobradinha “Guerra Infinita” e “Ultimato” – e para seu ator mais carismático, é sinal claro de controle de danos. No caso dos Russo, que não emplacaram nenhum projeto digno de nota pós-Marvel, é também uma forma de se manter no jogo. Hollywood, sabemos, é cruel.
Downey, por sua vez, não está com boletos atrasados. Pelo contrário, está no melhor momento de sua carreira, especialmente depois de receber este ano o Oscar de melhor ator coadjuvante por “Oppenheimer”. Ainda assim, ele reiterou em diversas entrevistas seu carinho pela Marvel e seu entusiasmo em retornar à casa que fez dele um astro. Se Hugh Jackman reassumiu o papel de Wolverine, mesmo depois da morte do personagem em “Logan”, o que impediria alguma alquimia fantástica em trazer Tony Stark de volta?