A taxa de mortalidade materna entre mulheres pretas no Brasil é quase o dobro em comparação com mulheres pardas e brancas. É o que mostra um estudo da Unicamp que analisou dados do Ministério da Saúde de 2017 a 2022.
A pesquisa publicada na Revista de Saúde Pública, em junho de 2024, apontou que o índice prevalece em todo o período avaliado, todas as regiões brasileiras, faixas etárias e por todas as causas levantadas, evidenciando a cor de pele preta como fator chave.
Em geral, no intervalo pesquisado, a taxa de mortalidade materna foi de 68 mortes por 100 mil nascidos vivos no país. Mulheres brancas e pardas contabilizaram 64 mortes, enquanto o índice para mulheres pretas atingiu 125,8.
Refletindo a mesma disparidade racial, um estudo veiculado na revista Ciência & Saúde Coletiva analisou gravidezes em meninas de 10 a 14 anos entre 2011 e 2021, o que, pela lei, envolve violência sexual. Em média, 26 meninas da faixa etária se tornam mães diariamente no Brasil.
O levantamento revelou que, dos 107.876 nascidos vivos no período, a maioria (73,6%) foi de parturientes negras da região Norte e Nordeste (60,6%), com piores condições de acesso ao pré-natal e maiores desfechos negativos para os bebês.
Segundo Deborah Malta, professora associada da escola de enfermagem da UFMG e coautora do estudo, não só as meninas são prejudicadas, como também os filhos, muito mais sujeitos à morte neonatal.
Na terça-feira (20), a Folha realiza o seminário Mortalidade materna no Brasil, em parceria com o Pulitzer Center, para discutir o problema. Entre os participantes estão duas autoras dos estudos que, entrecruzados, revelam mulheres negras como as principais vítimas da desigualdade racial no país.
A primeira mesa, “Mortalidade com cor”, contará com a professora Débora Santos, da Unicamp, coautora da pesquisa sobre mortes maternas, o chefe da assessoria para equidade racial em saúde, Luís Eduardo Batista, do Ministério da Saúde, e o enfermeiro Gracione Santos, que perdeu a esposa durante o nascimento da filha caçula na pandemia de Covid-19.
Já na mesa “Estupro, vulnerabilidade e ausência de direitos”, Deborah Malta, professora da UFMG e destaque brasileiro no ranking das melhores cientistas do mundo, discutirá com a ginecologista e obstetra Helena Paro e a psicóloga Daniela Pedroso o caminho trilhado por meninas pretas e pardas que engravidam e as soluções para essa questão de saúde pública.
O evento, transmitido ao vivo pelo canal da Folha no YouTube, das 19h30 às 21h20, será mediado pela repórter especial Cláudia Collucci, mestre em história da ciência e pós-graduada em gestão em saúde. O público pode participar enviando perguntas pelo chat do evento.