O surto causado por uma mutação do vírus mpox mais letal colocou o mundo em alerta. A doença se espalhou pela República Democrática do Congo, pelos países vizinhos como Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, e já chegou a Suécia. Pela segunda vez em dois anos, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a Mpox uma emergência de saúde pública global.
Existem dois grandes clados (grupos) do vírus identificados até agora. Na epidemia de 2022, o clado 2 se disseminou pela Europa e região das Américas. Menos agressivo, promovia uma doença mais leve.
O clado 1, que não levou a essa epidemia, ficou restrito à República Democrática do Congo (RDC), na África. Este tipo mostrou ser mais agressivo, com maior mortalidade. Atualmente, há uma variante desse vírus chamada clado 1b.
Essa forma parece ser bastante transmissível, letal e compromete com mais gravidade os órgãos vitais. O risco de óbito é maior. “Não há estudos que mostram se a nova cepa é mais transmissível que a de 2022, quando teve a epidemia. O que dá para afirmar é que a doença é mais grave do que a do surto de 2022”, explica o médico Eduardo Medeiros, diretor científico da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia).
De maneira geral, o vírus mpox é transmitido por relações sexuais, contato direto com as lesões e por gotículas. Abaixo, veja perguntas e respostas sobre a Mpox e as novas variantes.
Quais os sintomas clássicos da Mpox? São diferentes da nova cepa?
Inicialmente os sintomas são febre, dor no corpo, prostração e aumento de gânglios. Após três ou quatro dias aparecem as lesões na pele.
Segundo Medeiros, a nova variante é mais agressiva e pode se disseminar pelo corpo comprometendo outros órgãos além da pele, como o pulmão, o intestino e o fígado. “Pode levar a uma pneumonia mais grave, a uma infecção intestinal e aumentar a mortalidade desses pacientes, principalmente dos imunossuprimidos [que realizam algum tratamento relacionado à imunidade e quem convive com HIV, por exemplo]”, ressalta Medeiros.
Quem já contraiu a doença uma vez pode pegá-la de novo?
Para o infectologista Ralcyon Teixeira, diretor da divisão médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em princípio, quem teve a doença uma vez está protegido. Medeiros concorda que quem já contraiu Mpox guarda algum grau de imunidade, mas reforça que novas variantes fogem da “resposta imunológica”.
“Como elas alteram suas características, elas fogem. Isso aconteceu com a Covid, com o vírus influenza e certamente está acontecendo com o mpox. O vírus se modifica”, explica Medeiros.
A nova variante pode se disseminar no Brasil?
Os especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que não, mas é preciso ficar em alerta. “A Organização Mundial da Saúde autorizou pelo menos duas vacinas, mas ainda não estão disponíveis. Vamos ver no caminho como é que isso acontece. Na outra pandemia nós tivemos alguns casos aqui no Brasil, mas nada que cresceu de forma mais exponencial. A Mpox é uma doença que preocupa”, diz Medeiros.
Crianças e adolescentes são grupos de risco para a nova cepa?
Na República Democrática do Congo, a variante 1b afeta muitas crianças, mas não há essa situação na Europa ou na América. No Congo, a nova variante é epidêmica e transmite com mais frequência, por isso as crianças são muito acometidas.
Qual o sinal de agravamento da Mpox? Como saber se é caso de internação?
Um sinal de alerta é o aumento progressivo das lesões. “A gente divide a doença pelo número de aparecimento de lesões e pela progressão. Às vezes elas podem continuar aparecendo ou ficar no comprometimento hemorrágico ou necrótico”, explica Teixeira.
Além das lesões, a presença de dor ou prostração são sinais de alerta para internação.
Teixeira, do Emílio Ribas, diz faltar dados na literatura médica e por isso não é possível relacionar diretamente pessoas com comorbidades, como obesidade, diabetes e hipertensão, com Mpox.
Segundo Medeiros, não dá para descartar a hipótese porque pacientes obesos e diabéticos têm tendência a responder de forma pior a essas infecções virais e evoluir para forma mais grave.
Este tipo de caso ainda não tem na literatura médica, então não se sabe. É importante afirmar que, nesta situação, há uma somatória de fatores de risco.
“Se o paciente tem Mpox e evolui de forma grave, provavelmente existe alguma dificuldade imunológica ali. Ao contrair um vírus respiratório, você pode piorar o comprometimento pulmonar. Isso é uma hipótese. Pode acontecer pela circulação, mas não é o habitual. Há casos de HIV com mpox”, diz Teixeira.
Corre risco a pessoa que convive com HIV e tem imunidade baixa, ou que não sabe que tem o vírus e não se trata.
A gestante tem maior risco de gravidade?
Sim. A gravidez leva à diminuição da imunidade contra as infecções e portanto é possível evoluir para a forma mais grave. Além disso, pode haver transmissão vertical, isto é, da mãe para o bebê, e causar óbito fetal.
O vírus mpox é transmitido pelo leite materno?
Como o vírus circula pelo sangue, é provável que sim, mas a transmissão é fundamentalmente por contato com as lesões. Isso vale para a forma branda da doença também. “Se a mãe tiver lesões pelo corpo, deve evitar o contato com o bebê. Durante o período de transmissão do vírus, que varia entre o início dos sintomas até em torno de 28 dias, três a quatro semanas, a gente evita a amamentação”, explica o diretor da SPI.
Se você encontrar alguma lesão ativa e desprotegida, sim.