Com o aumento dos atendimentos por problemas respiratórios causados pela fumaça dos incêndios que atingem o interior paulista, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto criou, em conjunto com a Secretaria de Estado da Saúde, um plantão 24 horas para avaliar, por meio da telemedicina, casos de pacientes e encaminhá-los aos níveis assistenciais mais adequados dependendo do risco de gravidade de cada um.
A iniciativa faz parte de um plano emergencial anunciado neste domingo pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para ampliar o atendimento. Em entrevista à Folha, o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, disse que o acordo inicial envolveu 26 municípios da região de Ribeirão e que seria estendido a mais 50 cidades da região de Franca (SP).
Paiva explica que casos leves, como irritação das vias aéreas e tosse seca, serão atendidos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde). “Pedi para os municípios fazerem um levantamento para ver se há falta de medicamentos e insumos para providenciarmos.”
Os casos considerados moderados, com algum grau de insuficiências respiratória, por exemplo, e que precisam de suporte de oxigênio, serão triados para as UPAs e os prontos-socorros. E os casos mais graves, encaminhados diretamente aos hospitais.
“A notícia boa é que não tivemos nenhum caso de insuficiência respiratória grave ou de queimados. Com isso, os hospitais não estão pressionados”, diz ele.
Segundo o secretário, o impacto maior até o momento tem sido nas UBSs e UPAs, com aumento de até 40% nas queixas relacionadas aos efeitos dos incêndios.
De acordo com a secretária municipal de Saúde de Ribeirão, Jane Aparecida Cristina, a preocupação é que haja aumento ainda maior nos atendimentos nos próximos dias, especialmente nesta segunda (26) e terça-feira (27), quando é esperado um agravamento nos casos das complicações respiratórias devido à baixa umidade relativa do ar e a inalação de fumaça.
No acordo com o HC, cada município da região se comprometeu a informar o nome e o contato do responsável pelo setor de emergência local para que seja adotada uma linha de cuidado única. “Serão adotados protocolos e condutas homogêneas da região toda em busca de mais eficiência e resolutividade”, reforça Eleuses Paiva.
O secretário diz ainda que serão feitos vídeos e folders com orientações à população sobre como minimizar os efeitos do ar poluído e seco.
A principal preocupação é com pacientes que já tenham uma doença pulmonar de base, como a asma. “Esse paciente não pode parar com medicamentos contínuos, as bombinhas [usadas por asmáticos], por exemplo. Tem um grupo de pacientes que só usa quando tem crise.”
Para a população em geral, o secretário dá seguintes orientações: não sair de casa sem necessidade e suspender a prática de atividades ao ar livre nos próximos dias, umidificar os ambientes com aparelhos ou soluções caseiras (toalhas molhadas e baldes de água, por exemplo), lavar o nariz e os olhos com soro fisiológico e beber água. A hidratação é muito importante para as vias aéreas.
Quem precisar sair de casa, é recomendado o uso de máscara, preferencialmente, a PFF/N95. Se a pessoa esteve em área de queimadas e apresentar sintomas respiratórios como falta de ar, chiado no peito, tontura e dor de cabeça, deve procurar atendimento médico. A inalação de fumaça pode aumentar o risco de infecções respiratórias agudas, especialmente nas crianças e idosos.
Paiva esteve em Ribeirão neste fim de semana e relata ter ficado impressionado com as cenas dramáticas que viu na estrada a caminho da cidade no sábado (24). “Parecia cenas que a gente vê na TV com incêndios na Califórnia [EUA], fogo nos dois lados da estrada. Na viagem de volta, não vi nenhum foco, parece que deu uma parada boa”, disse na tarde deste domingo (25).
A percepção do secretário se reflete nos atendimentos médicos. No sábado, as quatro UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) de Ribeirão Preto registraram aumento de 60% nos atendimentos. Neste domingo, a alta foi de 10,3% em relação aos domingos anteriores, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
Em Altinópolis, na região de Ribeirão, cerca de 500 pessoas precisaram de atendimento médico após a fumaça dos incêndios interromperem uma festa rave que acontecia na área rural do município.
Segundo a prefeitura, as chamas não atingiram o espaço, mas foi preciso socorrer as vítimas que passaram mal após inalar fumaça. Houve pânico e correria. As pessoas foram acolhidas no ginásio municipal de Altinópolis. Ninguém ficou ferido com gravidade, de acordo com a prefeitura.
O índice de qualidade do ar (IQA) e da poluição do ar (PM 2,5) continuava insalubre deste domingo. Segundo o IQAir, uma entidade com sede na Suíça que faz medições da qualidade do ar a partir de estações de todo o mundo, os índices estavam 13 vezes acima do recomendável pela OMS (Organização Mundial de Saúde). A previsão que a qualidade dor ar continue ruim nos próximos dias.