Um instrumento responsivo que identifica o início de um quadro de hipoglicemia e, a partir de então, libera um hormônio que atua para regular o nível de glicose no organismo poderá ser uma ferramenta eficaz para pessoas que vivem com diabetes. O mecanismo, ainda em estágio inicial de desenvolvimento, foi relatado em um artigo publicado nesta quarta-feira (2) na revista científica ACS Central Science.
A hipoglicemia consiste no baixo nível de glicose no organismo. Pacientes com diabetes tendem a sofrer com o problema de saúde: em média, elas experimentam o quadro de 1 a 2 vezes por semana, mesmo que em estágio não muito grave. Isso acontece porque, com a diabetes, é necessário controlar a glicose a fim de não alcançar níveis altos —a hiperglicemia. Em certas situações, no entanto, o tratamento com insulina ou uma alimentação regrada resultam na hipoglicemia.
Uma das formas para lidar com casos assim é por meio do hormônio glucagon, que, entre outras funções, atua na regulação do nível de glicose. No entanto, esse mecanismo é utilizado atualmente somente como uma emergência quando um paciente já apresenta hipoglicemia. O que os autores propuseram foi uma tecnologia que atuasse como uma prevenção para níveis baixos de glicemia.
A tecnologia consiste numa micela, uma espécie de bolha em escala microscópica, que contém o hormônio. Tal elemento foi desenvolvido para ser dissolvido somente quando o nível de glicose está baixo —ou seja, uma forma responsiva de lidar com o problema de saúde. Dessa forma, o paciente pode injetar o líquido que contém tais micelas em seu organismo antes de um quadro de hipoglicemia.
Após a elaboração da micela, os pesquisadores testaram a invenção em camundongos. Uma das preocupações era checar se o elemento permaneceria estável quando o nível de glicose estivesse normal. Caso não, o produto poderia provocar quadros de hiperglicemia, já que haveria a liberação de glicose em um cenário desnecessário.
Nos testes, tais casos não foram documentados, o que é uma indicação da segurança da tecnologia. Além disso, micelas vazias, sem estarem preenchidas por glucagon, foram verificadas para averiguar possíveis casos de toxicidade. Conforme relatado no artigo publicado, o produto também não apresentou tais problemas.
O resultado do estudo foi importante para os autores do artigo, dentre eles Heather Maynard, da Universidade da Califórnia, Los Angeles. A conclusão é um indicativo de que o conceito da tecnologia faz sentido e que pode, futuramente, vir a ser utilizada no tratamento da hipoglicemia. No entanto, ainda é preciso aprimorar essas descobertas —testes em humanos não foram realizados, e isso pode alterar o que foi visto em laboratório e com os camundongos.
Maynard afirma que já existem planos para os próximos anos de forma a, possivelmente, atingir o objetivo de desenvolver a micela para pessoas. “Olhando para os próximos dois a cinco anos, continuaremos a estudar a segurança e a eficácia das micelas responsivas para avaliar sua eficácia potencial no tratamento da hipoglicemia.”
Alguns aspectos são mais relevantes para o avanço da tecnologia. Um deles é sobre a dose mínima que precisa ser injetada para proporcionar o efeito desejado no paciente. A meia-vida das micelas também é algo que os pesquisadores desejam aperfeiçoar: a ideia é entender melhor o período que as micelas conseguem permanecer no corpo humano e como aumentá-lo.
Efeitos colaterais, como aparecimento de uma resposta imune do corpo na presença de um agente exterior, são outro fator que o estudo precisa averiguar. Embora graus de toxicidade não tenham sido observados nos animais, isso pode divergir em humanos. “Esses estudos nos colocarão mais perto de nossa meta de longo prazo de ajudar pacientes diabéticos a regular os níveis de glicose”, conclui Maynard.