O PCS Lab Saleme, laboratório que emitiu supostos laudos falsos que resultaram no transplante de órgãos infectados com HIV, também manteve contrato para a administração de três UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) em Nova Iguaçu (RJ). Os contratos eram firmados com uma OSS (Organização Social de Saúde), que prestava os serviços para a rede municipal de pronto atendimento de saúde no município.
A organização afirma ter pedido o distrato na quinta (11), quando foi notificada pela prefeitura. O distrato é o processo acordado entre todas as partes envolvidas para formalmente encerrar um contrato.
Assim, sobe para 17 o número de hospitais públicos atendidos pelo laboratório investigado pela contaminação de seis pessoas com HIV após transplante de órgãos. Reportagem anterior da Folha mostrou que a PCS Lab Saleme atendia a 14 centros de saúde estaduais, de unidades especializadas em transplantes, problemas cardíacos e até um centro psiquiátrico no centro do Rio de Janeiro.
Em um dos contratos, que tinha vigência até agosto de 2025, a PCS Lab Saleme era responsável por atender exames de rotina, urgência e emergência durante 24 h nas UPAs Austin Dr. Moacyr A. de Carvalho, Dra. Gisele Palhares Gouvêa e Comendador Soares, todas em Nova Iguaçu.
A informação sobres os contratos foi confirmada por um representante jurídico da OSS Positiva (Instituto Positiva Social) à Folha.
A estimativa do próprio laboratório era de 5.000 exames mensais por unidade. Apenas neste contrato, o valor estimado dos pagamentos era de R$ 79 mil mensais, com abertura para acréscimos ao decorrer dos procedimentos.
Em outro, firmado em 2023 e expirado em abril, o valor pelo atendimento era de R$ 50 mil mensais. Nos dois casos, os contratos estabeleciam que deveriam ser feitos exames e coleta de sangue para posterior análise médica.
Os documentos são assinados por Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro e deputado federal Dr. Luizinho, atual líder do PP (Progressistas) na Câmara dos Deputados.
Outro sócio da PCS Saleme, Walter Vieira, preso nesta segunda (14), é médico ginecologista concursado de Nova Iguaçu e exercia o cargo não remunerado como presidente do Comitê Gestor de Vigilância e Análise do Óbito Materno Infantil e Fetal do município. Após as denúncias, ele foi afastado da posição.
A Polícia Civil ainda cumpre 11 mandados de busca e apreensão e quatro prisões no Rio de Janeiro e Nova Iguaçu. Dois suspeitos ainda estão foragidos.
Em nota, a defesa de Walter e Mateus Vieira, outro sócio da instituição, disse repudiar a “suposta existência de um esquema criminoso para forjar laudos dentro do laboratório, uma empresa que atua no mercado há mais de 50 anos” e que ambos prestarão todos os esclarecimentos à Justiça.
O município da Baixada Fluminense começou nesta segunda (14) uma busca por pacientes à espera dos resultados de exames feitos no laboratório. Até agora, nenhuma vítima compareceu.
Os agendamentos também estão sendo reprogramados e um novo laboratório será contratado para o serviço, afirma em nota a prefeitura da cidade. A Polícia Federal também investiga o caso.