Agentes da Polícia Militar e da Polícia Federal retiraram os manifestantes que ocupavam o Hospital Federal de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro, na manhã deste sábado (19).
Os funcionários estavam acampados nas dependências da unidade desde o dia 2 de outubro em ato contra a transferência da gestão do hospital para o GHC (Grupo Hospitalar Conceição), empresa pública vinculada ao governo federal. Há cinco dias, um grupo protestava na porta do prédio para bloquear o acesso.
Representantes do Ministério da Saúde e um oficial da Justiça Federal entraram no prédio, por volta das 6h, acompanhados por agentes da PF e do Batalhão de Choque da PM. Não houve resistência por parte dos manifestantes, que receberam os novos gestores com hostilidade.
Segundo a Polícia Militar, uma manifestante foi conduzida à 21º DP por desacato. “As instalações foram vistoriadas e a situação encontra-se normalizada”, afirmou a corporação, em nota.
A previsão do grupo era assumir a gestão na terça-feira (15), mas as equipes não conseguiram entrar porque manifestantes passaram a fazer vigília na porta da unidade.
Na ocasião, o juiz federal Fábio Tenenblat, da 3ª Vara Federal do Rio, determinou a desocupação do prédio e fixou multa diária de R$ 50 mil contra o Sindsprev (Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde e Previdência no Estado do Rio), em caso de descumprimento.
O grupo está em greve há cinco meses e já vinha protestando contra a intervenção nas últimas semanas, ocupando dependências internas do hospital.
Na quinta (17), um carro oficial do Ministério da Saúde tentou acessar o hospital, mas foi impedido por um grupo que se posicionou em frente ao veículo. O motorista tentou avançar e quase atingiu alguns manifestantes.
Liderados pelo Sindsprev, os servidores protestam contra a redistribuição da gestão dos seis hospitais federais do Rio de Janeiro, chamada por eles de “fatiamento”.
O Ministério criou em março um comitê gestor com o GHC, a Fiocruz e a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) para reestruturar e transferir a gestão desses hospitais, mal avaliados pela ministra Nísia Trindade desde a posse, em 2023. No primeiro ano do governo Lula (PT), a pasta disse ter registrado 593 leitos fechados, enfermarias e centros cirúrgicos interditados, falta de insumos e medicamentos e déficit de 7.000 profissionais.
Os manifestantes acreditam que a mudança na gestão pode afetar a transparência da aplicação de recursos e colocar em risco servidores de carreira, especialmente os que trabalham no hospital de Bonsucesso, pois podem ser identificados devido aos protestos.
A pasta afirma, no entanto, que os profissionais do hospital federal de Bonsucesso poderão optar por continuar atuando no hospital ou podem ser transferidos para outras unidades da rede federal.
Após a entrada na unidade neste sábado, o secretário adjunto de Atenção Especializada à Saúde, Nilton Pereira Junior, disse que o objetivo agora é fazer um diagnóstico rápido e iniciar os procedimentos administrativos, gerenciais e assistenciais, para reabrir o hospital.
“Hoje, 200 leitos estão fechados. Precisamos melhorar a qualidade da infraestrutura do hospital. Vamos reabastecer com insumos e medicamentos suficientes para oferecer assistência de qualidade”, disse.
A expectativa é de que a unidade tenha a transição de gestão completa em 90 dias, assim como a abertura da emergência e a entrega progressiva de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e leitos comuns.
Atualmente, o hospital possui 200 pacientes internados, sendo sete na UTI, segundo o Ministério da Saúde.
Em nota divulgada neste sábado, o CFM (Conselho Federal de Medicina) disse considerar lamentável apelar para decisões judiciais para resolver problemas internos hospitalares e um equívoco o uso de forças policiais num ambiente de atendimento em saúde, por causar estresse desnecessário aos pacientes, aos médicos e outros membros das equipes de atendimento.
Também cobra do governo a adoção de medidas urgentes que resgatem os hospitais federais do Rio de Janeiro da crise na qual estão imersos, garantindo-lhes recursos para que sejam providenciadas adequadas condições de trabalho aos profissionais da saúde e de atendimento para a população.
Segundo o conselho, é fundamental neste processo ações que visem a valorização dos médicos e das equipes de saúde, além de maior transparência das ações por parte dos gestores da unidade, respeitando os direitos dos trabalhadores e da população e fortalecendo vínculos de confiança com a comunidade.
O GHC é um grupo hospitalar do Rio Grande do Sul fundado como empresa privada em 1960. Atualmente é uma empresa pública, com personalidade de direito privado, e tem controle acionário integral da União.
O Hospital Federal de Bonsucesso é considerado pelo Ministério da Saúde uma unidade de referência em serviços de média e alta complexidade, especialmente cirurgias oncológicas e de cabeça e pescoço. Além de Bonsucesso, as unidades são Andaraí, na zona norte, Lagoa e Ipanema, na zona sul, Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, na zona oeste, e o Hospital dos Servidores do Estado, no centro da cidade.
Em outubro de 2020, durante a pandemia de Covid, o hospital de Bonsucesso foi atingido por um incêndio e três pacientes que estavam internados morreram. Dos seis prédios do hospital, dois foram evacuados e quase 300 pacientes precisaram sair às pressas.