A farmacêutica Amgen anunciou nesta terça-feira (26) que um medicamento experimental contra a obesidade ajudou pacientes a perderem, em média, até 20% do peso corporal em um ano. O medicamento, chamado MariTide, é administrado por injeção mensal, enquanto outros medicamentos para obesidade já disponíveis no mercado, como Wegovy e Mounjaro, exigem injeções semanais.
Os dados foram obtidos de um estudo clínico com quase 600 pessoas. O ensaio foi um teste de fase 2, que avaliou tanto a eficácia quanto a segurança do medicamento. O MariTide ainda precisa passar por mais fases de testes clínicos, com um número maior de pacientes, e receber aprovação da Food and Drug Administration (FDA) antes de ser disponibilizado para os pacientes. A Amgen ainda não definiu o preço do medicamento.
A empresa não divulgou dados detalhados —que serão apresentados em um estudo revisado por pares em um futuro congresso, segundo a companhia. Para atender aos requisitos da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), foi fornecido apenas um resumo com dados preliminares, que podem afetar o preço das ações da empresa.
Jeffrey Flier, pesquisador de diabetes e obesidade na Universidade de Harvard, considera os resultados “promissores” e afirma que MariTide “pode ser um futuro competidor em um mercado altamente competitivo”.
Jay Bradner, diretor científico da Amgen, destaca um efeito surpreendente do medicamento: quando o ensaio foi concluído, muitos participantes conseguiram manter a perda de peso por até 150 dias. Isso abre a possibilidade de injeções menos frequentes ou até mesmo de os pacientes não precisarem usar o medicamento de forma contínua.
A Amgen também testou o MariTide em pacientes com diabetes tipo 2, um grupo que tende a perder menos peso com os novos medicamentos para obesidade. Nessa população, a perda de peso média foi de até 17% do peso inicial.
Alguns pacientes relataram efeitos colaterais, como náuseas que duraram em média seis dias e vômitos que persistiram de um a dois dias. Em todos os casos, os efeitos adversos desapareceram por conta própria.
O medicamento da Amgen difere dos atuais tratamentos para obesidade, como Wegovy, da Novo Nordisk, e Zepbound, da Eli Lilly. Esses medicamentos são GLP-1, ou seja, ligam-se a uma proteína na superfície das células que respondem ao hormônio intestinal GLP-1. Por outro lado, MariTide é um anticorpo, um tipo de medicamento de longa duração no corpo. O anticorpo possui dois peptídeos que também se ligam aos receptores de GLP-1.
Esse anticorpo bloqueia os efeitos de outro hormônio intestinal, conhecido como GIP. Bradner explica que a empresa optou por bloquear o GIP porque tinha dados genéticos da Islândia que indicam que pessoas com uma variante que impede a ação do GIP são naturalmente mais magras.
Embora a eficácia do medicamento ainda seja um mistério, Bradner observa que os medicamentos da Eli Lilly, como Mounjaro (para diabetes) e Zepbound (para obesidade), ativam o GIP. “Então, por que um medicamento como o MariTide, que inibe esse hormônio, seria tão eficaz?”, questiona Bradner. A empresa está patrocinando estudos em camundongos para tentar entender melhor o funcionamento do medicamento.