Um advogado de Donald Trump assinou, em junho, uma declaração por escrito dizendo que todo o material sigiloso e mantido em caixas na casa do ex-presidente na Flórida havia sido devolvido ao governo americano, revelou reportagem do The New York Times deste sábado (13).
Trump está sendo investigado por possíveis crimes de espionagem, obstrução da Justiça e destruição de materiais do governo. Na última segunda-feira (8), agentes do FBI retiraram 20 caixas de sua mansão em Mar-a-Lago, contendo 11 conjuntos de documentos com algum tipo de classificação sigilosa
De acordo com o jornal, a existência da declaração é uma possível indicação de que o ex-presidente ou sua equipe não foram totalmente transparentes com os investigadores federais, visto que a apreensão revelou o contrário.
O termo teria sido assinado depois que Jay Bratt, um alto funcionário de segurança nacional do Departamento de Justiça dos EUA, visitou o clube de praia na Flórida no dia 3 de junho, quando se encontrou com dois advogados de Trump para discutir o tratamento de informações confidenciais.
A descoberta da declaração também ajuda a explicar por que o mandado de busca utilizado na segunda-feira citava uma possível violação de uma lei criminal relacionada à obstrução.
Na sexta-feira (12), Trump disse que tinha retirado o sigilo de todo o material encontrado em sua posse enquanto ainda estava no cargo, mas não forneceu nenhuma prova de que fizera isso.
Em comunicado publicado neste sábado, Taylor Budowich, um porta-voz de Trump, não confirmou nem negou a reportagem do The New York Times, mas criticou a busca do FBI, dizendo ser uma incursão sem precedentes e desnecessária, a qual faria parte de uma “caça às bruxas fabricada pelos democratas”.
A agência Reuters não conseguiu confirmar o relatório de forma independente e tampouco conseguiu uma resposta imediata do Departamento de Justiça.
O mandado de busca divulgado no fim desta semana mostrou que Trump está sob investigação federal por possíveis violações da Lei de Espionagem, que proíbe espionar para outro país ou manipular informações de defesa dos EUA, incluindo compartilhá-las com pessoas não autorizadas.
Segundo o jornal, no ano passado, funcionários do Arquivo Nacional americano descobriram que, após deixar a Casa Branca em janeiro de 2021, Trump levou uma série de documentos do governo que deveriam ter sido enviados para arquivos. Em janeiro de 2022, o ex-presidente devolveu 15 caixas com materiais, que incluíam diversas páginas marcadas com algum grau de sigilo —o que levou arquivistas a acionarem o Departamento de Justiça.
As autoridades, então, emitiram uma intimação pedindo que Trump devolvesse documentos que acreditavam estar em sua posse. Como parte desse esforço Jay Bratt, o alto funcionário de segurança dos EUA, foi à Flórida em junho, onde se encontrou com advogados do ex-presidente, que mostraram as caixas contendo documentos retirados da Casa Branca.
Segundo o New York Times, Bratt e sua equipe saíram com o material e também obtiveram a declaração por escrito de um dos advogados atestando que todo documento classificado como sigiloso havia sido entregue.
No entanto, o material retirado da casa de Trump pelos agentes do FBI continha 11 conjuntos de documentos com algum tipo de marcação confidencial ou secreta. Alguns, inclusive, pertenciam a categorias que só autorizam a visualização dentro de uma instalação segura do governo.
Foi o próprio Trump quem revelou, no fim da tarde de segunda, que sua casa na Flórida havia sido alvo de uma operação de busca. Na imprensa americana, já se fala em informações secretas sobre pesquisas nucleares.
No Telegram, o ex-presidente afirmou que essa acusação “é uma farsa”, como também seriam as acusações de que ele fora ajudado pelos russos na eleição e os processos de impeachment que sofreu.
Na quinta-feira (11), após uma série de acusações de perseguição política, o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, secretário do Departamento de Justiça, ao qual o FBI é subordinado, foi à TV dizer que aprovou pessoalmente a operação, indicando só ter tomado essa decisão após tentar medidas menos invasivas antes.
Trump nunca saiu do cenário político dos EUA desde que deixou a Presidência, há cerca de um ano e meio, mas poucas vezes passou tanto sufoco quanto nesta semana. Além da inédita operação de busca em sua casa, que pode se transformar num caso criminal, ele invocou 440 vezes o direito de ficar calado durante um depoimento a autoridades em Nova York.
A investida contra o ex-presidente, admitida publicamente pelo Departamento de Justiça do governo Joe Biden, elevou as tensões no país. Na quinta, um homem armado tentou invadir um prédio do FBI em Cincinnati (Ohio), trocou tiros com agentes e foi perseguido até ser morto. O atirador era um prolífico apoiador de Trump em redes sociais, e a corporação investiga se ele tem ligação com grupos extremistas do país.