O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, triplicou o número de candidaturas a deputado federal nas eleições deste ano. Levantamento feito pelo UOL, com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mostra que saltou de 164 candidatos registrados em 2018 para 502 neste ano, um aumento de mais de 200%.
Esse é o recorde de registros de postulantes do PL (Partido Liberal) à Câmara desde 1986, quando a sigla teve 166 inscritos para o cargo.
O segundo ano em que o PL mais lançou candidatos a deputados federais foi em 2002, com 284. Já em 1998, houve 83 candidaturas, o menor número de postulantes a deputado na legenda (93), que foi criada em junhos de 1985 — após José Sarney assumir a Presidência, colocando fim à ditadura militar.
O partido mudou de nome em dezembro de 2006, quando se fundiu com o Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional) e passou a se chamar PR (Partido da República). O retorno ao nome antigo, PL, veio em 2019.
Ou seja, nos anos anteriores a dezembro de 2006, a reportagem utilizou para o levantamento os dados referentes apenas ao antigo PL, excluindo as informações do Prona. De 2006 a 2019, o levantamento levou em conta o PR.
Em quais estados o PL mais investiu em candidaturas neste ano? O partido priorizou os cinco maiores colégios eleitorais do país:
- São Paulo: 71 candidaturas
- Minas Gerais: 48
- Rio de Janeiro: 47
- Bahia: 40
- Rio Grande do Sul: 32
Os números de 2022 diferem do cenário da sigla nas eleições passadas. Em 2018, por exemplo, o PL priorizou São Paulo e Rio de Janeiro, com 46 e 29 nomes, respectivamente.
O terceiro estado que mais recebeu postulantes foi Pernambuco, com 11, seguido de Roraima, com 9 candidatos; Amapá, com 8; Minas Gerais, com 6; e a Bahia, com quatro.
Para Eduardo Grin, cientista político e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), a estratégia do PL de triplicar o número de candidaturas visa ampliar a força da legenda na Câmara para controlar o andamento de projetos na Casa, como PECs (propostas de emenda à Constituição), que dependem de um placar favorável alto.
PL aposta no Nordeste. O número de candidaturas quadruplicou no Nordeste. Segundo levantamento feito pelo UOL, o PL lançou 144 nomes à Câmara dos Deputados para a bancada nordestina, contra 34 nas eleições de 2018 (aumento de 323%).
Os principais estados que abrigam os candidatos do PL são a Bahia, com 40 nomes, seguido de Pernambuco, com 26, e Ceará, com 20.
Nas eleições de 2018, quando a sigla não tinha um candidato a presidente como neste ano, o estado da região que mais recebeu postulantes à Câmara foi Pernambuco, com apensas 11 nomes. Na segunda posição estava o Ceará, com 5. Em terceiro, empataram três estados com 4 candidaturas cada um: Bahia, Maranhão e Sergipe.
O Nordeste é tradicionalmente alinhado ao PT, legenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário de Bolsonaro e líder hoje nas pesquisas de intenção de voto.
Por que a aposta do PL no Nordeste? Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro tenta reverter o favoritismo petista nos estados da região e ampliar a quantidade de palanques bolsonaristas por lá.
Para o analista político Neuriberg Dias, diretor de documentação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), há também a questão dos repasses do chamado orçamento secreto, que fortaleceram políticos aliados em suas bases.
As emendas de relator [fonte do orçamento secreto] favorecem esse grupo ligado a Bolsonaro. Esses candidatos têm mais recursos para ajudar prefeituras e cabos eleitorais. Têm também maior acesso ao fundo partidário e eleitoral, além da estrutura partidária“
Neuriberg Dias, cientista político
O UOL procurou o PL, mas o partido comando pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, não se manifestou.
Por que os partidos têm interessr de aumentar a bancada na Câmara? De acordo com Dias, trata-se de estratégia para a “sobrevivência política” e para que a legenda se fortaleça na próxima legislatura.
“O centrão [grupo de partidos que dão sustentação ao governo Bolsonaro no Congresso] investiu nas bancadas nestas eleições e vem muito forte. Na última eleição, caiu [no número de parlamentares eleitos] pela onda da renovação. Mas o grupo se revitalizou, principalmente após a vitória de Arthur Lira [PP] à Presidência da Casa”, afirmou Dias.
Há, ainda, a questão do fundo eleitoral, que é pago baseado no número de parlamentares eleitos por cada partido na última legislatura. Esse cálculo não leva em consideração as mudanças partidárias feitas por políticos durante o mandato de quatro anos.
“Elevar o número de candidatos no Nordeste é uma opção competitiva melhor que aumentar em outros estados. Estados como São Paulo são muito mais competitivos, e o eleitorado é mais esclarecido. É preferível a estratégia de aumentar candidatos em estados que possam se manter e aumentar a bancada”, disse Grin.
As novas regras eleitorais também impactam nesse número? Sim. Esta será a primeira eleição sem coligações. Além disso, subiu o número necessário para alcançar a cláusula de barreira, que conta para o acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda na TV e no rádio.
De acordo com Grin, as legendas devem obter no mínimo 2% dos votos válidos para a Câmara, distribuídos entre nove estados — ou eleger ao menos 11 deputados nesses estados.
Mudou também a distribuição de sobras para a eleição das cadeiras na Casa. A partir de agora, só são eleitos candidatos de partidos que alcancem 80% do quociente eleitoral (que é a quantidade de votos válidos dividida pelo número de vagas em cada estado) e postulantes com 20% desse quociente.
O PT também investiu no Nordeste? A legenda petista lançou neste ano 369 candidatos, sendo 96 no Nordeste. Em 2018, o partido registrou 403 nomes, sendo 91 deles na região.
Assim como o PL de Bolsonaro, a legenda de Lula também focou na Bahia, maior colégio eleitoral do Nordeste. Lá, tentam uma vaga na Câmara 27 petistas — são 40 do PL.
Outros partidos do centrão também elevaram total de candidaturas à Câmara? Sim. Além do PL, outras siglas que investiram no lançamento de candidatos à Câmara foram o PP, de Arthur Lira, e o PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, condenado no escândalo do mensalão.
A primeira legenda registrou 501 candidaturas à Câmara, em contraponto a 151 registros feitos nas últimas eleições. A segunda lançou 486 candidatos — em 2018, foram apenas 144. Ambas as siglas compõem a base aliada de Bolsonaro no Congresso Nacional.
Segundo Luciana Ramos, professora e pesquisadora da FGV Direito, em São Paulo, a estratégia dos partidos do centrão tem sido traçada, principalmente, para ampliar os recursos de campanha.
Focalizar nesse dinheiro não é o único fator para vencer as eleições, mas mobiliza as legendas. Para se ter uma ideia, mais de 70% das campanhas são financiadas por recursos públicos”
Luciana Ramos, da FGV Direito