A meningite meningocócica foi identidade em cinco casos na zona leste de São Paulo. Uma das pacientes tinha 42 anos e morreu em razão da doença. Esse tipo da doença é considerado como um dos mais graves e mais letal. Em casos raros, pacientes podem falecer em menos de 24 horas.
A situação foi caracterizada como surto pela Secretaria Municipal da Saúde. Uma das medidas para barrar a transmissão foi a vacinação de bloqueio, procedimento em que a população residente próximo aos casos é vacinada.
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o sistema nervoso central. Essa inflamação pode ocorrer de formas infecciosas e não infecciosas e, por isso, também apresenta diferentes quadros para o paciente.
As meningites causadas por bactérias são as de maior risco, sendo a meningocócica a mais conhecida.
A vacina utilizada em São Paulo para o bloqueio previne a meningite meningocócica causada pelo sorotipo C. No entanto, no calendário vacinal do Ministério da Saúde, ela é indicada para crianças. O imunizante deve ser aplicado em duas doses: a primeira aos três meses de idade e a segunda aos cinco. Uma dose de reforço ainda é aplicada aos 12 meses.
Em julho deste ano, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) recomendou que crianças não vacinadas no período ideal pudessem tomar uma dose até os dez anos de idade. A mudança deve se manter até fevereiro de 2023.
Dados do DataSUS indicam que, em 2022, a cobertura está 50% do esperado em todo o país. Mas o sistema não informa a faixa etária considerada para a cobertura vacinal.
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde para a pasta comentar o dado, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Além do meningococo C, os sorotipos A, W e Y da bactéria também causam a doença. Existe uma vacina que protege contra todos esses quatro sorotipos. Segundo o calendário de vacinação recomendado pela Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), esse imunizante pode substituir aquele específico para o sorotipo C.
No entanto, o PNI só disponibiliza a vacina para os quatro sorotipos em adolescentes entre 11 e 14 anos. A imunização para outras faixas etárias, como nas crianças, é restrita a clínicas particulares.
Renato Kfouri, diretor da Sbim, afirma que a meningite associada ao sorotipo A não tem mais registro no país. Além disso, W e Y representam uma pequena parcela dos casos, entre 5% e 10%.
“Claro que é vantajoso ampliar a cobertura, mas talvez não seja prioridade do programa aumentar a proteção para esses sorotipos”, afirma.
Mesmo assim, a tendência é adotar a vacina que abrange todos os sorotipos para crianças, até por uma razão de produção.
“Talvez seja o caminho natural das crianças substituir a C pela ACWY não por necessidade epidemiológica, mas é porque não vai ter outra vacina disponível”, afirma Kfouri.
O meningococo B é outro sorotipo que pode ocasionar a inflamação das meninges. Existe uma vacina específica para o patógeno, mas ela não está incorporada na rede pública. Segundo Kfouri, o alto valor de mercado e a pequena capacidade de produção mundial são impeditivos para incorporar o fármaco no calendário de vacinação.
Os peningococos, outra bactéria, também causam meningites –nesse caso, chamadas de meningite pneumocócica. Vacinas para prevenção dessa infecção estão previstas pelo PNI: duas doses são aplicadas aos dois e quatro meses. Depois, uma dose de reforço é utilizada aos 12 meses.
A vacina BCG é outra que previne quadros de meningites, aquelas chamadas de tuberculosas. Elas são decorrentes de uma tuberculose tratada de forma inadequada. O imunizante é aplicado em esquema de dose única logo no nascimento do bebê e é encontrada na rede pública.
Por último, existe outro tipo de meningite causada pela bactéria Haemophilus influenzae b. A vacina pentavalente disponibilizada pelo PNI atua contra essa infecção. O calendário vacinal para crianças orienta a aplicação de três doses aos dois, quatro e seis meses.
Kfouri diz que é importante vacinar as faixas etárias que estão disponíveis no PNI. “É preciso um esforço, mais campanha, não deixar as vacinas faltarem, entender melhor as causas de não vacinação”, afirma.
Para isso, é importante sempre estar atento a carteira de vacinação porque é possível observar todos os imunizantes por cada faixa de idade. Se os pais identificarem algum problema na carteira ou ficarem com dúvidas, é importante ir a um posto de saúde para regularizar a situação.
“Para todas as vacinas, é importante está em dia e atualizar o que não está. Não precisa ter um surto para ficar preocupado de colocar a carteira de vacinação em dia”, conclui Kfouri.