Bolsonaristas que estão nas manifestações antidemocráticas iniciadas no domingo (30) começaram a convocar para segunda (7) uma possível “greve geral”, em que pedem adesão de empresários.
Um convite para o movimento com ares de locaute (greve de empresas, hoje proibida pela legislação) passou a circular em redes sociais e nos grupos de WhatsApp e de Telegram de pessoas envolvidas com as manifestações.
Na noite deste domingo (6), porém, balanço da PRF (Polícia Rodoviária Federal) aponta que os atos antidemocráticos estão chegando praticamente ao final nas estradas, com apenas dois pontos de bloqueio parcial em rodovias do país. O estado de Rondônia voltou a registrar uma interdição em rodovias federais por manifestantes neste domingo. As interdições ocorrem em Vilhena (RO) e Altamira (PA). A PRF já acabou com mais de mil bloqueios desde o último domingo (30).
Nesses grupos, vem sendo amplamente divulgada a mentira de que há comprovação ou fortes indícios de que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha sido obtida mediante fraude eleitoral.
Inicialmente espalhadas por rodovias em diversos estados, as manifestações passaram a se concentrar em frente aos comandos do Exército nas cidades, onde bolsonaristas inconformados com os resultados das urnas pedem “intervenção federal” e “intervenção militar”. Neste domingo (6), manifestantes que estavam em frente ao Quartel Geral do Exército, em Brasília, falavam sobre a possibilidade de uma greve geral. Havia apenas uma centena de participantes no local.
Segundo as mensagens, a organização estaria sendo feita pelo MNRC (Movimento Nacional de Resistência Civil), grupo que pede a impugnação das eleições e a destituição de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“Feche sua empresa, indústria, fábrica e comércio e vamos lutar contra a instalação do comunismo”, diz o convite distribuído nesta sexta.
Representantes de caminhoneiros dizem que não organizam atos
Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), disse que vídeos antigos, sobre as manifestações de 7 de Setembro, voltaram a circular para propositalmente confundir as pessoas sobre uma nova manifestação nesta segunda (7) e, devido à grande circulação entre os grupos de caminhoneiros desse material, ele espera paralisações em todos os estados da região Sul. “São vídeos antigos, mas qualquer motivo é suficiente para inflamar uma minoria que não aceitou o resultado da eleição”, disse.
Wallace Landim, o Chorão, também afirma que vídeos antigos, do 7 de setembro, estão sendo reaproveitados para inflamar manifestações que não têm qualquer organização de grupos ligados a caminhoneiros. Ele diz que o que se “vê são atos organizados junto a empresas nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso” e que “90% dos caminhões de empresas que aparecem nos vídeos são ligadas ao agro”.
Ele disse estar triste em ver que empresários, políticos e outros apoiadores de Bolsonaro estão usando “o nome do movimento dos caminhoneiros, por causa da força que a gente tem, para promover atos antidemocráticos”, comentou. “O que estamos vendo é um risco de locaute”.
A ABTTC (Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres) informou não ter recebido notificações sobre eventuais paralisações nesta segunda (7) e está se planejando para um dia normal de trabalho.
Daniel Reis de Paula, o Queixada, presidente da associação de caminhoneiros em Oliveira-MG, diz que não há participação organizada de caminhoneiros em qualquer protesto previsto para amanhã. “Não tem nada a ver com caminhoneiros isso”, diz.
Chorão, Queixada e Dahmer mencionaram que, de algum modo, as paralisações estão sendo promovidas ou apoiadas por empresários e fazendeiros, que fornecem alimentos para manifestantes, param caminhões de suas frotas nas estradas e até mesmo despejam entulho e terra em alguns trechos.
Entidades empresariais veem movimentos localizados
Entidades empresariais e sindicatos patronais ouvidos pela Folha disseram não ter conhecimento de adesão à convocação. Não está descartado, porém, que individualmente donos de comércios e fábricas decidam pela paralisação, mas, até sexta a percepção era de que não havia clima para um locaute.
Na última semana, dezenas de empresas em Sinop (MT) anunciaram, na terça (1º), que fechariam as portas mais cedo para aderir às manifestações contrárias ao resultado das eleições.
Na quinta (3), a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Canoinhas, em Santa Catarina –estado que, ao lado de Mato Grosso, concentrou o número de bloqueios de estradas e rodovias– divulgou um comunicado em que convoca os comerciantes “que compartilham do mesmo ideal” a participarem do que chamaram de “movimento democrático”.
No comunicado, assinado pelo presidente da entidade, Cirineu Novak, o CDL recomenda que “caso não queiram fechar seus comércios”, que perguntem aos funcionários se ele querem participaram do movimento e que façam o revezamento de pessoal.
A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina também divulgou posicionamento em rede social, no qual disse apenas que reconhece o direito de as pessoas expressarem seu descontentamento, desde que isso não viole o direito de ir e vir nem afete o desenvolvimento econômico.
Segundo a procuradora regional do trabalho Adriane Reis de Araújo, da Coordigualdade (coordenadoria de promoção da igualdade no trabalho), já começam a chegar ao MPT (Ministério Público do Trabalho) denúncias de empresas encaminhando trabalhadores para protestos.
Se a empresa quiser fechar as portas e dispensar seus empregados no dia de um ato, por exemplo, ela pode, mas não pode obrigá-los a participar de quaisquer ações.
Entidades nacionais, como CNI (Confederação Nacional da Indústria) se manifestaram contrárias aos protestos.
A CNI afirmou que é “veementemente contrária a qualquer manifestação antidemocrática que prejudique o país e sua população”.