Elon Musk provoca Tim Cook e endossa coro contra hegemonia da Apple – 29/11/2022 – Mercado – Zonatti Apps

Elon Musk provoca Tim Cook e endossa coro contra hegemonia da Apple – 29/11/2022 – Mercado

“O que está acontecendo aqui, @tim_cook?”, Elon Musk tuitou na segunda-feira (28) para Tim Cook, CEO da Apple, iniciando uma briga entre o homem mais rico do mundo e a empresa mais valiosa do mundo.

Em uma série de tuítes durante mais de 15 minutos, Musk, o novo proprietário do Twitter, acusou a Apple de ameaçar retirar o aplicativo de sua App Store, medida que impediria novos usuários de baixar o programa de rede social. A ação equivaleria a censura, disse Musk, sem qualquer explicação da Apple sobre o motivo pelo qual o Twitter seria bloqueado. Ele acrescentou que a Apple também reduziu seus gastos com publicidade no Twitter.

“A Apple praticamente parou de anunciar no Twitter. Eles odeiam a liberdade de expressão na América?”, escreveu Musk na segunda.

Com seus tuítes, Musk preparou o terreno para uma luta pelo poder com Cook, que detém enorme influência sobre outras empresas de tecnologia devido ao predomínio da Apple. Musk tem especial interesse agora no poder de influência da Apple por ser o proprietário do Twitter, que comprou no mês passado por US$ 44 bilhões. O Twitter é distribuído pela App Store da Apple e é usado por donos de iPhone e iPad em todo o mundo. Em um tuíte, Musk deu a entender que estava pronto para uma “guerra” com a Apple.

Musk está preparado para enfrentar a Apple desde que assumiu o controle do Twitter. Seu plano de negócios se baseia em mudar sua principal receita da venda de publicidade para uma maior dependência de assinaturas. Mas qualquer nova receita de assinaturas estará sujeita à prática da Apple de cobrar até 30% de comissão.

As reclamações de Musk também ocorrem num momento crucial para a Apple. Há um movimento no Congresso nos últimos meses do ano para aprovar uma série de leis antitruste. Entre os projetos de lei em consideração está o Open App Markets Act (Lei de Mercados Abertos de Aplicativos), que busca dar aos desenvolvedores maior controle sobre seus softwares e permitir que eles evitem as taxas cobradas pela Apple e o Google.

“Elon é o capítulo mais recente em um esforço para reduzir as taxas da App Store, e isso ressuscitará um assunto que esteve bastante calmo nos últimos seis meses”, disse Gene Munster, sócio-gerente da empresa de pesquisa de tecnologia Loup Ventures. Ele disse que prevê um futuro em que as taxas da App Store seriam reduzidas para cerca de 20%.

Musk e um porta-voz da Apple não responderam a pedidos de comentários.

A Apple tem enfrentado cada vez mais reações de desenvolvedores de aplicativos, bem como pressão de reguladores e políticos de todo o mundo, sobre suas políticas na App Store. A loja tornou-se um portal privilegiado onde bilhões de usuários do iPhone baixam Twitter, Facebook, Snapchat, jogos e todos os tipos de programas, tornando-se um árbitro da distribuição de software.

A Apple usa as taxas que coleta na App Store, que foi criada em 2008, para pagar uma equipe de várias centenas de pessoas que revisam cada aplicativo distribuído. A empresa disse que seus revisores de aplicativos protegem a privacidade e a segurança dos clientes, além de evitar que sejam vítimas de fraudes.

Entre as coisas que os revisores avaliam está o uso do sistema de pagamentos no aplicativo da Apple, que ajudou a empresa a arrecadar cerca de US$ 22 bilhões em taxas anuais dos desenvolvedores, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Sensor Tower.

Em 2020, a Epic, fabricante do videogame Fortnite, processou a Apple por comportamento anticompetitivo na App Store. No ano passado, a juíza do caso decidiu principalmente a favor da Apple, concluindo que a empresa protegeu a privacidade e a segurança dos clientes. Mas a juíza também emitiu uma decisão que exigiria que a Apple permitisse que os desenvolvedores vinculassem os clientes a seus próprios sistemas de pagamento. Tanto a Epic quanto a Apple estão apelando no caso.

Na segunda-feira, Tim Sweeney, CEO da Epic, deu seu apoio a Musk no Twitter. Sweeney apontou que a Apple expulsou a Epic da App Store quando ela também desafiou as políticas da gigante tecnológica. Ele questionou se a Apple eliminaria todos os desenvolvedores que reclamassem disso, uma lista que agora inclui Facebook, Spotify e Twitter.

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“A Apple bloqueou o Fortnite poucas horas após a Epic desafiar sua política”, tuitou Sweeney. “Eles destruiriam o Twitter? Spotify? Facebook? Netflix? Em que ponto toda a estrutura podre desmorona?”

A Apple irritou os desenvolvedores de aplicativos por outros motivos. No ano passado, fez uma série de mudanças tecnológicas para aumentar a privacidade das pessoas em aplicativos móveis. Essas mudanças tornaram mais difícil para muitos aplicativos direcionar a publicidade móvel para os usuários, levando executivos de tecnologia como Mark Zuckerberg, CEO da Meta, proprietária do Instagram e do Facebook, a se pronunciarem.

A Apple também exigiu que as empresas criem uma “experiência segura” para que seus aplicativos sejam listados na App Store. Após o tumulto de 6 de janeiro no Capitólio dos EUA no ano passado, a Apple impediu que a rede social de “liberdade de expressão” Parler aparecesse na App Store até que o serviço adotasse filtros de proteção para evitar apelos à violência.

“No meu tempo no Twitter, os representantes das lojas de aplicativos sempre levantavam preocupações sobre o conteúdo disponível em nossa plataforma”, escreveu Yoel Roth, ex-chefe de confiança e segurança do Twitter, em editorial no The New York Times este mês. Roth disse que os revisores da App Store levantaram preocupações sobre pornografia e calúnias raciais no Twitter.

A compra do Twitter por Musk abalou a relativa harmonia entre ele e a Apple. Como um usuário franco da plataforma, com quase 120 milhões de seguidores, Musk costuma usar o Twitter para provocar rivais nos negócios, como Bill Gates ou Sam Bankman-Fried. Sua briga com Cook pode se tornar “uma revolução contra a censura online nos EUA”, tuitou Musk na segunda.

Na semana passada, Musk também pensou em construir seu próprio telefone se a Apple e o Google expulsarem o Twitter de suas lojas de aplicativos. “Eu certamente espero que não chegue a isso, mas, sim, se não houver outra escolha, farei um telefone alternativo”, tuitou.

A Apple instou Musk a preservar a situação vigente. Em entrevista à “CBS Mornings” este mês, perguntaram a Cook se havia risco de o Twitter ser removido da App Store. Ele disse que o Twitter continuará sendo distribuído e elogiou seu compromisso de moderar o conteúdo abusivo.

“Acho que ninguém quer discurso de ódio em sua plataforma, então estou confiando que eles continuarão fazendo isso”, disse Cook.

Phil Schiller, um ex-executivo da Apple que ajuda a supervisionar a App Store, excluiu recentemente sua conta do Twitter quando Musk reintegrou o ex-presidente Donald Trump à plataforma. Cook continua a usar o Twitter, como na semana passada, quando desejou a seus seguidores um feliz Dia de Ação de Graças.

Os ataques de Musk à liderança da Apple podem criar desafios para a gigante da tecnologia “no Congresso, onde a Big Tech ainda é um alvo”, disse Munster, da Loup Ventures. Os republicanos no Congresso abraçaram a compra do Twitter por Musk porque ele prometeu restaurar a liberdade de expressão, assunto sobre o qual falam com frequência. Musk tem ressonância com esse grupo, que está em ascensão em Washington, segundo Munster.

Em setembro, Cook se reuniu com líderes republicanos do Congresso, incluindo o deputado Kevin McCarthy, da Califórnia, e discutiu a importância da liberdade de expressão online, disseram duas pessoas familiarizadas com essas conversas. Como a Apple não possui plataforma de rede social, até agora evitou ser arrastada para esse debate.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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