A maior concessão de saneamento após a aprovação do novo marco regulatório do setor multiplicou os investimentos na rede de água e esgoto da antiga área operada pela Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto), no Rio de Janeiro.
As obras já vêm surtindo efeitos na ampliação do número de habitantes atendidos e na qualidade da água da lagoa Rodrigo de Freitas, ponto turístico na zona sul da cidade, e na baía de Guanabara, que tem praias balneáveis pela primeira vez desde 2016.
A concessão de quatro blocos de municípios para operadores privados teve início com um primeiro leilão realizado em abril de 2021 e foi concluído com outra oferta em dezembro do mesmo ano. A operação começou a ser transferida à iniciativa privada em agosto de 2021.
Desde então, as três concessionárias vencedoras dos leilões investiram R$ 963 milhões, contra R$ 220 milhões gastos pela companhia estadual em 2021. A própria Cedae fechará o ano com alta nos investimentos: até o terceiro trimestre, aportou R$ 300 milhões.
Os resultados, porém, ainda começam a ser avaliados pela Agenersa (Agência Reguladora de Água e Saneamento), que recebeu em novembro o primeiro relatório anual de indicadores da Águas do Rio, maior das concessionárias, que atende 10 milhões de pessoas.
A agência diz apenas que já foi possível verificar que os Índices de Qualidade de Água superaram a marca dos 98% previstos para o terceiro ano de concessão. Nos Índices de Qualidade de Esgoto (IQE), a meta de 98% prevista para o quinto ano foi superada em quase metade das medições.
“No primeiro ano, nosso objetivo principal foi recuperar as estruturas existentes que não estavam em pleno funcionamento”, diz Alexandre Bianchini, presidente da Águas do Rio, a primeira a assumir definitivamente a operação e é fonte da maior parte dos investimentos já realizados: R$ 850 milhões.
O alvo foi a recuperação de elevatórias, reservatórios e expansão da rede, com a construção de 160 quilômetros de tubulação e a regularização da oferta de água para mais de 250 mil pessoas.
Um dos projetos de maior impacto foi a recuperação de um coletor de esgoto que sai do centro e vai até a zona sul da capital. Foram retiradas mais de 600 toneladas de resíduos, incluindo dois patinetes e um vaso sanitário.
Com isso, o sistema pôde receber mais efluentes, que foram desviados para o emissário responsável por despejar todo esse dejeto em alto mar para que o oceano o dilua naturalmente. O resultado deixa Bianchini otimista com relação à possibilidade de despoluição da baía.
Para os próximos anos de concessão, a empresa investirá num cinturão de coletores de esgoto ao redor da baía de Guanabara, projeto de R$ 2,7 bilhões. “A baía troca de água a cada 18 dias. Quando a gente cessar de jogar esgoto, a água fica limpa nesse período”, diz o executivo.
As obras devem gerar 50 mil empregos diretos, segundo as contas da companhia, que já tem hoje 8.000 empregados diretos e um compromisso de investir R$ 24 bilhões durante o período de concessão.
Com uma área de atuação menor, em torno de 1,2 milhão de pessoas, a segunda concessionária a assumir as operações, tem hoje 1.400 empregados. A Iguá atua na Barra e em Jacarepaguá, na zona oeste da capital, e em dois municípios do interior.
Até setembro, a empresa investiu R$ 91 milhões, com foco também em revitalização de instalações e em melhoria da segurança. As primeiras obras, diz o presidente da concessionária, Eduardo Dantas, já resultam em aumento do volume de esgoto que chega à estação de tratamento da concessionária.
Para os próximos meses, os principais projetos são a revitalização do complexo lagunar de Jacarepaguá, que receberá R$ 350 milhões, e a instalação de coletores de tempo seco, sistema que intercepta o esgoto nas galerias da rede pluvial, evitando que seja despejado in natura no meio ambiente.
O sistema tem críticos, mas Dantas defende que é alternativa para locais com mais dificuldades para chegar com rede separadora. “Se fizermos a dragagem [do complexo lagunar] draga e continuar chegando esgoto das comunidades, jogamos dinheiro fora.”
A Rio+ Saneamento, terceira concessionária a assumir operações, em agosto, investiu até o momento R$ 41 milhões, com foco em regiões que tinham o abastecimento precário de água na capital e em Rio das Ostras, a cerca de 200 quilômetros de distância.
“O sistema de abastecimento não acompanhou o crescimento da cidade [que sedia um polo industrial do setor de petróleo]”, diz o presidente da concessionária, Leonardo Righetto. No próximo ano, a cidade receberá R$ 60 milhões em uma nova adutora para resolver em definitivo o problema, diz o executivo.
Outra prioridade é redução de perdas, com a instalação de medidores e a recuperação de unidades existentes. Desde que assumiu, as operações, a empresa já ampliou sua base de clientes em 22 mil unidades e contratou cerca de mil pessoas.
Com um ritmo inédito de investimentos no estado, as concessionárias dizem que a oferta de mão de obra qualificada é um desafio para os próximos anos. Parte do quadro técnico veio de outras concessionárias dos mesmos grupos no país e parte transferida da Cedae.
A empresa estadual, que hoje tem seu foco na captação de água para a região metropolitana do Rio, promoveu dois planos de demissão voluntária desde a concessão, reduzindo seu quadro de empregados de 4,7 mil para 3,2 mil pessoas.
A empresa perdeu quase metade de sua receita, que hoje é de R$ 3,2 bilhões, mas prevê fechar o ano com resultado positivo de R$ 500 milhões, reflexo da redução de custos e da menor necessidade de investimentos na rede de abastecimento e coleta.
O foco para os próximos anos é ampliar a capacidade de abastecimento de água no estado, para acompanhar o crescimento das novas concessionárias, diz o diretor-presidente da companhia, Leonardo Soares. Para 2023, a empresa espera investir R$ 750 milhões.
Parte dos recursos serão aportados no início das obras na estação de tratamento de água Guandu 2, projeto de mais de R$ 2 bilhões que vai ampliar a capacidade dos atuais 43 para 55 metros cúbicos por segundo após três anos de obras.
E começa a panejar a expansão de outro sistema de captação, que atende os municípios a leste da Baía de Guanabara, com uma adutora que vai desviar água do rio Paraíba do Sul. “Com isso, resolvemos o problema de abastecimento pelos próximos cem anos”, diz Soares.