O maior filme de desastre da história do cinema está na Netflix e (apesar dos clichês) vai te emocionar e fazê-lo pensar – Zonatti Apps

O maior filme de desastre da história do cinema está na Netflix e (apesar dos clichês) vai te emocionar e fazê-lo pensar

O apocalipse, como todos sabemos, incita a curiosidade de qualquer um que sinta correr em suas veias ao menos uma gota de sangue que não tenha sido maculado pela indiferença e pelo menosprezo com as incontáveis causas que preocupam — ou deveriam preocupar — o mundo inteiro. Filmes dedicam-se a esmiuçar como seria se o gênero humano se flagrasse presa de uma sucessão de cataclismos que, sem trégua, o encalacrasse numa conjuntura que só apontasse para o fim iminente de tudo, sem nenhuma chance de defesa. Essa ameaça aproximou-se perigosamente quando da eclosão da pandemia de covid-19, mal com que, embora enfraquecido, teremos de conviver para sempre, deixando claro que não é exatamente mera paranoia temer inimigos ocultos.

Depois desse contato com o que há de mais profundo com o que há de mais obscuro e assustador em nossa própria essência, aumentam as chances de nos perdermos na complexidade maravilhosa e sufocante de nossa humana — e, por óbvio, restrita — condição, e em paralelo a esse dispendioso processo, contínuo, lento, sem fim, derrubarmos a meia parede que separa o real da fantasia, um território que, ao passo que é feito de magia e de lirismo singelo, permite que floresça o desvario em estado bruto. Assim, toca a natureza do milagre eventos em que homens comuns protagonizam iniciativas às quais poucos se apercebem logo que começam a tomar corpo, mas que, a despeito das contingências e dos percalços, vão se espalhando, frutificam, prosperam, até que ao resto do mundo só caiba reconhecer a grandeza desses heróis improváveis, sujeitos exasperantemente comuns que se investem — até de um jeito bastante torto — do epíteto de filantropos. Ou apenas grandes amigos da humanidade.

Roland Emmerich é uma referência sólida quando se fala em filmes sobre monstros e hecatombes que ameaçam nossa vidinha singular. Diretor de arrasa-quarteirões a exemplo de “Independence Day” (1996), “Godzilla” (1998), “O Dia Depois de Amanhã” (2004) e “Independence Day: O Ressurgimento”, o alemão reforça a obsessão e o perfeccionismo que o tornaram multimilionário em “2012” — ainda que um certo descompasso temporal faça-se perceber. Parece haver no roteiro de Emmerich e Harald Kloser alguma urgência em devastar tudo quanto a humanidade levou dois milênios para erigir — e não incluo também o que a natureza criou por sua própria conta porque duvido, amparado pela lógica e pela ciência, que florestas, mares, o solo e toda a fauna voltem infinitamente mais vigorosos pouco tempo depois (e o que é melhor: com a certeza da ausência do homo sapiens, quiçá para sempre). “2012” foi lançado no Brasil em 13 de novembro de 2009, ou seja, o diretor e seu corroteirista queriam sua catástrofe para ontem, e a tiveram do jeito mais irretocável. Mas que ninguém acuse “2012” de sisudo ou excessivamente dramático.

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O texto de Kloser tem passagens verdadeiramente luminosas, nada a ver com a desconstrução de Jackson Curtis, o herói nerd de John Cusack, acossado por Kate, a ex-mulher um tanto megera de Amanda Peet, e respondendo bravamente ao desafio de educar crianças num mundo que está, de fato, à beira do precipício em aspectos pouco menos óbvios. A interação de Curtis, escritor meio picareta de livros de ficção científica padecendo de uma crise da meia-idade sentida em todos os seus contornos mais aflitivos justamente por causa do fracasso profissional, com Adrian Helmsley, o cientista vivido por Chiwetel Ejiofor, esse, sim, genial, mas igualmente eclipsado por desastres íntimos, é, categoricamente, o que arrasta o público para as doidices tecnológicas executadas ao longo de mais de duas horas e meia de uma história cíclica, que lhe demanda atenção e alguma boa vontade. Do mesmo modo, as metáforas bíblicas e referências ao livro do Gênesis, com o Noah de Liam James comandando uma imensa arca (!) não chegam nem a arranhar a superioridade narrativa de Woody Harrelson como Charles Frost, um daqueles radialistas ensebados e bem afetos ao sensacionalismo raiz, hoje rebatizado de fake news, de que a América profunda tanto gosta.


Filme: 2012
Direção: Roland Emmerich
Ano: 2009
Gêneros: Ficção científica/Ação/Aventura
Nota: 8/10

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