Quando o primeiro capítulo da franquia ‘Premonição’ estreou em 2000, trouxe um novo conceito para o gênero terror sobrenatural em que a principal antagonista era a própria Morte – uma entidade abstrata, inescapável e temida, que não pode ser parada por nenhuma força. E, dentro do cosmos da saga, no momento em que os jovens conseguiram escapar da trágica explosão do Voo 180, deram início a um efeito borboleta que serviria de base para todas as iterações que se seguiriam, construindo uma estrutura sólida o suficiente para que a Morte pudesse atuar das mais variadas maneiras para consertar a falha na ordem natural das coisas.
Foi assim que surgiu ‘Premonição 2’: após o tremendo sucesso de bilheteria, a New Line Cinema percebeu que poderia ter uma mina de ouro nas mãos ao construir histórias similares que levassem o público aos cinemas – afinal, lidamos com um dos subgêneros mais amados do escopo do terror, o gore, dentro do qual observamos pessoas tentando sobreviver à medida que lutam contra uma força descomunal e invisível. A ideia por trás do segundo longa-metragem era expandir a mitologia arquitetada pelo argumentista Jeffrey Reddick em uma espécie de narrativa-espelho; em outras palavras, enquanto o enredo anterior serviu como apresentação desse universo, o novo permitiria que pontas soltas se atassem da maneira mais aterrorizante possível.
A trama é centrada em Kimberly (A.J. Cook), uma jovem que está viajando com os amigos e que é engolfada em uma cataclísmica premonição que discorre sobre um explosivo engavetamento e ocasiona a morte de várias pessoas. Quando volta a si, ela percebe que viu o que iria acontecer e tenta salvar quem consegue – eventualmente, impedida pela Morte de impedir a morte dos amigos e transformando-se em um alvo. É a partir daí que ela se une ao detetive Thomas Burke (Michael Landes) e a Clear Rivers (Ali Larter, reprisando seu papel do filme anterior), a única sobrevivente do Voo 180 e que sai de seu confinamento num hospital psiquiátrico para colocar um fim nesse caos.
É claro que as coisas não saem exatamente como o planejado e a Morte consegue coletar várias vítimas antes que Kimberly e os outros arquitetem um plano. Ora, eles até mesmo recorrem a William (Tony Todd), um grande conhecedor das forças que atuam no além-vida, para descobrirem o que fazer. No final das contas, Kimberly percebe que precisa se sacrificar para que o tormento termine, voltando à vida em uma espécie de renascimento que não estava nos planos de seu algoz. Mas não é apenas o retrato desses acontecimentos que nos prende a atenção, e sim a sagacidade com a qual David R. Ellis e os roteiristas J. Mackye Gruber e Eric Bress tratam a continuação – garantindo que a história complemente a predecessora. Em outras palavras, a existência de ‘Premonição 2’ é justificável em todos os seus aspectos e, apesar da fraca recepção crítica na época, é entendido como uma honesta inflexão que tem mais camadas do que aparenta.
O primeiro ponto a ser analisado é o modo como a Morte opera aqui. Diferente do filme anterior, que os sobreviventes se tornavam vítimas na ordem em que deveriam ter morrido no avião, Kimberly e os outros se veem numa lista que corre de trás para frente. A protagonista, juntamente a seus amigos, foram os últimos a morrer na premonição, mas os primeiros a serem marcados pela “vilã”. A explicação jaz nos múltiplos easter eggs não intencionais dispostos no longa anterior – em que o fato dos sobreviventes estarem soltos pelo mundo alterou a vida de várias pessoas que cruzaram caminho com eles, ocasionando o supracitado efeito borboleta que precisava terminar. Nenhum deles deveria estar vivo e, durante uma conversa, eles entendem que tudo estava premeditado muito antes do engavetamento.
Kimberly, por exemplo, deveria ter morrido com a mãe em um assalto à mão-armada. Entretanto, ela acabou se interessando pela notícia de um jovem que morrera estrangulado na banheira (Tod, interpretado por Chad E. Donella na iteração anterior) e se salvou do tiroteio; Kat (Keegan Connor Tracy) estava a caminho de uma pousada na Pensilvânia quando o ônibus de viagem atropelou uma garota (Terry, vivida por Amanda Detmer) e ela não conseguiu chegar. Porém, a pousada foi alvo de um vazamento de gás que matou todos os hóspedes durante a noite; Rory (Jonathan Cherry) havia viajado para Paris e tinha ingressos para um teatro que foi palco de um desabamento mortal, mas não chegou a tempo depois de presenciar um rapaz que foi empalado por um outdoor (Carter, interpretado por Kerr Smith).
Os exemplos mencionados acima são algumas das “coincidências” que tiveram início depois da explosão do Voo 180 e que perduraram até o acidente na estrada – reunindo pessoas que já deveriam ter morrido há muito tempo. E, considerando que o organismo operante na balança entre vida e morte estava comprometido, era questão de tempo até que as coisas se rearranjassem e o cosmos pudesse voltar ao normal (uma questão bastante metafísica que inclusive serviria de mote para produções futuras).
‘Premonição 2’ serve como uma sequência perfeita para uma subestimada saga de horror. A produção não só imortaliza a mitologia criada com o primeiro filme, mas explora cenários que condizem com o plano da Morte e que ampliam as múltiplas conexões entre um título e outro. E, caso você ainda não esteja convencido, apenas acredite em mim quando digo que a cena do desastre na rodovia é uma das melhores e mais instigante do cinema.
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