Crítica | Miley Cyrus nos convida para uma íntima jornada com o álbum ‘Endless Summer Vacation’ – Zonatti Apps

Crítica | Miley Cyrus nos convida para uma íntima jornada com o álbum ‘Endless Summer Vacation’

A partir de 2010, Miley Cyrus já havia se dissociado completamente de sua imagem como Hannah Montana e uma das queridinhas da família Disney e abria portas para uma nova era de sua carreira com ‘Can’t Be Tamed’. O subestimado disco foi apenas o primeiro capítulo para uma revolução estética que atrairia, sem justificativa palpável, olhares tortos para as mensagens que queria passar para seus fãs – e até uma reformulação de sua marca artística. Doravante, Cyrus navegaria por uma multiplicidade considerável de gêneros e subgêneros até se reencontrar de diversas maneiras, como o recente e ótimo disco rock-pop ‘Plastic Hearts’, que conquistou a crítica e o público e nos deixou animados para sua própria empreitada.

Três anos depois de seu último álbum, a cantora e compositora retorna para os holofotes com o antecipadíssimo ‘Endless Summer Vacation’. Facilmente uma das iterações mais esperadas de 2023, os fãs foram agraciados com o lançamento do lead single “Flowers” alguns meses atrás – emplacando a faixa no topo das paradas mundiais e adorando a ácida e sensual atmosfera construída por Cyrus. A track, que conta com a produção de Kid Harpoon e Tyler Johnson, transforma-se em uma espécie de narrativa vingativa pincelada com a calmaria de uma semi-balada pop-rock e disco-funk, além de trazer potentes versos antêmicos como “eu posso me amar melhor do que você”. E, agora, podemos desfrutar da jornada completa da obra, uma sinestésica e amadurecida aventura que, sem sombra de dúvida, é a mais coesa da discografia da performer.

Nessa nova investida, Miley não tem medo de explorar recursos novos e nem mesmo de referenciar aqueles que a inspiraram desde o começo da carreira. Temos, por exemplo, o avant-rock de “Rose Colored Lenses”, que se une com vibrantes sintetizadores e com o baixo (este ditando, basicamente, toda a progressão); em “Handstand”, ela se volta para o icônico ‘Erotica’, de Madonna, abrindo espaço para o trip house e o synth-pop, além de introdução falada e exalando delineações literárias à medida que pinta paisagens psicodélicas que constroem um elo entre os instrumentos escolhidos e a tríptica viagem a que nos convida; “Jaded”, por sua vez, soa como uma homenagem da artista a si mesma, promovendo um movimento regressivo a seus álbuns anteriores.

Se há algo que Cyrus aprendeu com o passar dos anos, foi a não dar ouvidos a ninguém além dela. É claro que, como qualquer outra celebridade, ela está atenta ao que os fãs querem – mas o público sabe sua capacidade de fazer escolhas certeiras e destilar enredos que falam sobre empoderamento e autoconsciência – como é o caso de “Island”, cujas referências latinas são mascaradas com a essência experimental das faixas conterrâneas. E, apesar da familiaridade gritante com o lead single e com um refrão um tanto quanto frustrante, o resultado é bem positivo, analisando a solidão como um sentimento positivo e um momento de reflexão e descoberta.

A ambientação antêmica é contínua e ganha camadas inesperadas com “You” (considerada por este que vos escreve a melhor track do disco). Embebida em uma celebração da independência e do amor verdadeiro, em que ela sabe que não precisa de alguém para completá-la, mas sim transbordá-la, a canção nos chama atenção pelos vocais e pela simplicidade instrumental (cortesia da produção de Jonny Coffer e J Moon). Temos bateria, violão, piano e baixo em uma rendição inenarrável e transcendente, traçando similaridades com Bonnie Tyler e SZA, por exemplo. Em um espectro contraposto, “River” nos leva em uma viagem nostálgica pelos anos 1970 e 1980 infundidos em um só, alavancando o dance-pop e o EDM em um saudosismo apaixonante; é claro que os versos não fogem muito da curva, porém, o frenesi sonoro é forte o suficiente para ofuscar os deslizes.

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Outros equívocos momentâneos ocorrem no álbum, como em “Thousand Miles”, que desperdiça o talento de Brandi Carlile ao colocá-la em segundo plano, ou em “Violet Chemistry”, que soa desconexa consigo mesma. Isso não quer dizer que as tracks sejam ruins – muito pelo contrário: enquanto esta promove uma utilização desconcertante dos sintetizadores em uma mixórdia explosiva dos anos 2000 e dos anos 2010, aquela se inclina para um country-pop com pulsões do glam, talvez se valendo demais da arquitetura fonográfica para nos afastar dos tropeços. E nada poderia nos preparar para a incrível balada “Wonder Woman”, marcada pelo piano clássico que fecha com chave de ouro uma trajetória de tirar o fôlego.

‘Endless Summer Vacation’ é uma adição muito bem-vinda à discografia de uma artista que, ano após ano, conquista seu merecido espaço e reitera sua importância no escopo contemporâneo. Miley Cyrus conseguiu superar as nossas expectativas novamente – e garanto que os fãs irão escutar várias e várias vezes esse incrível corpo de trabalho.

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Nota por faixa:

1. Flowers – 4/5
2. Jaded – 4/5
3. Rose Colored Lenses – 4,5/5
4. Thousand Miles, feat. Brandi Carlile – 3,5/5
5. You – 5/5
6. Handstand – 4,5/5
7. River – 5/5
8. Violet Chemistry – 3,5/5
9. Muddy Feet, feat. Sia – 3,5/5
10. Wildcard – 3,5/5
11. Island – 4,5/5
12. Wonder Woman – 5/5

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