Apesar de muitos desconhecerem o personagem, os fãs de histórias em quadrinhos (HQ), bem como escritores e desenhistas, sabem que “Monstro do Pântano” é o responsável por uma das revoluções mais importantes no universo das HQs.
A história por trás dessa revolução é relativamente longa, mas nós, do Multiverso Notícias, tentaremos torná-la mais sucinta e compreensível possível.
“O Monstro do Pântano“, apesar de ser pouco conhecido, é um dos personagens mais antigos das histórias em quadrinhos, com estreia em 1971.
A história de Alex Olsen fala sobre um cientista que estudava uma fórmula para estimular o crescimento das plantas. No entanto, o seu experimento é sabotado, o que gera uma explosão que acaba matando sua esposa e colocando fogo em si mesmo.
Procurando se salvar, Olsen pula nas águas de um pântano próximo, onde as substâncias em contato com o local acabam modificando o seu corpo, transformando-o em um monstro do pântano.
Enfurecido pela morte de sua esposa, o personagem passa o restante da HQ atrás dos responsáveis pelo acidente. Mesmo que sua história fosse acabar em uma HQ apenas, o sucesso levou à continuação da série.
Entretanto, com a diminuição das vendas, ela foi cancelada. Assim, o personagem permaneceu no esquecimento até o projeto para o seu filme em live-action ser lançado em 1982.
Monstro do Pântano nos cinemas e a revolução nas HQs
Apesar de o filme ter sido de fato lançado, existem muitas polêmicas envolvendo seus bastidores. Mesmo com o bom entendimento entre a equipe responsável pelo filme e seus atores, o real problema foi com a produtora, que restringiu muito o orçamento do filme e modificou diversas partes do roteiro original.
Ainda assim, o diretor e roteirista do filme, Wes Craven, é hoje muito lembrado como um dos grandes nomes do terror, e muitos dos detalhes de seu filme “Monstro do Pântano” são elogiados até hoje.
Mesmo que não tenha sido um grande sucesso, o filme ainda arrecadou o suficiente para ter sua continuação e até mesmo gerar uma série animada. Todo esse sucesso nos cinemas trouxe o personagem de volta para as HQs, agora com o roteirista Alan Moore.
Mesmo que você possa desconhecer o mundo dos quadrinhos, Alan Moore dispensa apresentações, sendo o criador de “V de Vingança”, “Watchmen”, “Batman: A Piada Mortal”, dentre muitos outros sucessos. O importante a se destacar aqui é a época dos quadrinhos em que Alan Moore assumiu “Monstro do Pântano”.
Nesse momento, a revisita ao personagem já estava quase sendo cancelada novamente. Além disso, não tínhamos histórias maduras e adultas como hoje. Tudo isso em grande parte por conta de uma pessoa: Fredric Wertham.
Esse homem era um psicólogo que, nos anos 1950, publicou um livro chamado “Sedução do Inocente”. Nessa obra, o autor informava que a abordagem de temas adultos em HQs corrompia os jovens e tornava-os pervertidos e delinquentes.
Não é necessário dizer que os dados utilizados como fonte pelo “pesquisador” eram completamente falsos, forjados pelo autor para desmerecer a arte dos quadrinhos.
No entanto, isso gerou uma norma para as HQs, conhecida como Comics Code Authority (CCA), a qual aplicava limitações ao que podia ser escrito e desenhado nos quadrinhos.
A mudança feita por Alan Moore e ‘Monstro do Pântano’
Desse modo, Alan Moore assumiu a HQ de “Monstro do Pântano”, e o CCA já não tinha mais tanta influência como antes. Portanto, a edição “Swamp Thing #29” foi a primeira impressa sem o selo de verificação da CCA.
E isso não influenciou negativamente a edição. Pelo contrário, foi um das mais vendidas principalmente para o público adulto. Em declaração, Moore revelou que a intenção disso não era uma violência exagerada ou cenas de sexo a cada página, mas a possibilidade de contar uma história madura e interessante para o público adulto.
Depois disso, nenhuma outra edição de “Monstro do Pântano” teve o selo CCA, e essa liberdade criativa para o roteirista impulsionou outros grandes nomes dos quadrinhos, como Neil Gaiman, que afirmou:
“Parei de ler quadrinhos e meio que desisti da ideia de que você podia fazer grandes HQs tão interessantes, importantes e valiosas quanto qualquer outra mídia. Decidi que eram bobagens para garotos.
Então peguei ‘O Monstro do Pântano’, do Alan Moore, li e entendi que tudo o que havia pensado em fazer nos quadrinhos era possível, porque cá estava esse cara fazendo todas essas coisas. Foi uma revelação para mim”.
Sendo assim, se hoje temos a aclamada mundialmente série de “Sandman”, isso é graças a “Monstro do Pântano”, que revolucionou a indústria dos quadrinhos, mostrando que, sim, eles podem apresentar histórias adultas, com terror, questões morais, reflexão sobre a vida e muitos outros assuntos.
Todas essas questões e a mais do que crescente venda de HQs de tom adulto levaram a DC Comics a criar o selo Vertigo. Nesse selo, vemos histórias como a do próprio Sandman, a do adorado John Constantine, Hellblazer, dentre muitos outros. Tudo isso se deve a Wes Craven e a Alan Moore, por sua contribuição em “Monstro do Pântano”.