Antes mesmo de estrear nos cinemas, Urso do Pó Branco (2023) já experimentou os louros do sucesso. O motivo pode ser sintetizado em uma frase repetida à exaustão: “um filme com um urso completamente drogado não pode ser ruim“.
Pois bem, este filme absolutamente tresloucado representa a consolidação do fenômeno dos filmes B de nicho com animais monstruosos, provavelmente nascido com Anaconda, mas popularizado com a série Sharknado e todos os seus filhotes. São filmes em que o conceito da obra é mais importante que o longa em si. Suas cenas esquisitas, narrativa histriônica, premissa estapafúrdia são o bastante para garantir o sucesso do filme, a ponto de quase dispensar qualidade cinematográfica.
Urso do Pó Branco dá um passo além por não ser uma produção direta para streamings (ou para o home video, como em décadas passadas), mas sim um lançamento relativamente badalado para os cinemas. A grande beleza do filme é justamente jogar toda a seriedade longe e apostar em piadas exageradas.
De certa forma, ele funciona melhor como experiência coletiva: rir junto com estranhos em uma sala de cinema ou com amigos diante de uma TV grande o tornará muito mais longevo. Da mesma forma, é nas timelines com vídeos curtos e compartilhamento de GIFs que o filme será eternizado, e não na cabeça de estudiosos de cinema.
A história mostra as consequências de um urso devorar um carregamento de mais de 30 kg de cocaína, lançado de um avião por um traficante riquinho e desastrado. Ao invés de morrer em uma explosão química e metabólica como o urso real (o filme é inspirado em fatos, ocorridos em um parque florestados dos EUA, em 1985), aqui o mamífero se torna um monstro aterrorizante que não apenas mata, mas destroça quem passa pelo caminho dele.
Para não ocupar todos os seus 95 minutos exclusivamente com cenas de ossos quebrados e membros decepados, o filme dirigido por Elizabeth Banks conta com alguns personagens: as crianças que matam aula e vão até a floresta, traficantes que precisam recuperar a droga, adolescentes idiotas, guardas florestais e policiais. Não se apegue a nenhum deles: os humanos só estão lá para encarar a ira do urso monstruoso.
O filme luta para encontrar certo equilíbrio, mas obtém sucesso na maioria do tempo. Embora o urso seja sua principal atração, dar muito tempo de tela para o vilão tiraria todo o apelo dele em poucas aparições, de forma que a solução é tornar o longa uma espécie de comédia de terror slasher para a geração TikTok. Para ajudar, o filme até escalou o humorista Scott Seiss — famoso na rede social como um funcionário niilista que responde raivosamente questionamentos de clientes fictícios idiotas, como você pode ver abaixo.
Assim como um filme de assassinos psicopatas, temos diversos personagens que vão em direção a um mal que não conhecem, e um certo senso de atemporalidade — todos os eventos do filme poderiam ocorrer em qualquer época. Da mesma forma, o filme consegue rir de si mesmo e funciona exatamente quando acelera como os batimentos cardíacos de seu protagonista narcotizado.
O urso tem bastante carisma, e é exatamente por isso que os personagens não podem ser bons demais. Queremos ouvir seus berros, vê-los correndo e assustados. Não é tão diferente de Serpentes a Bordo (2006), com sua premissa extremamente simples e carisma inegável.
No fim, Urso do Pó Branco funciona como uma divertida injeção química de efeito temporário. É um raro filme feito para todos se divertirem, embora em certos momentos encontre certas dificuldades para fazer malabarismos com a quantidade excessiva de subtramas, nos afastando do que importa: um urso gigante totalmente fora de controle.
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