São Paulo, Brasil
“Real Madrid, pode esperar…
“A sua hora vai chegar…”
A torcida do Maringá foi cruel.
Após cada um dos gols, na histórica vitória por 2 a 0, ontem no estádio Willie Davids, o coro puxado pelo vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, era lembrado pelos torcedores paranaenses, que se divertiam como gigante desfalecendo em casa.
Braz sonhava com a final de Mundial contra os espanhóis, que nunca chegou. Pelo clube da Gávea ter caído diante do Al-Hilal, da Arábia Saudita, na semifinal.
Ontem, a derrota vergonhosa foi outra.
Do Flamengo na Copa do Brasil, para uma equipe da Série D, da Quarta Divisão deste país, que vai muito além da competição, da obrigação de vencer por três gols de diferença, no Maracanã, dia 26.
Aucas 2 a 1, pela Libertadores.
Fluminense 4 a 1, na final do Campeonato Carioca.
Maringá 2 a 0, hoje, pela Copa do Brasil.
Foi a terceira derrota seguida do time mais popular entre os brasileiros.
A equipe foi a que mais foi vencida em 2023, entre os times de Série A. Perdeu oito jogos, 36% de suas partidas.
Justo o clube de maior orçamento já previsto para o ano, que foi anunciado com orgulho, um bilhão de reais.
Gabigol chegou a dez jogos sem marcar um gol, seu maior jejum desde que chegou à Gávea.
A grande pergunta, depois do assustador futebol que o atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil mostrou é: há como esperar Jorge Jesus?
O treinador português já deixou apalavrado que priorizará o Flamengo, depois do final do seu contrato com o Fenerbhaçe, dia 31 de maio.
O presidente Rodolfo Landim e o vice Marcos Braz chegaram à conclusão que o melhor seria esperar. A notícia pela Gávea esta manhã.
Só que ninguém fazia ideia do enorme vexame, da derrota humilhante diante do humilde Maringá por 2 a 0.
Os jogadores andavam, perdidos, em campo.
Uma equipe espaçada, vulnerável, sem força física, sem atitude, sem união.
Deu toda a confiança para o Maringá encaixar a marcação, explorar os contragolpes, a lentidão da zaga, as seguidas falhas de David Luiz, fazer dois gols e terminar a partida com direito a ‘olé’, debaixo da chuva.
Não teve um jogador do clube carioca que tenha tido uma boa atuação.
Os atletas do Flamengo foram para os vestiários cabisbaixos, humilhados, xingados pela própria torcida que foi ao estádio do Maringá.
“Um momento que é difícil.
“Não vai mudar da noite para o dia. A gente tem que ver o que está errando, o Maringá foi melhor que a gente na maior parte do jogo.
“É trabalhar muito e falar menos, ver o que estamos errando para poder voltar para o caminho das vitórias”, disse Everton Ribeiro, também afetado pela mediocridade.
“É um momento que é difícil, não vai mudar da noite para o dia. A gente tem que ver o que está errando, o Maringá foi melhor que a gente na maior parte do jogo. É trabalhar muito e falar menos, ver o que estamos errando para poder voltar para o caminho das vitórias”, dizia, desnorteado, Mario Jorge, treinador do time sub-20 que comandou o time na derrota de ontem.
Ele fez o que pôde.
Montou o time no esquema tático preferido dos jogadores.
Voltou com quatro zagueiros, com Gabigol e Pedro juntos.
O resultado foi péssimo.
As torcidas organizadas, muito influentes na vida do Flamengo, se articulavam para fazer uma visita na Gávea, antes da estreia do time no Brasileiro, domingo, no Maracanã, contra o Coritiba.
O problema serão os 12 jogos seguintes, teoricamente, sem Jorge Jesus assumir.
Ñublense, no Maracanã, pela Libertadores; Internacional, em Porto Alegre, pelo Brasileiro, Maringá, no Maracanã, pela revanche da Copa do Brasil, Botafogo, no Maracanã, pelo Brasileiro; Racing, na Argentina, pela Libertadores; Athletico Paranaense, em Curitiba, Goiás, no Maracanã, Bahia, em Salvador, Corinthians, no Maracanã, todos pelo Brasileiro; Ñublense, no Chile, pela Libertadores e Cruzeiro, no Maracanã, pelo Brasileiro.
Esperar ou não esperar?
Eis a questão.
Os jogadores estão desnorteados, sem comando, sem um treinador que os comande.
Há uma falha imensa na formação da Comissão Técnica do Flamengo.
Não existe a figura do assistente do clube, alguém que esteja pronto para assumir, quando há a necessidade, como agora.
Pessoa que já conheça profundamente o grupo de atletas.
Não Mario Jorge, que comandava o sub-20.
A esperança é que a crise provocada na Turquia, pela revelação de Jorge Jesus, que não renovará seu contrato com o Fenerbhaçe.
A notícia não foi bem aceita pelo presidente Ali Koç. Ele chegou a cancelar a coletiva que costuma dar todas as quintas-feiras, para não ter de tornar pública a decisão do português, de não seguir na Turquia e trabalhar no Flamengo.
O ideal seria que ele antecipasse sua saída.
A multa rescisória é de R$ 6 milhões. Mas Jesus não quer que seja paga. Deseja concluir seu trabalho, já que o Fenerbhaçe está na semifinal da Copa da Turquia e segue em segundo no Campeonato Turco.
Enquanto isso, ficará na lembrança dos jogadores o coro da cruel torcida do Maringá.
“Real Madrid, pode esperar, sua hora vai chegar”…