Cantora, mãe de Gloria Groove e ex backing vocal da Banda Raça Negra, Gina Garcia inicia a carreira solo com o lançamento de um tributo emocionante a Gal Costa, uma das maiores vozes da música brasileira e sua grande ídolo. O show inédito Gina canta Gal, em homenagem à cantora que morreu em novembro de 2022, acontece nesta quarta-feira, dia 3, no Teatro Claro São Paulo. A discografia de Gal permeou a trajetória de Gina na música, iniciada em 1987 em algumas das principais casas de shows da capital paulista.
Em uma coletiva de imprensa da qual o ESTRELANDO participou, a mãe de Gloria Groove revelou que sempre lhe disseram que o seu timbre lembrava a voz de Gal. Aproveitando o fato de sempre ter sido muito fã da artista, Gina decidiu iniciar a sua carreira solo com um tributo após passar décadas atuando como backing vocal. No entanto, teve dificuldade em definir o repertório para o show, que foi baseado em escolhas de seus coração e também reuniu os grandes sucessos que não poderiam faltar na homenagem.
– A Gal permeou a minha vida como cantora, me construiu como cantora pela nossa similaridade de timbre que as pessoas falavam. Eu cantei muito Gal na vida e essa foi a minha construção como profissional, tem quase cem por cento de importância na minha vida como cantora.
Ao falar sobre a trajetória de quase 30 anos com a banda Raça Negra, a cantora conta que está se acostumando com a ideia de pisar em um palco como a artista principal.
– É uma coisa muito louca porque fiquei 29 anos só no Raça Negra. Trabalhei para tanta gente como backing e gravando em estúdios, também fazendo trabalho para gravação de disco. É um lugar que eu sempre amei, uma coisa que eu sempre gostei de ser backing, me preparei para isso, para ser uma profissional do meio, ser reconhecida e trabalhar com os artistas, mas fazer essa troca nesse momento é muito louco tirar essa informação de você não estar lá atrás, está na frente agora, você é a head leader. Às vezes eu falo isso para os meus músicos: Ah é verdade, eu que sou a cantora, desculpa aí, vamos seguir. É uma troca de informação você viver tantos anos nesse lugar; Tem muita gente que vai se surpreender, porque não me conhece solando, me conhece como backing. Grande parte do Brasil, do público em geral me viu lá atrás no Raça Negra, no Faustão, fazendo um backzinho. Quando eu abro a boca para solar, já me aconteceu em vários lugares de me falara assim: eu não sabia que você cantava desse jeito. Ao mesmo tempo que amedronta, é especial demais.
E completa descrevendo a emoção de estar entrando em uma nova fase:
– Para mim está sendo muito realizador estar nesse lugar. O tributo à Gal, dentro da minha carreira solo, tem mais essa especialidade de falar eu estou aqui, representando, trazendo as musicas da minha diva, me apresentando como solista. A responsabilidade é dupla, porque as pessoas chegam com expectativa. Eu já experimentei um pouco de tudo, mas não tinha experimentado ser solista. Gostaria muito que o tributo se tornasse um álbum, mas ainda vai ver a possibilidade. Da mesma forma em que gostaria de fazer algumas coisas inéditas para as pessoas ouvirem Gina Garcia. Isso vai acabar acontecendo futuramente. Está nos planos.
Após trabalhar muito para diversos artistas, chegou a hora dela brilhar ao realizar um sonho de longa data. Gina revela que já tinha gravado o teaser em 3 de dezembro de 2019, mas surgiu a pandemia da Covid-19. Gloria groove disse à mãe que deveria investir e não guardar o teaser, se tornando uma das maiores incentivadoras da carreira solo.
– Quando você começa a carreira, tem sonhos, mas é difícil você fazer um nome, leva um tempo para adquirir uma bagagem, sentir pronta para isso. Depois de eu ter passado por várias etapas da minha carreira tentando galgar todo esse conhecimento que a gente vem trazendo, eu sempre fui apaixonada por backing e isso me deu sustentação de vida até mesmo para criar meu filho e esse era o objetivo principal que eu tinha na frente nesse momento. Falei que agora eu preciso criar meu filho, preciso trabalhar. Esse projeto do sonho da cantora ficou aqui atrás. Nesse momento, ele vem à tona para eu começar a realizar os sonhos que estavam lá atrás. Muito disso tem a mão de Gloria, dessa mudança de chave na minha cabeça sobre a carreira. Agora eu estou em um lugar onde eu posso em dar o luxo de realizar esse sonho de ir atrás da carreira solo.
Ao ser questionada sobre o maior desafio de estar realizando o tributo, Gina deixa claro que se trata de uma homenagem e não um cover.
– O desafio pega exatamente nesse lugar de falar que a minha voz é parecida com a da Gal. Eu talvez vá ouvir comentário do tipo: Nossa, mas essa menina está querendo imitar a Gal? Não é esse lugar, eu estou fazendo uma homenagem. Obviamente, por alguns lugares do nosso timbre lembrar alguma inflexão… Quando você gosta de um artista e ouve ou interpreta ele pela vida, às vezes é difícil sair dessa interpretação que ele deu em algum lugar ou algum momento. Eu não estou preocupada que as pessoas vão comparar, isso vai acontecer, a gente sabe que vai ter comentários positivos e outros não. A minha homenagem vai estar lá. Não é um cover, é uma homenagem.
Encontro emocionante!
A cantora conheceu Gal em 1995 no camarim do show Mina D’água do Meu Canto e o encontro permanece vivo em sua memória:
– O único show que eu consegui assistir de Gal foi em 1995. Justamente por eu ter já essa idolatria a ela, mas a gente está sempre trabalhando nos mesmos dias e nos mesmos horários na profissão e nunca conseguia. Teve um dia que eu consegui ir nesse show e levei na fé meus CDs e o vinil dela. Vai que eu consigo ir lá nesse camarim, vou pedir para ela autografar meus discos. Não custa sonhar, o não a gente já tem. Mas não tinha na verdade essa esperança de que eu conseguisse chegar nesse camarim, porque ela não sabia nem quem eu era, tinha um quilo de gente naquele lugar. Deus é tão bom, que tinha uma cantora lá amiga minha que estava assistindo ao show e eu não sabia que ela era prima de segundo grau da Gal. Ela me encontrou e o papo foi nesse lado, falou que eu ia com ela e consegui chegar no camarim. Gal ficou batendo papo comigo, isso está na minha memória até hoje.
Gina conta que a ícone da MPB pessoalmente era diferente do que ela imaginava.
– Ela falava muito devagar, muito pausada, uma pessoa muito para dentro. Acho que ela era tímida, eu estranhei bastante. No show eu também tive essa estranheza, porque ela é uma pessoa muito quieta no palco, não é falante como eu sou. Tinha horas que eu olhava e ela falava obrigado fora do microfone, só via ela mexer a boca e não tinha uma comunicação mais ativa com o público, era aquela coisa de vamos cantando. Essa foi a minha experiência de estar pessoalmente com ela, esse lugar de amor que eu tive com ela nesse dia de falar: Meu Deus, eu estou na frente da diva. Nem consegui falar para ela que cantava as músicas nela, porque na hora você entra naquele lugar de fã e parece que as palavras somem da sua cabeça. Foi um momento inenarrável na minha vida que eu guardo na memória e o único que eu consegui ter com ela presencialmente.
Veja o clique que elas tiraram juntas abaixo:
Confira uma das músicas gravadas para o tributo Gina canta Gal abaixo: